Fico a saber pelo "Público" [cf. edição do dia 25.08.10, artigo "A necessidade de um candidato" de Abel Matos Santos] que não é apenas a Esquerda [a meias com a suposta esquerda] que está determinada em [mesmo sem grandes probabilidades de verdadeiro e significativo sucesso, como adiante veremos] lançar a confusão [ainda maior confusão!] na já de si confusa-que-baste sociedade portuguesa, aproveitando para isso o providencial ensejo fornecido pela próxima eleição presidencial.
À Esquerda [embora eu tenha sérias dúvidas de que rebocar, fazer rebocos, num sistema virtualmente irreparável como é aquele em que económico-política e até civilizacionalmente estamos todos, com vontade ou sem ela, situados seja posicionar-se---e agir!---realmente "à esquerda" mas, enfim, isso são lucubrações cá muito minhas, palha e lenha para acender outros fornos que não este agora aqui...]; à esquerda, dizia, já com essa reserva, temos, pelo menos, dois candidatos, um deles desde logo com o particular de estar com um pé dentro e outro fora...
Temos, depois [e não sei---o mundo dá tantas voltas que às vezesas pessoas que lá vão dentro ficam momentaneamente um bocasdo zonzas e perdem a noção do espaço...---se ainda estamos a falar de esquerda] um candidato que podia ser bom por duas ordens de razões... uma das quais poderá, porém eventualmente não o ser.
A razão boa é que o candidato em questão se apresentou ao eleitorado como alguém que não está imediatamente dependente de uma i/lógica [im?] puramente aparelhística e que até parecia, se lhe dessem [digamos assim:] "gás político", admitir poder ir adiante com o propósito de se posicionar abertamente contra elssa mesma i/lógica, em nome de alguma coisa que venho há muito defendendo e que é um projecto organizado de necessária refundação estrutural do sistema, a partir da base.
Esta era a razão boa---que, todavia, sabendo o que sei hoje e vendo ou intuindo o que já vi e intuí, não sei de todo se ainda o será.
A razão má [que até podia ser boa se soubesse tirar partido da experiência que fatalmente, de um modo ou de outro, daí há-de ter resultado] prende-se com o formalmente errático percurso político anterior do candidato em causa, que de facto, não pressagiava nada de bom.
Monárquico... "social-democratizado" com escala circunstancial no pós-maoismo e uma longa carreira humanitária que era o afinal o seu grande e verdadeiro cartão de visita cívico e [possivelmente!] político, se deixava algumas [por tudo quanto disse, perfeitamente compreensíveis] dúvidas relativamente ao lugar onde iria acabar por... "aterrar", tinha, como também disse, por outro lado, o grande [potencial] "atoût" de poder dizer que "experimentara de tudo e vira, por conseguinte, de perto, a inutilidade de tudo", lançando, a partir daí, as bases subjectivas e objectivas da tal refundação da "democracia" ou daquilo que passa ente nós hoje correntemente por tal que uns quantos como eu acham absolutamente vital e urgente levar a cabo.
A verdade é que candidato em questão a breve trecho começou a dar sinais evidentes de claro "nervosismo teórico" e seguramente "argumentativo", não se importando aparentemente de acabar por se deixar enredar nas malhas de jogos políticos subterrâneos envolvendo outros de [absurdo, para ser generoso!] poder pessoal que terão acabado, aliás, por conduzir ao esvaziamernto precoce da sua candidatura naquilo que ela poderia conter de efectivamente significante e relevante em termos sociais e políticos: a sua propalada e/ou proposta independência.
Devo dizer que a mim não me movem por uma questão de formação, de conviclção e de princípio[s] preconceitos contra as pessoas.
Acredito que um indivíduo que, digamos assim: andou "por aí" pelas direitas sociais e políticas, experimentando-as e pondo-as, deliberada ou circunmstancialmente, à prova pode perfeita e pode, sobretudo, legitimamente vir, por isso mesmo, a tornar-se num homem de esquerda convicto, consistente e acreditável.
Credível.
"Seguível", até---"seguível", até é onde digno e intelectual, moral, e/ou eticamente respeitável a um homem livre "seguir" outro ou outros.
Penso mesmo, devo com toda a franqueza dizer, que era o caso do candidato a que me refiro: para além dele; das suas hesitações, das suas tergiversações ou das suas experimentações anteriores, estava, a meu ver, a possibilidade, para mim, absolutamente fundamental, de recolocar o regime "pela ordem certa", que é como quem diz: de, de um modo muito claro, vir a desencadear as dinâmicas sociais e políticas autónomas [autónomas relativamente à dinâmica ou à a-dinâmica tópica dos partidos] capazes de conduzir à retoma e à revitalização, onde ela tinha sido brutalmente interrompida e esvaziada de conteúdo histórica, social e politicamente dinâmico, aquela que ficaria conhecida como a "via original portuguesa para o socialismo".
E que se caracterizava, em meu entender, na essência, pelo aparecimento de um conjunto de organizações de base---as comissões---de onde eu pessoalmente cheguei a acreditar que pudesse sair o interlocutor orgânico ideal do Estado e dos patidos que fosse também o elemento central dinamizador e, sobretudo significador da acção destes.
O que designei por um "significador social e político orgânico" do sistema.
Ao candidato independente que julguei poder antecipar naquele que tenho vindo a referir exigia eu que tivesse não apenas a humildade e a modéstia mas, muito em especial, a lucidez, o esclarecimento e a sensibilidade social e política bastantes para ser muito menos do que o movimento no sentido de reavivar essa lógica estrutural de organização que conseguisse desencadear.
Porque o problema da democracia em Portugal não é o de haver ou não partidos: é o do modo como eses partidos são institucional e constitucionalmene autorizados a agir no concreto.
A Itália, por exemplo, é uma demonstração, em meu entender, cabal e perfeitamente esclarecedora daquilo que digo: o país renovou, como é sabido, por completo o elenco total dos seus partidos políticos e, na prática, rigorosamente coisa alguma se alterou em resultado das sucessivas metamorfoses aparentes sofridas pelo sistema.
Pela "simples" razão de que o que é determinante no sistema partidário é que o espaço que se forma entre os "tempos" [ou "temporicidades"] da democracia---o "tempo crítico" e o "tempo "deliberacional"; entre o tempo simbólico e o tempo real, não se abra de tal modo que se verifique a jusante, isto é, na prática, uma deformação tão acentuada da lógica específica do modelo original que este pura e simplesmente acabe desfuncionando por completo.
Como tantas vezes tenho dito, a democracia pode ser sumária mas também rigorosamente descrita como o sistema em que o poder político nunca é cedido pelo conjunto da sociedade ou do grupo que originalmente o detinha aos respectivos agentes circunstanciais mas tão somente o respectivo exercício material, sendo que o poder efectivo permanece sempre onde sempre esteve, i.e. no povo, cabendo às leis assegurar que tal acontece em todos os momentos da vida do sistema assim constituido.
Por isso, tenho sempre, concretamente, defendido que um órgão absolutamente essencial da democracia---de qualquer democracia---é uma mesa ou tribunal de aferição política com poderes estatutários para proferir sentenças vinculativas onde os programas políticos dos partidos como dos indivíduos devessem ser obrigatoriamente depositados previamente a qualquer eleição, juntamente com os cálculos que conduziram às medidas constantes dos mesmos---sendo que ao tribunal em questão caberia sempre fiscalizar, desde logo, a respectiva exequibilidade técnica objectiva, devidamente demonstrada assim como, numa segunda fase, ajuizar formalmente do respectivo in/cumprimento e punir os eventuais prevaricadores.
Em qualquer caso [e o 25 de Abril apontava claramente, em última instância para aí] a dinâmica global da vida social e política tem de vir de baixo e ser mantida activa a partir da interacção permanente, institucionalmente expressa, entre a base do sistema e a respectiva cúpula operativa e/ou executiva.
Não se trata como tantas vezes malevolamente se tem afirmado ou sugerido com o propósito perverso de assustar de "sovietizar" a democracia: trata-se de fazer dela, através da recuperação em tempo tão real quanto possível, das dinamias sociais e políticas que a compõem que é uma coisa muito diferente.
Uma coisa diferente que, na realidade, com pequenos aportes à arquitectura institucional do regime não pressupõe a supressão de qualquer órgão ou dispositivo institucional deste.
De facto o que se pretende é, exactamente ao contrário que ele opere dentro do espírito que reivindica hoje para si, não o cumprindo, porém, desde logo, por falta de órgãos adequados para tanto, como aquela "mesa" de que há pouco falava ou a possibilidade de ela emitir sentenças penalizando os agentes faltosos com recurso à figura jurídica e política da responsabilidade não apenas colectiva mas cumulativamente pessoal dos seus membros.
Ora, era todo este processo de "basificação estratégica" ou de "re-basificação organizada" mas, sobretudo, orgânica da sociedade portuguesa e de saneamento da respectiva democracia que eu acreditava que pudesse vir a ser desencadeado a partir da idea de uma candidatura efectivamente independente, ou seja, de uma que não viesse a terreiro animada [como acontece com as candidaturas, de um modo ou de outro, oficiais ou sistémicas] do projecto implícito de reconfirmação [e, por conseguinte, de relegitimização, tácita ou expressa] da ordem existente no que esta tem de des/estruturalmente dissociacional [e, portanto, objectivamente alienado!] entre a teoria e a respectiva prática.
Comecei por dizer que a direita parece ter ficado invejosa dos aperutes ecvidenciados pela Esquerda para se dividar, descentrar e, no limite, suicidar social e politicamente.
A verdade, porém, é que a direita em Portugal não está dividida: há, claro, uma direita ultramontana e ratona, uma... "ala catatónica" que esbraceja para ser vista mas é folclore dentro do conjunto da direita social e política.
Fala aquela "ala" da "necessidade de um candidato" que é, lembro, o título do texto que cito no parágrafo inicial destas notas.
Pode haver alguma confusão excrescencial lançada por ela quando vem tentar pegar nos sectores politica mas não religiosamente mais neutrais da sociedade que ela afirma vir propor-se representar.
A verdade, porém, é não me parece que que o discurso desta direita ultramontana e radical [que é a expressão politiforme do 'contra-reformismo social e mental vaticano' de hoje, da "teologia da sujeição" que busca exaustivamente encontrar a pedra filosofal de uma "racionalização sistemática do irracional" defendida pelo actual papa, um suposto intelectual que sonha com uma "não-ciência" ou mesmo uma "insciência científica" em si mesma muito dificilmente ajustada e ajustável aos tempos que correm mas ainda assim teimosamente dia-a-diatentadas]; a verdade, porém, dizia, é que não me parece que o discurso ou o logos em causa colha qualquer atenção significativa, mesmo num país sob inúmeros aspectos atrasado e "mentalmente rural" como Portugal.
É mais um motivo de confusão, é verdade: a verdadeira confusão, porém, como digo, está quase toda ela situada dentro da Esquerda.
Da Esquerda social que é o país quase todo, aceleradamente reproletarizado e, em seguida, desproletarizado por efeito de um sistema económico-político que, muito mais do que um verdadeiro sistema é hoje-por-hoje, sobretudo um "clube privado" como da Esquerda política, completamente incapaz de perceber esta fenomenologia sistémica e de conferir-lhe expressão operativa dando àquela fenomenologia resposta adequada---sendo que o que parecia uma possibilidade promissora, a emergência de um candidato independente, parece ter-se, afinal, esfumado, levando consigo para já as esperanças e as expectativas daqueles poucos que, em Portugal, ainda pensam e ainda conseguem ver para além do circo dos partidos e da algarviada dos partidários...
[Na imagem: "The Mountbank", gravura extraída com a devida vénia de "Daily Speculations" the website of Victor Niederhoffer & Laurel Kenner.
Para "the mountbank", ver a explicação fornecida pelos titulares:
Here's an English tourist's description, published in 1776, of St. Marks Square in Venice, which served as a center of the charlatan world thanks to the toleration of the local authorities: "The word “mountebank” comes from the practice of these sellers to mount benches fastened together as a makeshift stage.
These Mountebanks at one end of their stage place their trunke, which is replenished with a world of new-fangled trumperies […] the principal Mountebanke opens his trunk and sets abroad his wares, [then] makes an oration to the audience of almost an hour.
Wherein he doth most hyberbolically extol the virtue of his drugs and confections […] though many of them are very counterfeit and false.
They would give their tales with such admirable volubility and plausible grace that they did often strike great admiration into strangers that never heard them before.
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