quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Do Marketing em Política Ao Marketing Como Política" [Incompl./por rever]


Nem de propósito, 24 horas apenas após a redacção da entrada imediatamente abaixo, o "Diário de Notícias" publicava um texto de Stephanie Babst [Cf. "A NATO não precisa de uma marca mas de um apoio contínuo do público" in "Diário de Notícias" de 18.08.10] onde a autora, adjunta do secretário-geral da organização, discorre amplamente sobre a necessidade de "vender" esta última às populações dos países que a compõem.

E comecei por dizer "nem de propósito" porque a simples leitura, mesmo apressada, do texto de Babst, põe mais uma vez em relevo a importância verdadeiramente crucial que possui hoje o "marketing" na implementação e consolidação das políticas dos Estados assim como na radicação material, concreta, das próprias instituições dos mesmos.

Dito de outro modo [e isto é que é verdadeiramente signigficativo e são as implicações e decorrências disto que é vital que percebamos, hoje mais do que nunca] como é, afinal, mais ou menos confessadamente, muito mais através desse mesmo "marketing" do que propriamente pelo debate exaustivo, sério, verdadeiramente participado e realmente aberto, que as primeiras, as políticas, antecipadamente definidas nas cúpulas dos aparelhos políticos dos Estados e das alianças entre elas constituídas, são levadas à prática e as segundas acham o seu caminho estável e característico para a arquitectura institucional das nações.

Bastava, aliás, considerar o modo como a ideia ou o modelo de uma "Europa" nos foram, a todos nós, cidadãos e sociedades dos países por ela abrangidos e nela incluídos, "vendidas" para perceber como hoje, comprovando a nossa tese já aqui por diversas vezes expendida e demonstrada, de que existe uma tara inversional nuncear nas sociedades "demoformais" do Ocidente de hoje consistindo basicamente na inversão radical do papel da economia e da política na estrutura tessitária daquelas sociedades.

Aquilo a que chamamos Política [e políticas] com efeito, não passa, hoje-por-hoje, na realidade, de, como tantas vezes tenho dito, um mero "revestimento politiforme" insubstantivo e móvel, destinado, não a responder sem pré-juízos e pré-condições artificial e/ou significadamente impostas na prática às pessoas e às sociedades por elas formadas, mas a responder, sim à necessidade apócrifa de legitimar formalmente [cá aparece outra vez a tal ideia de "marketing"!] uma infra-estrutura económico-financeira que se pretende inalterável e inalterada.

É a ideia da "politica ancilla economiae" que visa, na prática, amarrar a Política não apenas à ecomomia---a um determinado modelo económico-financeiro muito preciso e determinando relações de produição quer "devem" conservar-se imóveis---como seu instrumento de "legitimação" mas à própria História, impedindo esta de crescer e de 'deslocar-se' livremente em si mesma, como seria natural se tudo se passasse, também naturalmente, ao contrário.

Isto é, se tivéssemos uma "economia ancillae politicae" e à política estivesse reservado o papel natural de conduzir incondicionadamente a economia até às pessoas sempre de acordo com as necessidades específicas e também legítimas destas e das sociedades por elas formadas.

Por outras palavras ainda: se não houvesse uma falsa [porque espuriamente dependente] 'política' funcionando como instrumento de implementação mas, também, de [lá voltamos nós ao mesmo!] "marketing" de uma economia cujo papel ou função histórica real é [re] produzir apenas e somente capital.

E é porque se trata de produzir capital e de produzi-lo nas exactas condições em que ele é produzido e socialmente redistribuído [sendo que a feitura de produtos, por exemplo, representa, na realidade, só o meio e a pretextuação de que todo o sistema assim formado se serve para produzir esse mesmo capital] que as políticas "têm de ser" sempre "indexadas" a esse propósito real e final, entrando na sociedade vindas [como dizer?] "de cima" e não resultando de facto da expressão incondicionada da vontade autónoma das sociedades.

Ora, a função da aparelhagem "demoformal" é exactamente criar a ilusão de que o que se passa é o inverso do que acabo de referir e que a sociedade histórica, social, económica e política está "na ordem certa" quando, de facto, não está.

Está ao contrário.

Está invertido o papel determinante dos elementos estruturais que a conmpõem, como vimos.

O "marketing" político nas suas várias formas [Babst enuncia apenas uma] não se limita, pois, às que se tornam imediatamente reconhecíveis.

De facto, toda a política "secundariamente legitimadora" do sistema eleitoral nas sociedades ocidentais de hoje é, naquele sentido formal e muito supostamente legitimador, puro [ou impuro] "marketing" na medida em que visa criar nas sociedades onde as decisões em matéria de estrutura básica do modelo ou sistema se encontram há muito tomadas, a ilusão que foram elas, sociedades, quem livremente escolheu um conjunto de relações de produção que estão há muito decididas e definidas no vértice activo, realmente determinante, do sistema que, como disse, nem sequer é político ou está na política.

Há, pois, nas sociedades ocidentais demoformais de hoje de facto dois níveis de markering político: um é, como acabo de dizer, estrutural, nuclear: encontra-se no próprio centro ou cerne dos mecanismos decisionais; o outro, acha-se mais à superfície e é aquele que Babst refere---o único que o sistema reconhece porque reconhecer o outro seria denunciar a falácia demoformal no seu todo ou na sua in/essência---quando diz, por exemplo a propósito da organização de cujo secretário-geral é adjunta: "A NATO fez um longo caminho para uma nova abordagem das políticas de comunicação. Melhorámos os esforços para entender as percepções do público e os estereótipos. Analisámos os motivos. Começámos a fazer as nossas próprias sondagens. Estamos a fazer um esforço especial para chegar às novas gerações, através de redes de estudantes, de cursos de Verão, de bolsas, organizando seminários e workshops".

E acrescenta:

Fizemos uma revisão das nossas capacidades tecnológicas. A sede, em Bruxelas, organiza discussões online sobre o novo conceito estratégico da NATO, sobre o Afeganistão e ainda outros assuntos. No que toca ao uso de novas ferramentas, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, leva grande avanço. Ele gere as suas páginas no Facebook e no Twitter e responde às questões e aos comentários no "Canto do Secretário-Geral"".

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O propósito essencial deste artigo é remeter o leitor para a comparação da enorme sofisticação destes mecanismos de subtil direccionação e fortíssimo condicionamento a posteriori da opinião com quanto dissemos na entrada anterior sobre a necessidade urgente de revisão integral das políticas de comunicação da Esquerda, hoje-por-hoje, ainda na pré-história de toda esta especialização, mobilização de meios e requinte... laboratorial e institucional.


[Imagem extraída com a devida vénia de TakeOverWorld-dot-com]

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