Uma jóia musical e cultural com que o canal ARTE [quem é que havia de ser?! A TVI, não?...] nos quis brindar ainda recentemente e que, além de Brecht e Weil, nos traz a magia, hoje apenas adivinhável, do velho cabaret berlinense; da Alemanha de Wedekind ["Lulu"] de Pabst ["Aurora"] e do 'primeiro' Lang ["M..."]; de Murnau e do seu tão simbólico "Der Letzte Mann"; de Hitler e do nazismo mas também de Rosa Luxemburgo e de Thälmann; de Trakl, de Kafka; de Käte Köllwitz e de Grozs, do "Katakombe" e do seu boémio fundador, o pré-Lenny Bruce, Werner Fink; do "Tingel-Tangel", o "Piano Mecânico" [onde Marlene cantou as míticas canções d' "O Anjo Azul", de von Sternberg]; de "Sally Bowles", de Isherwood e de Reinhardt; uma cidade que era, como alguém dizia, "a cidade da miséria e da incerteza, mas também do prazer e da elegância"; um borbulhante cadinho da História moderna de que as canções que Raabe aqui nos vem oferecer oferecem um hipnótico e fascinante flash, um fugacíssimo e emocionado/emocionante olhar sobre um mundo agonizando convulsivamente entre cataclismos e apocalípticos fins de História; um mundo, hoje-por-hoje, completamente afundado no interior de um Tempo cultu[r]al, mental e até político---um "universo civilizacional"---que hoje apenas podemos reconstituir [que somos livres de reconstituir---"reconstruct", como se diz esclarecedoramente nos inquéritos policiais?...] ao sabor não apenas da educada e crítica imaginação dos cientistas historiadores que a maioria de nós não é mas, de igual modo, no caso dos leigos que somos, com efeito, a maioria, com uma deslumbrada curiosidade e uma fascinada atenção, voando, uma e outra, citando um título conhecido de Wenders---o excitante Wenders dos primeiros tempos!---no fundo, completamente livres, nas "asas do desejo"...
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