sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Aforismos sobre a Natureza Possível do Real---a Partir da Consideração dos Trabalhos de Investigação do Professor António Damásio"


Do meu [muito discutível, concedo!] ponto-de-vista pessoal, a importância dos trabalhos do tipo daquesles a que o professor Damásio associou de forma indisssolúvel o seu nome, prende-se, acima de tudo, com a possibilidade de consolidar experientalmente e converter em hipótese cientificamente credível de saber estável, todo um conjunto de hipóteses ou 'educadas intuições' teóricas, de cariz abstractamente filosófico, que resultam, basicamente, no que que me diz respeito, a mim, pessoalmente, da tentativa de organização mais ou menos apriorística de todo um vasto conjunto de dados de natureza empírica, resultantes da observação cuidada embora, repito, apenas intuitiva [ou "intuicional"] da realidade em redor.

Sempre acreditei, por exemplo, que

a] o processo filobiológico de individuação possui duas características particulares distintivas:

1. é um processo in/essencialmente funcionante inventado pela natureza [de facto, pela matéria de que toda ela é feita e que toda ela, em última instância, é] para gerir a deformação expansional característica da realidade e que

2. se trata, na verdade, "en fin de partie" de uma prova teórica de que a realidade não só se deforma continuamente como se adapta de igual modo continuamente às deformações particulares que a des.integração de que é feita nela vai ininterruptamente introduzindo;

b] a realidade, enquanto efeito, no fundo, apenas aparente ou aparencial resultante da [auto] construção/des-construção da matéria, possui uma lei e/ou uma propriedade básicas, resultantes, por sua vez, por abstractização/discentração natural do modo sequencial/expansional/dissipacional 'puro' como a matéria se "arruma" continuamente no interior de si própria ao dissipar-se---lei ou propriedade essa que é o que, à falta de mais adequada [e já consagrada] qualificação designo pel "a propriedade continuacional básica ínsita da matéria";

c) num certo sentido, toda esta possui, com efeito, uma in/essência e um fundamento que é "esser" continuamente 'par rapport a' si mesma, de modo que deslocando-se para um futuro inteiramente aparencial, situado de modo apenas virtual, como hoje diríamos, à sua frente, roda, a realidade como todo ou como 'objecto', de facto, no sentido exactamente inverso, caminhando, de algum modo teórico provável, [eu, pessoalmente, uso aqui o termo "tético"] para si mesma e para o respectivo passado que é, na ralidade, o seu verdadeiro futuro;

d] a desmultiplicação individuacional resulta precisamente deste esforço global aparentemente paradóxico da matéria para manter-se íntegra ao longo do continuum da sua própria des-integração, tentando sempre re-fazer-se ou re-começar em cada unidade significada funcionante [em cada "anisotropia"] que vai continuamente a partir de si gerando;

e] A causalidade consiste na mudança de estado, isto é, na passagem ao estado gasoso, possível pela «emergência funcionante» da "consciência" [a começar pelas formas básicas de consciência molecular primária] da própria deslocação física do real a partir do momento em que se torna continuacionalmente especular precisamente na "cionsciência" e começa, não apenas a gerar ou a prododuzir imagens secundárias de si mas a usá-las angular ou verticialmente para "esser";

f] com toda a "máquina do real" em movimento contraditório [formado de um futuro verdadeiro suituado atrás de si e de um passado de descarga em frente---é assim que eu vejo, de facto, o que cvhamamos abstractamente 'o Tempo']; com toda a "máquina do real", dizia recomeçando continuamente ou reintegrando-se contínua [ainda que cada vez mais remota ou mais discentralmente] em si mesma, as partículas funcionantes autónomas geradas, à medida que, por efeito da própria dissipação global da realidade, se afastam do centro determinacional intrinseca ou essencialmente físico, repito, desta são forçadas a adquirir "espessura funcionante autónoma" e, a partr de um dado "momento continuacional teórico, dotam-se a si mesmas de uma "consciência", como disse;

g] Como também disse, as formas originais desta possuem natureza atómica ou molecular e só, posteriormente, se des-integram elas próprias numa condição ou estado dual integrando uma percepção ou consciência especular de si, como sucede nas formas ditas superiores;

h] a "consciência" possui, pois, uma origem e um fundamento, uma "explicação", basicamente funcionantes correspondentes à secundarização estatibilizada dos modos de "acompanhar" ou de "seguir o real", alocados às unidades, i.e. aos "grãos ônticos" ou "granulicidade ôntica secundária" de que aquele, a dado passo, passa a compor-se: pelos quais ou pela qual passa ulteriormente a ser constituido;

i] a minha hipótese pessoal, envolvendo a matéria de estudo do professor Damásio, concernendo, por seu turno, a relação estável e funcionante [primariamente funcional] entre "razão" e "afeccionalidade" é que esta [o que chamamos as emoções e os sentimentos] surgem, neste 'quadro funcionante' global ligado à própria forma básica, ínsita, do real, como um cimento de individualicidade, por um lado e um estímulo significado à funcionalicidade contínua da matéria induividuada, por outro---todo um conjunto organizado ou organizável de causas imediatas que acabam por tornar a «identidade» uma exigência natural e, portanto, uma inevitabilidade decorrencial ela mesma natural, previsível, de todo o processo;

j] é neste quadro que as emoções e os sentimentos [que, como ainda há pouco lia, num artigo de divulgação levada a cabo por Frenna Kiennen, em Harvard não por acaso possuem expressão genética e anatómica-funcional demostrável---lá está a importância dos tais estudos envolvendo a quantificação e a qualificação laboratorial destas hipóteses a que inevitavelmente associamos o nome do professor Damásio!]; é neste quadro, dizia, que emocionalidade e afeccionalidade começam a operar e a "justificar funcionantemente" a sua própria "invenção" pela matéria] conservando em geral íntegra a gravidade egótica através do expediente hábil de concentrá-la toda num mesmo 'lugar infísico' que é, então, a «identidade»;

k] a identidade supõe [e usa!] formas abstractas e secundárias de Tempo que ela opõe ao não-tempo real, criando, assim, no conjunto composto pela realidade e pelas suas imagens teorizadas ou abstractizadas, uma 'perturbação estável' tópica, de natureza in/essencialmente contraditória, que é 'pensar;

l] que é o pensar e que é, na sequência, deste o conhecer que, devo dizer, prefiro, por imperativo de rigor terminológico e conceptivo designar pelo neologismo "cognicionar";

m] para mim, uma prova teórica de que o geral conflui para io particular e que ambos se cruzam não só estável como, sobretudo, significadamente nas individuações e nos indivíduos é-nos, agora, dado pela referida investigadora de Harvard Fenna Kriennen quando, segundo a notícia que tive ocasião de ler, conclui que o cérebro humano produz sinais de natureza globalmente similar [a notícia não é, por razões óbvias ligadas à sua natureza jornalística, muito clara] quando "pensamos", diz o jornal, nos amigos e em nós pr+oprios, 'par rapport' aos que produzimios quando o fazemos relativamente a estranhos;

n] para mim, com efeito, o problema de virtudes" humanas como a solidarieade ou até a mizade nunca se pôs verdadeiramente em termos da sua génese possível.

o] Trata-se, a meu ver, em tese, de desfuncionações de informação originalmente funcional ligada à sobrevivência que perdeu centro ou que se perdeu do centro [daí o neologismo que frequentemente utilizo de "discentração"] mas que possui, através desse processo de seriar o real segundo espécies organizadas e autonomamente genetizadas, o interesse específico, do ponto de vista do conhecimento que pretendamos ter de nós próprios como expressão significada da matéria, de apontar para esse ponto teórico de cruzamento onde o real se prossegue individuando-se projerctando-se sobre os fragmentos funcionantes em que se des-integra e em tese re-integra ou re-nucleia;

p] de facto, do ponto de vista da própria estrutura causante primária que lhe subjaz, a "solidariedade" [como a "amizade", por exemplo---e o facto pode agora ser "visto" e "medido" em laboratório] são produzidos pela natureza como extensões ou "extensionalidades funcionantes originais" do indivíduo---do Eu, a partir de um dado 'instante composicional' de todo o processo---sendo apenas a posteriori des/percebidos pela "consciência" que, como se sabe recomeça em si o real introduzindo na sua recomposição contínua imagens puramente teóricas deste e até de si mesma, como entidades autónomas que, na origem dinâmica, não são;

o] na realidade, não há solidariedade e o facto de nos parecer, por vezes, vê-la diz-nos muito sobre o modo como a "consciência" auto-representa o real, retirando-o do seu contexto próprio e reprejectando-o em seguida, primeiro funcional, depois, funcionante e, por fim, significadamente segundo um tempo ou uma temporicidade próprios sobre ele ou nele;

p] sem o combustível da afeccionalidade [é a minha tese, pelo menos] a individuação não se autonomizaria o suficiente do estado ou estádio anteriores do processo;

q] na realidade, ela---o processo que à sua emergência conduz---vem impelido de trás [como atrás digo: do futuro natural da realidade ou, pelo menos, da matéria que a substancia] pela própria dissipacionalidade da matéria que é o único e verdadeiro fundamento do real.

Sem comentários: