Dirão alguns que é uma questão menor perante um país geográfico, económico e ambiental que vê desfazer-se em cinza a cada dia que passa parte crescente e significativa---mais já do que "apenas" crescente e significativa: alarmante!---do seu território e um Portugal político apanhado desamparado por uma "crise" global, encalhado entre uma direita "social" no poder, pródiga em escândalos, inépcias e cumplicidades [senão pior...] de toda a espécie com baixezas e "casos" sucessivos, manifestamente incapaz de superar a barreira a si mesma imposta pela desoladora mediocridade e falta de dimensão intelectual, técnica e política da maior parte dos seus membros no governo e uma direita [ainda mais...] "liberal", pomposa, cruel e tonta que espreita, ávida, o instante do inevitável esgotamento final da anterior; dirão alguns, então, que, perante isto, soa quase a heresia apontar meros erros "de gramática" no discurso dos jornalistas.
Para mais daquele que é seguramente, com todas limitações de independência intelectual e política que inevitável e também demonstravelmente lhe advêm das suas ligações estruturais ao universo da alta finança através da respectiva pertença a um grupo económico conhecido e poderoso, a SONAE; para mais, dizia, nos daquele que é mau grado isso o único jornal verdadeiramente interessante e realmente importante em Portugal, hoje: o "Público".
Pessoalmente, reconhecendo embora, a disparidade de relevâncias entre tudo quanto atrás digo sobre a situação administrativa, ambiental e política do Portugal de hoje e os erros em causa, entendo que não se pode ainda assim desvalorizar aquilo que no discurso de muitos jornalistas, sdobretudo jovens, de hoje reflecte a persistente má qualidade do ensino em Portugal e é, inclusive, um sinal, um sintoma, uma marca multiplicadora do mesmo---algo que a democracia formal, sempre entregue a "pê-ésses" e "pê-pê-dês" de discutível qualidade pedagógica nunca se mostrou já nem digo capaz mas até simplesmente disposta a tentar atalhar.
É dessa perspectiva sintomática e tópica que trago hoje aqui dois "casos" extraídos ao acasdo da leitura da edição de hoje do jornal de Belmiro de Azevedo.
Um deles, configura uma repetição por outra mão de erro anterior que cito noutro ponto deste "Diário" e que me parece especialmente relevante porque reflecte, de forma clara, um modelo global de ensino, uma Pedagogia e uma Didáctica, insubstantivamente funcionais e orais ou oralizadas [no caso das línguas estrangeiras vivas, sobretudo, fortemente visualizadas] e, por conseguinte, pouco lidas e pensadas [reflexas muito mais do que orgânicas e reflexivas].
A falta de leitura, de leitura individual, pensada envolvendo um padrão consistente de apreensão de conteúdos, imediatos ou mediatos, obedecendo a um tempo [e, de um modo global, a todo um paradigma] cognicional próprio, de inteira e consciente gestão por parte do sujeito de cognicionalidade como tal---como verdadeiro sujeito e não mero... "objeito" das suas próprias práticas cognicionais] marca, aliás, em tese [juntamente com uma valoração verdadeiramente obsessiva e extensiva do lúdico] o modelo de estudo de todo o curriculo escolar básico e médio em Portugal, de há muito para cá.
De um "muito" que vai, de resto, para além da fronteira que foi o "ano charneira" de 1974, entenda-se...
Bom e posto isto, falemos, então, dos tais erros, a começar por este onde, contendo eu, a falta de leitura é evidente e explica em tese só por si o próprio erro.
Trata-se de algo contido na frase [extraída do texto "Apedrejamento mortal de jovens "adúlteros" confirma expansão dos taliban para Norte" da autoria de Ana Fonseca Pereira]:
"Por outro lado, com as forças estrangeiras a anunciarem planos de retirada, cresce a pressão sob [sublinhado meu] o Presidente Hamid Karzai para negociar uma "reconciliação" com os taliban."
O erro é evidente: a pressão é "sobre" e não "sob" o presidente.
O que explica a confusão da autora [o erro surge geralmente na forma inversa] é em tese a falta de coincidência operativa, durante o processo de aquisição/consolidação de linguagem entre o olhar, o pensamento e a atenção útil componentes inter-indissociáveis do processo de aquisição orgânica de conhecimento presentes idealmente na leitura individual.
Aí, eu vejo, penso e processo/registo em simultâneo o que confere à aprendização assim realizada a natureza idealmente orgânica que [exceptuando obviamente os casos marginais de dislexia ou qualquer outra perturbação estrutural nos mecanismos de organização do discurso] torna os "erros" úteis no sentido e na medida exactos em que a respectiva correcção pontual é ulteriormente reinverstível na própria orgânica nuclear e operativa de construção da aptidão discursional no seu todo, não constituindo, como sucede com as didácticas simplesmente "funcionais", meros reajustamentos de "desenho" ou circunstância na camada exterior do próprio discurso como tal e enquanto tal.
Ou seja: um aluno do "funcional" não erra, efectivamente---desencontra-se apenas, na in/essência, da geometria [da "geometricidade"] ou da mera geografia [da "geograficidade"] da textualidade a que o suposto erro se reporta.
Só quem da língua possui uma perspectiva orgânica e verdadeiramente motora, verdadeiramente dialéctica, "tem legitimamente direito ao erro", isto é, possui legitimidade para reivindicar o 'privilégio cognitivo' ou cognicional do erro.
Num ensino básica ou primariamente in-orgânico, a troca de "sobre" por "sob", por exemplo, oltando ao caso aqui proposto e que ilustra em tese bem a diferença entre os dois paradigmas de cognicionalização atrás referidos, configura, na in/essência, não rigorosamente um "erro" [que é, em si mesmo, uma coisa 'boa' porque aponta dialecticamente para a sua própria superação e para a ideal reconfirmação ulterior da identidade operativa assim como da da eficácia global de todo o processo de cognicionalização do real] mas uma mera perturbação de circunstância na «dinâmica melódica» puramente reflexa do discurso escrito, contaminado aqui claramente pela sua origem "oral" ou "oralizante", não reflexional.
Também o outro erro a que faço atrás alusão tem que ver com uma abordagem chamenmos-lhe "gestaltizante" e "gestaltizada" dos processos de cognicionalização e interiorização do Conhecimento.
Diz, a dado ponto do seu artigo: "Lopes da Mota cumpre castigo por pressões no caso Freeport", António Arnaldo Mesquita, o respectivo autor:
"Além da consumação daquele crime, Lopes da Mota terá ainda alertado os dois procuradores para o facto de a questão de o alegado crime de corrupção ser para acto lícito ou ilícito [?], o que não era inóquo [sic] para a contagem do prazo de prescrição".
Dando de barato que "inócuo" está obviamente mal escrito, a questão aqui [como, noutro exemplo que noutro ponto do "Quisto" adianto de "contaminação eufónica", aí entre "diabrura" e "diatribe"] prende-se com "a inércia aliteracional" que tende naturalmente a marcar a aquisição oralizante de discurso linguístico.
A qual, aliás, tem como "report" inevitável uma des-especialização consistente do próprio discurso, sujeito, assim, a constantes "perfusões sémicas" de natureza muitas vezses gratuita e, obviamente, a uma inaptidão gradual para a especificidade e para o rigor conceptivo do discurso e intelectual do próprio falante para quem passa a ser "a mesma coisa" dizer, por exemplo---caso extremamente comum!---"climático" ou "climatérico", não lhe surgindo como imperativo de rigorização e especificação necessária do discurso, o distinguir entre o que pertence, por um lado, ao clima---"climático"---e por outro, ao âmbito específico da "meno-" e da "andropausa": "climatérico".
Este "chegar lá perto pelo som" é, de facto, típico e tópico dos discursos "gestaltizados" e reflexos particularmente comuns no conjunto dos paradigmas de educatividade pós-modernos, fortemente marcados pela supressão tendencial da reflexão desvalorizada pelas i/lógicas contaminantes do jogo e da função como grandes referências não apoenas linguísticas, aliás, mas, de um modo mais amplo, existenciais e, num certo sentido, sobretudo, existenciantes .
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[Imagem extraída com a devida vénia de utas-dot-com]
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