sábado, 25 de julho de 2009

"Mais algumas memórias"


Afinal, ainda não foi desta que "fechei a loja" por hoje...

Falando do 'Coop', do "Olympia", do deMille e de tudo o mais de que hoje já falei, dei comigo a recordar um outro instante "emocionalmente electivo", associado, esse, ao "Lys", onde pelos idos de '50 vi outro filme com o 'Coop' que, também esse, nunca mais esqueci (e de que adquiri, de resto, recentemente, cópia em DVD).

Chamou-se "Garden of Evil" (em português, "O Jardim do Diabo" e dirigiu-o um 'Hawks menor' chamado Henry Hathaway).

Este Hathaway tem, apesar disso, coisas muito razoáveis, sobretudo no início da carreira, embora, depois, se tenha comercializado bastante, assinando, então, outras francamente mais fáceis e perecíveis, digamos assim.

Para um adolescente como eu era quando vi o filme de que falo aqui, porém (este "Garden Of Evil" que não trará propriamente nada de novo ao "western" a não ser, no essencial, um respeitabilíssimo profissionalismo, uma "oficina" muito sóbria, digna e extremamente eficaz) representava, ainda assim, uma "coisa" invulgarmente surpreendente (e ocasionalmente arrebatadora, mesmo) onde era, sobretudo (embora, à época não tivesse naturalmente podido formular ainda uma ideia muito clara do facto) a encoberta mas imponente (furiosa mesmo---às vezes, desencantadamente desesperada, emocional e existencialmente exausta em determinados pontos...) tensão erótica estabelecida entre o par Gary Cooper/Susan Hayward definitivamente o elemento do filme que mais me haveria de marcar.

Mais tarde, recordei-me, aliás, muito insistentemente desse quase doloroso e profundamente desencantado romance entre uma pujante, fogosíssima Susan Hayward (uma ruiva 'de fogo' de que guardo outras memórias fortíssimas como, desde logo, a que se prende com o filme que fez com Robert Wise, numa altura em que este tinha ainda coisas para dizer: "I Want To Live") e um envelhecido 'Coop' vivendo, no fundo, agora, sobretudo da memória de um erotismo já residual e distante, feito quase só de centelhas fugazes fulgindo aqui e ali num rosto incrivelmente decadente, trágico e fatigado onde uma espécie de obstinada, digníssima, resignação se impunha, como emoção, já visivelmente a qualquer outra emoção ou sentimento capaz de por 'ali' passar; mais tarde, dizia, haveria de lembrar-me deste improvável, tardio e tragicamente crepuscular romance entre uma sombra (estóica e sempre admiravelmente digna, embora, repito) e uma mulher onde, pelo contrário, fulgia ainda muito do vibrante esplendor de uma maturidade 'de fogo' cinéfilo quando vi "The Misfits" de Huston e me deixei conduzir (e cativar!) pelo atormentadíssimo "romance" entre os, já (de diferentes modos) "terminais" Gable e Marilyn: um Gable que haveria, segundo julgo recordar, de morrer durante as filmagens e uma Marilyn visivelmente perdida, revoltando-se numa derradeira e desesperada tentativa de resistência perante a inevitabilidade do fim e que Huston soube como poucos trazer para o Cinema; uma Marilyn completamente trucidada pela "máquina" que fizera dela, a um tempo, um ser icónico e cultu(r)almente absoluto e uma perpétua, imensamente trágica, refém pessoal e existencial inescapável de si própria, debatendo-se, como disse, completamente em vão num esforço que se sentia quase física, quase materialmente fora do écrã, com o que era já, porém, (para quem o quisesse e soubesse ver...) dramaticamente óbvio e, sobretudo, muito dificilmente evitável ou até, provavelmente, sequer adiável...

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