quarta-feira, 25 de agosto de 2010

" Lugar Azul"


Da terra tinha a alma o tempo a fantasia
o ácido cimento do sono endurecido
a água a rútila
cicatriz do silêncio interrompido
da fome oculta o desesperado não sentido

a pele inútil do ar meio consumido
a indefinida terra a límpida agonia
da margem ou do rio apenas pressentido;
da lonjura o vento esmagado transmitido
entre o vapor da voz que envelhecido
da abóboda sangrenta da respiração vem agora corrompido

da fala o crepúsculo o labirinto flectido
da luz a glande febril a cutilada
do branco invertido
o delírio visual das aves todo erguido
na cúpula do dia já perdido; errante a sombra construía
o vício da luz toda na tardia
circunstância desordenada da falésia
que de pura perspectiva e vento em chamas
já se abria.

trovoada de branco e de morrer à luz do mar
pássaros embriaguez espacial febre de imenso
a luz é a respiração da tarde o isolado sopro do dia
ruindo em silêncio sobre as pedras em descanso.

as armas da ideia o resto rasto do sentir do querer
a casa deserta da voz sem memória



o dia flébil, pungente, lacerado, carcomido

ou apenas todo o sono todo o pó
mas invertido?...


[Na imagem: Cliffs in Britain de William Morris]

2 comentários:

Ezul disse...

Das rochas, sobranceiras ao rio, ou ao mar, observar o entardecer é um exercício para escutar a voz de um aparente silêncio. Talvez o crepúsculo seja o dia que se transfigura, uma porta, uma viagem… talvez a voz de uma infinita sabedoria!
O poema transportou-me de novo a lugares mágicos, onde as vozes se ouviam na serenidade da luz.
Lugares mágicos, momentos mágicos, infinito!
Como os sorrisos!!!
Um beijinho!
:)

Carlos Machado Acabado disse...

Muito obrigado pela visita e pela cumplicidade poética!
Um beijinho, também!
E já sabe: volte sempre!
Como diz o Mzalato, isto sem si não tem graça nenhuma...
:-)