segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Espólio" [Texto em construção]


Conheço bem o som da sombra
levedando
a árvore aberta do vento
vagueando
a velocidade de cada nome
tecendo vigílias
vigiando
a cólera do tempo
levantando a arquitectura empalidecida da tristeza
num único e poderoso remoínho de
espáduas e de
espantos
incubando

a artéria espessa da luz fremindo de beleza
e altitude
a língua pensando
bombeando a sua própria incocência
para a cabeça que estremece de sombra
e de memórias
molhando de branco e azul a tarde inteira que
quer ser jardim ou canteiro
e clama também a sua inocência

pouco mais

a península da desordem
gritando a ave lépida da infecundidade respondendo
a sombra como uma lepra massacrado continuamente a tarde
e o próprio sal girando na água onde lhe nascem os silvos
a matemática dos vícios
e o vento como uma espuma que sangrasse o seu próprio movimento
bastando à tarde para construir toda a ficção de uma existência
onde habitassem gnomos e vogais adormecidas
o soro ácido da luz
sublevada
rebentando contra a ópera cómica da criação velha rameira furiosamente engalanada


[Na imagem, tela de Francis Bacon]

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