Regresso aqui, indirectamente embora, ao «tema Nato» [aos tais 200 milhões que custará o escudo anti-não-sei-quê que é suposto proteger-"nos" da ameaça de ninguém-sabe-muito-bem-quem-ou-o-quê-mas-com-o-tempo-alguma-coisa-se-há-de-arranjar...] para sublinhar dois aspectos ligados a toda esta questão do chamado "investimento público" que me preocupa especialmente.
Primeiro aspecto: num universo civilizacional "inversional" não surpreende que tudo, no fundo, se passse como num mundo "ao espelho" de Alice...
Primeiro aspecto: num universo civilizacional "inversional" não surpreende que tudo, no fundo, se passse como num mundo "ao espelho" de Alice...
A coberto da teoria suposta dinamização neo-keynesiana da economia, gerou-se já no interior dos mecanismos que regulam esta, nos paises capitalistas, uma dinâmica muito própria em que, parodiando a velha máxima existencialista que diz que a "existência precede a essência" do real, o "investimento" precede sempre [e não-raro, por isso mesmo, em resultado precisamente dessa... "precipitação assistémica" do modelo, substitui!] a respectiva utilidade não apenas social mas inclusivamente económica.
Um bom-mau exemplo dá-no-lo, desde logo, a "rede" de auto-estradas portuguesas---muitas delas completamente inúteis e onerando absurdamente o Estado que se disponibilizou, como se sabe, ainda por cima para lhes cobrir os défices estruturais de não/utilização, devido exactamente ao modo completamente disfuncional como foram concebidas, primeiro com o objectivo mais ou menos evidente de dar negócios a grupos ligados ao poder---ilustrando na "perfeição", o papel de "almocreve" ou "broker" de negócios privados atribuído pós-modernamente ao Estado e em segundo lugar, porque completamente desintegradas de um inexistente quadro de planificação minimamente estruturado e ainda menos orgânico do território nacional.
Falei das auto-estradas---uma das "coroas" de muito discutível "glória" do bronco neo-fontismo cavaquista dos anos '80 e '90---mas podia falar de pontes [designadamente da Vasco da Gama que ia "descongestionar" a 25 de Abril e acabou em dispendiosíssima... pista de corridas ilegais nocturnas] ou até estádios de futebol...
Na sua cega obsessão neo-liberalizadora, o sistema, seja enquanto gerido "socialmente" pela sua ala "pê-ésse" seja conduzido a "todo o seu liberal vapor" pela versão "hard core" dita "social-democrata", manifestou sempre um absurdo horror à planificação do próprio modelo ou modelos [?] de "desenvolvimento [??] deixando-o por inteiro entregue às iniciativas avulsas, completamente inorgânicas e desestruturais, das clientelas privadas dos partidos que o foram compondo daí resultando a consolidação de um país cronicamente desequlibrado, de facto, meramente "pretextual", onde muito pouco parece realmente fazer sentido orgânico, estrutural---a começar por uma parte significativa de si próprio: o seu martirizado "hinterland" completamente sacrificado aos novos paradigmas desenvolvimentistas, assentes no abandono rural generalizado e, por conseguinte, na desactivação consistente da máquina produtiva agrícola, politicamente neutralizada e imolada aos mercados dominantes [espanhol, francês] dessa grande empresa multinacional que é a chamada "União Europeia".
Reintegrar a economia; devolvê-la à sua condição natural e "ecológica" de "variável possibilitante" devolvendo à Política o lugar central, de "constante determinacional" no interior do sistema---eis, como tantas vezes tenho repetido, a chave da revolução ptolomaica a conduzir pela Esquerda [onde quer que ela se encontre hoje, o que não é claro...].
Fazer, numa palavra, com que a utilidade das coisas [económicas mas não só] as preceda e não funcione como uma espécie de intruso funcionante ou elusivo fantasma monstruosamente transmutado, por [in?] acção de um modelo absurdo de relacionalidade dinâmica e dialéctica entre a Economia e a Política, de solução em... problema.
Há, com efeito, uma espécie de disparatada "metafísica" e até uma possível "ontologia" do paradigma económico manifestada nessa necessidade... filosófica tantas vezes sentida no interior do sistema ou do modelo, de encontrar uma razão de ser funcional para as coisas [estradas, pontes, fundações...] que, no seu interior, "alguém", com o beneplácito irresponsável do Estado, foi... amontoando, um pouco por toda a parte...
O tal "escudo" anti-não-sei-quantos é apenas um entre esses objectos-cogumelo que a i/lógica inversional do sistema fez nascer no interior dele...
O segundo aspecto prende-se, ainda e sempre, com essa natureza inversional e tem que ver com o modo como o sistema se alimenta.
Eu sempre disse que, no plano do respectivo revestimento politiforme---a tal "democracia funcional" de que com frerquência aqui venho falando---essa naturweza inversional se manifesta no princípio subjacente às eleições que diz que "mais do que eleger um modelo económico e político para a sociedade em geral o que está ali, de factom, em causa é eleger uma sociedade para o modelo económico-político, que já vem [como dizer?] "prontinho de casa" e apenas disponível para ser "politicamente demonstrado" ao ser a esse nível ciclicamente reconfirmado.
Ao ser "eleita" para "ilustrar", concretizando-o pontualmente, o modelo, à sociedade é adicionalmente de forma tácita exigido que o "compre".
De duas maneiras: funcionando no imediato, de modo directo, como mercado mas também num outro plano que envolve os dinheiro de todos na forma de impostos sustentando, custeando, em toda a sua 'extensão operativa' esse mesmo mercado, onde ele apresentar sinais de debilidade ou mesmo ruptura.
É por isso que eu não considero que, do ponto de vista do funcionamento global normal do sistema, seja algo de excepcional que aos dinheiros públicos seja exigido que custeiem, não apenas os delírios anti-míssil [a "folie des grandeurs" tecnológica sempre potencial oui realmente destrutiva] de uma NATO cujo papel histórico corresponde, na realidade, a um "aggiornamento funcional" da velha teoria clausewitzeana de utilizar a guerra---ou, acrescentaria eu, nos nossos 'civilizados' dias sobretudo (embora, não só...) as formas de contenção e estase geopolíticas, as modalidades de "paz induzida" que da ameaça de uso da força resultam---como pressuposto primário de expansão e dominação económico-financeiras "significadas", digamos assim.
Não é excepcional isso do mesmo modo que o não são circunstâncias como aquela que ainda recentemente empurrou uma, até há bem pouco, "exemplar" Irlanda para o precipício econonómico-financeiro estrutural em resultado de a forma de "compra" do sistema pela sociedade em geral ter sido levada ao extremo de incluir o resgate imediato de bancos inteiros com somas que arruinaram a própria sociedade deles [e do modelo de economicização extremamente perverso, socialmente arrasador, porque completamente vazio e improdutivo] vítima.
Um bom-mau exemplo dá-no-lo, desde logo, a "rede" de auto-estradas portuguesas---muitas delas completamente inúteis e onerando absurdamente o Estado que se disponibilizou, como se sabe, ainda por cima para lhes cobrir os défices estruturais de não/utilização, devido exactamente ao modo completamente disfuncional como foram concebidas, primeiro com o objectivo mais ou menos evidente de dar negócios a grupos ligados ao poder---ilustrando na "perfeição", o papel de "almocreve" ou "broker" de negócios privados atribuído pós-modernamente ao Estado e em segundo lugar, porque completamente desintegradas de um inexistente quadro de planificação minimamente estruturado e ainda menos orgânico do território nacional.
Falei das auto-estradas---uma das "coroas" de muito discutível "glória" do bronco neo-fontismo cavaquista dos anos '80 e '90---mas podia falar de pontes [designadamente da Vasco da Gama que ia "descongestionar" a 25 de Abril e acabou em dispendiosíssima... pista de corridas ilegais nocturnas] ou até estádios de futebol...
Na sua cega obsessão neo-liberalizadora, o sistema, seja enquanto gerido "socialmente" pela sua ala "pê-ésse" seja conduzido a "todo o seu liberal vapor" pela versão "hard core" dita "social-democrata", manifestou sempre um absurdo horror à planificação do próprio modelo ou modelos [?] de "desenvolvimento [??] deixando-o por inteiro entregue às iniciativas avulsas, completamente inorgânicas e desestruturais, das clientelas privadas dos partidos que o foram compondo daí resultando a consolidação de um país cronicamente desequlibrado, de facto, meramente "pretextual", onde muito pouco parece realmente fazer sentido orgânico, estrutural---a começar por uma parte significativa de si próprio: o seu martirizado "hinterland" completamente sacrificado aos novos paradigmas desenvolvimentistas, assentes no abandono rural generalizado e, por conseguinte, na desactivação consistente da máquina produtiva agrícola, politicamente neutralizada e imolada aos mercados dominantes [espanhol, francês] dessa grande empresa multinacional que é a chamada "União Europeia".
Reintegrar a economia; devolvê-la à sua condição natural e "ecológica" de "variável possibilitante" devolvendo à Política o lugar central, de "constante determinacional" no interior do sistema---eis, como tantas vezes tenho repetido, a chave da revolução ptolomaica a conduzir pela Esquerda [onde quer que ela se encontre hoje, o que não é claro...].
Fazer, numa palavra, com que a utilidade das coisas [económicas mas não só] as preceda e não funcione como uma espécie de intruso funcionante ou elusivo fantasma monstruosamente transmutado, por [in?] acção de um modelo absurdo de relacionalidade dinâmica e dialéctica entre a Economia e a Política, de solução em... problema.
Há, com efeito, uma espécie de disparatada "metafísica" e até uma possível "ontologia" do paradigma económico manifestada nessa necessidade... filosófica tantas vezes sentida no interior do sistema ou do modelo, de encontrar uma razão de ser funcional para as coisas [estradas, pontes, fundações...] que, no seu interior, "alguém", com o beneplácito irresponsável do Estado, foi... amontoando, um pouco por toda a parte...
O tal "escudo" anti-não-sei-quantos é apenas um entre esses objectos-cogumelo que a i/lógica inversional do sistema fez nascer no interior dele...
O segundo aspecto prende-se, ainda e sempre, com essa natureza inversional e tem que ver com o modo como o sistema se alimenta.
Eu sempre disse que, no plano do respectivo revestimento politiforme---a tal "democracia funcional" de que com frerquência aqui venho falando---essa naturweza inversional se manifesta no princípio subjacente às eleições que diz que "mais do que eleger um modelo económico e político para a sociedade em geral o que está ali, de factom, em causa é eleger uma sociedade para o modelo económico-político, que já vem [como dizer?] "prontinho de casa" e apenas disponível para ser "politicamente demonstrado" ao ser a esse nível ciclicamente reconfirmado.
Ao ser "eleita" para "ilustrar", concretizando-o pontualmente, o modelo, à sociedade é adicionalmente de forma tácita exigido que o "compre".
De duas maneiras: funcionando no imediato, de modo directo, como mercado mas também num outro plano que envolve os dinheiro de todos na forma de impostos sustentando, custeando, em toda a sua 'extensão operativa' esse mesmo mercado, onde ele apresentar sinais de debilidade ou mesmo ruptura.
É por isso que eu não considero que, do ponto de vista do funcionamento global normal do sistema, seja algo de excepcional que aos dinheiros públicos seja exigido que custeiem, não apenas os delírios anti-míssil [a "folie des grandeurs" tecnológica sempre potencial oui realmente destrutiva] de uma NATO cujo papel histórico corresponde, na realidade, a um "aggiornamento funcional" da velha teoria clausewitzeana de utilizar a guerra---ou, acrescentaria eu, nos nossos 'civilizados' dias sobretudo (embora, não só...) as formas de contenção e estase geopolíticas, as modalidades de "paz induzida" que da ameaça de uso da força resultam---como pressuposto primário de expansão e dominação económico-financeiras "significadas", digamos assim.
Não é excepcional isso do mesmo modo que o não são circunstâncias como aquela que ainda recentemente empurrou uma, até há bem pouco, "exemplar" Irlanda para o precipício econonómico-financeiro estrutural em resultado de a forma de "compra" do sistema pela sociedade em geral ter sido levada ao extremo de incluir o resgate imediato de bancos inteiros com somas que arruinaram a própria sociedade deles [e do modelo de economicização extremamente perverso, socialmente arrasador, porque completamente vazio e improdutivo] vítima.
[Imagem ilustrativa: "To a God Unknown", colagem sobre papel impresso de Carlos Machado Acabado]
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