quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Cirurgia Plástica: antes e depois"

Contrariando os "Velhos do Restelo" sempre prontos a desfazer nos múltiplos sucessos do Plano Tecnológico Nacional, conduzido pelo primeiro-ministro Pinto de Sousa (Não! Esse é outro! Este é mais alto!...) com a tenacidade e o rigor que caracterizam as suas escolhas políticas, quer no que respeita à cuidada selecção dos ministros de que sabiamente se rodeia a fim de larvar... ai... a fim de levar (assim é que é!) a cabo as suas alhadas! Ai! As suas alucinadas... (ai... lá estou eu outra vez!) as suas iluminadas! As suas iluminadas medidas de política irracional (bolas! Isto hoje!...) de política nacional, quer, de um modo mais amplo e determinante, no plano da profunda reforma e regeneração dos sectores educativo e cultural do País, apresentamos hoje um novo caso de sucesso que a todos nos deve encher de patriótico gorgulho (gorgulho??!! Eu disse "gorgulho"??!! Ai! Valha-me Deus! Orgulho! Orgulho é que é!) orgulho e renovada fé no futuro: o desta cidadã anónima atacada de bexigas que, submetida a uma siderurgia (perdão! A uma cirurgia! A uma cirurgia!); desta cidadã anónima que submetida a uma cirurgia em plástico (não!) plástica conduzida pelo esfomeado (Ai! Valha-me Nossa Senhora!); pelo afamado cínico... perdão... clínico português, prémio "Pessoa (Coisa e Animal)" Dr. Pampos e Cunha (especialmente Cunha) viu o seu rosto cheio de traça (não! Não! Apaga! Apaga!) o seu rosto de admiráveis traços de meridional serenidade e clássica beleza em poucas horas devolvido à frescura e ao esplendor originais.
Obrigado, licenciado e obrigado meu Deus que, depois de Salazar, Cristiano Ronaldo, da Senhora de Fátima, da Dra. Rodrigues (ai, são duas?? Pensava que era a mesma!... Mas pronto!) da Dra. Rodrigues e da Senhora de Fátima, do Dr. Pedreiro (grande alma de português! E do outro senhor que me esquece agora o nome mas que é muito bom e traz sempre a Educação e os Professores no coração) voltou a ter um gesto de especial atenção e carinho por este nosso modesto mas digníssimo cantinho à beira-mal plantado!...
[Ufa!...]
Seguem-se as imagens.


Antes
Depois


AntesDepois

[Que tal? Não ficou melhor?... Cá em Portugal é assim e então se o "pê-ésse" ganhar as eleições nem queiram saber! Vamos operar os irmãos siameses Durão Barroso e Sapo Cocas! Está prometido! Ah! E vamos também finalmente separar o Dr. Oliveira Dias e os quarenta irmãos numa clínica em Alcoentre!]

11 comentários:

Carolina Consentino disse...

Quando não é plástica são passeios de avião,auxilio paletó,moradia,auxilio caixão "coitadinhos" né...
precisam "viver" também os politicos uhauhauhahua (ironia modo on)...enfim né essa "raça" não presta não é de hoje nem me surpreende mais! cada dia é algo novo por aqui!
abraços amigo!

Carlos Machado Acabado disse...

Olá!
Que bom vê-la por cá!
Quanto a "novidades"... "dessas" por aqui é o mesminho!...
Mas não devemos alhear-nos: a pouca-vergonhice é tanta que, até por isso, devemos estar atentos e intervir como pudermos.
Desde logo, votando.
Votando CONTRA!
Por cá houve recentemente eleições e o partido do governo perdeu!
Graças a Deus!
Depois de ter obtido, nas legislativas, uma horrorosa maioria absoluta que lhe permitiu fazer toda a casta de tropelias que lhe apeteceu, nas europeias levou uma tareia que até andou de lado!...
Claro que a "alternativa" ao governo é... mais do mesmo de outros iguais a ele mas...
mas houve também uma subida substancial dos partidos de Esquerda: Comunistas e um bloco agregando ex-maoistas e ex-trotskistas.
A esperança vem, pois, daí: das formações anti-sistema que é essencial reforçar com o voto a fim de "cortar as asas" ao "sistema".
Eu penso assim: e vocês?...
Gostava muito de conhecer a vossa opinião...
Um abração e obrigado pela visita!

Gonçalo disse...

Pois, eu pessoalmente tenho as minhas dúvidas de que as forças de esquerda sejam na verdade anti-sistema,não fazem parte do sistema político como as outras? Enfim o seu discurso agrada às pessoas e em situações de crise é apelativo falar mal dos bancos,da propriedade privada,do desemprego,etc.Eu defendo que o peso do Estado na economia deve ser aliviado e não o contrário,o Estado endivida-se cada vez mais como é que essas forças explicam onde é que o Estado vai arranjar meios para fazer o que defendem,sem ser através de mais impostos ou de qualquer outo tipo de receitas?
Quanto às eleições pois parece que em toda a Europa cresceram os votos de protesto mas a vitória de partidos de inspiração democrática-cristã ou de extrema direita que têem bastante força no norte da Europa como na Holanda,na Bélgica, e mesmo em França com a Frente Nacional deve fazer-nos reflectir sobre o que a Europa está de facto a fazer pelos Europeus.Essa votação na Direita pode estar relacionada com o aumento do desemprego ou problemas de criminalidade que são logo (com ou sem razão) atríbuidos aos emigrantes.Dando o exemplo do futebol eu no meu blog tenho já procurado defender (se calhar até demais...) a qualidade do jogador português perante o jogador estrangeiro que nada de novo traz ao nosso futebol e que pelo cotrário prejudica quem cá joga retirando-lhe espaço,não se passará também isso noutras actividades,isso não poderá estar relacionado com uma perda de identidade nacional para uma Europa que os Governos nem definem bem qual o seu papel,como aconteceu com o Tratado de Lisboa que foi chumbado na Irlanda e salvo erro também na Holanda e que provocou um medo tal de ser chumbado noutros lados que por exemplo em portugal nem se pôs em discussão?

Carlos Machado Acabado disse...

Amigo Gonçalo:

I
Antes de tudo o mais, o que eu acho é que é essencial começar por definir aquilo que se tem por "esquerda" e por "direita".
Se me apontar o P.S. como esquerda (o que eu frontalmente não aceito!) claro que concordo com o que diz sobre o carácter sistémico da Esquerda.
Se me falar da CDU... bom... eu aí tenho algumas reservas relativamente a um possível (e, do meu ponto de viata, desejável) carácter anti-sistémico.
A CDU (o Partido Comunista) tem, hoje-por-hoje, um problema que passa, no fundo, em larga medida, exactamente por aí, isto é, por saber se quer mudar o essencial do sistema económico-político "ocidental" actual ou se apenas pretende geri-lo e introduzir-lhe algumas alterações dispersamente assistémicas e inessenciais.
Se apenas pretende, em última instância, geri-lo, aceitando, nesse caso (como dizer?) "jogar o campeonato inteiro no campo do adversário" o jogo do bom comportamento sistémico corre o risco de se confundir com (e, no limite, diluir-se, de um modo ou de outro, no) próprio sistema.
Se pretente MESMO mudar, então, tem claramente de reorganizar de forma drástica a sua estratégia política de modo a evitar as tais "confusões" e as possíveis "diluições".
Já o Bloco de Esquerda é uma espécie de quadratura do círculo, juntando na base inimigos "naturais" (trotskistas e maoistas) o que teve como efeito mais ou menos inevitável que o partido perdesse um centro (ou melhor: que nunca o tivesse tido) e passasse a navegar "sem mapas", ao sabor de "causas" avulsas e, no fundo, de um modo ou de outro "simpáticas" para o eleitorado urbano, politicamente inconsistente e vazio que maioritariamente o apoia.
É "isto" a Esquerda?
É a esquerda POSSÍVEL.
Será o bastante?
Bom, quanto a isso... "senhor telespectador, não perca os próximos episódios desta fascinante novela político-civilizacional", como diz "o outro"...
Este, um primeiro aspecto.

Carlos Machado Acabado disse...

II
Sobre a questão do "peso do Estado": mas, meu caro amigo, o Estado "não tem peso", é imponderável.
Há um (verdadeiramente essencial!) debate a travar, com urgência (agora ainda maior com o agudizar da "crise") sobre o modelo cultural e civilizacional de Estado que, como sociedade, pretendemos mas temos de ser nós (e não um "iluminado" qualquer no "pê-ésse" ou no "pê-ésse-dê") a patrocinar e a EXIGIR esse urgentíssimo e cada vez mais essencial debate.
O que acontece hoje nas sociedades do chamado "Ocidente avançado" é que há, na realidade "duas por cada uma", isto é, dentro de cada sociedade há os que detêm efectivamente o poder de "moldar a História" em função dos seus próprios objectivos e planos específicos (os bancos, os grandes grupos económicos reconstituídos em 75) que não admitem deixar de multiplicar o seu capital quanto mais 'reduzi-lo funcionalmente' a fim de recriar equilíbrios sistémicos perdidos no (e pelo)... sistema.
O Estado para esses é uma "chatice" danada (ou pensam eles que é...) que, quando se apresenta como "Social", não serve senão para pôr entraves à reprodução contínua de capital e à potenciação ilimitada (ou quase...) dos seus investimentos.
Na verdade, o Estado dito "social" é o... "carro vassoura" do poder: este cria desigualdade, o Estado vem por trás e recolhe as baixas...
Portanto, o Estado dito "Social" tal como o conhecermos é, na realidade, uma ferramenta de controlo político e económico DO PRÓPRIO SISTEMA, não das populações, da Cidadania.
Para que o fosse, teria de ser incomparavelmente mais interveniente e assertivo, começando a operar LOGO A NÍVEL DOS MECANISMOS BÁSICOS DE REDISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA GERADA POR CADA SOCIEDADE COMO TAL.
O Estado Social não se mede por quanto o Sr. Eng. Belmiro Qualquer Coisa está disposto a ceder ao colectivo dos seus muitos lucros.
O ESTADO SOCIAL MEDE-SE PELA SUA (IN) CAPACIDADE ESTRUTURAL PRÓPRIA PARA PERMITIR NÍVEIS GERAIS SATISFATÓRIOS DE EFECTIVA QUALIDADE DE VIDA.
De dignidade económica, social e política generalizada.
A mim, não me interessa rigorosamente nada que o Eng. Belmiro ou a Dra. Leite ou o licenciado em engenharia Qualquer Coisa digam que "há Estado a mais" aqui ou ali: essa é uma conclusão que eu só tiro ou deixo de tirar a partir dos valores globais de nível ou qualidade de vida.
Se estes são a miséria que são hoje sendo, todavia, os lucros do grande capital o que são, há é Estado a menos.
Mau e pouco.
Este, o segundo aspecto desta agradibilíssima conversa que tenho todo o prazer em manter aqui consigo.

Carlos Machado Acabado disse...

III
A extrema-direita e isso tudo.
Pois... o perigo existe.
A República de Weimar (e os "pê-ésses" da época, o Sr. Bernstein e os seus "croonies" políticos) pariram o nazismo com a sua criminosa irresponsabilidade histórica, social e política, como se sabe.
Hoje não há Bernstein mas há Mários Soares, Sócrates, Fereiras Leites, Barrosos e por aí fora.
A sua clamorosa leviandade; a sua patológica obsessão economocêntrica (economaníaca!) e economocrata abre todos os dias novas (e gigantescas!) crateras na coesão social e atira com cada vez mais indivíduos não só para fora do sistema como, pior ainda, para fora do interesse em manter com ele o mínimo de diálogo analítico e crítico.
Isso deixa obviamente um número cada vez maior de pessoas à mercê de um qualquer "pastor" providencial que saiba capitalizar nessa imensa massa de excluídos politicamente que andam hoje ainda a saltitar do tal "pê-ésse" para os braços da Dra. Leite e desta para o Bloco, sem perceberem, todavia, muito bem aquilo que andam realmente a fazer...
O perigo, pois, existe, não tenho dúvidas.
Bem pelo contrário! Tenho dúvidas e também sério receio.
Agora, outro aspecto é este: claro que se está a perder uma parte muito relevante do que poderíamos com certeza chamar a identidade nacional.
Claro que os extremismos apostam nisso.
Mas repare: eu, antes do 25 de Abril não conseguia referir-me ao "governo" de então sem ser na 3ª pessoa do plural: "ELES".
Comecei sem dar por isso a dizer "NÓS" (e a sentir-me parte de um "NÓS") quando?
Quando um poder político durante algum tempo realmente interessado em democratizar fez, por exemplo, que um professor como eu era (e sou) deixasse de receber NOVE meses por ano (5.000 e poucos escudos: na Bélgica, como... aprendiz de condutor de eléctricos entrei a ganhar SETE MIL E TAL os DOZE meses do ano...) tendo de viver (comer, beber, pagar a casa e por aí adiante)o ano inteiro.
Quando as decisões realmente essenciais passaram a ter de... passar nuclearmente pelas assembleias sindicais ou de delegados, pelas comissões de base de moradores, de utentes dos serviços de saúde, dos tribunais, etc.
Quando a sociedade portuguesa sob a égide de homens injustissimamente esquecidos e vilipendiados como Vasco Gonçalves (uma das pessoas mais sérias e genuinamente humanas e humanistas que conheci!) ou, com todos os seus erros e defeitos, Otelo Saraiva de Carvalho (um puro!); quando a sociedade portuguesa, dizia, se começou a tornar 'orgânica' e a agir como um todo.
Aí, a identidade nacional emergiu, reforçou-se, renasceu.
E até eu (que fui, com muita honra, refractário da guerra colonial) em Novembro de 75 estava à porta de armas do Forte de Almada a pedir ao Capitão Luz que o comandava (num verdadeiro acesso de loucura cívica e política!) armas para... "morrer defendendo a Revolução".
De tal modo era forte em mim consciência dessa identidade que me impeliu até a loucuras como essa: exigir uma G3 para abater... aviões que rasavam ameaçadores os muros do forte!...
O que eu quero dizer é: a identidade é um valor abstracto ao qual é impossível sobreviver muito tempo sem uma base e um fundamento (económico, social, político) muito forte e reconhecível.

Carlos Machado Acabado disse...

IV
Por fim: o tal Tratado de Lisboa e o modo tão leviana e tão intoleravelmente autoritário como se tomam decisões na "Europa": é evidente que concordo consigo!
Mas isso acontece porque por muito que se esganicem os seus apologistas em falar de "união", "aquilo" sempre foi (e é!) na realidade um "mercado (genericamente) comum" relativamente ao qual o papel da "política" é... conservá-lo EXACTAMENTE COMO ESTá, fingindo, o entanto, que está assim porque a gente o quis.
O embuste é óbvio e as consequências infelizmente as que se conhecem.
Essas mais as outras que (ainda) não se conhecem na totalidade mas que, como o meu amigo diz, se calhar são um bocadinho negras e inquietantes...
Espero não tê-lo maçado muito!
Um abraço!

Carlos

Gonçalo disse...

Ora essa amigo Carlos Acabado não é maçada nenhuma estar a ter esta discussão consigo, aliás se há vantagens nos blogs esta de podermos trocar ideias e convicções diferentes é uma delas sem dúvida, se isto fosse para concordar com tudo não tinha piada nenhuma.Só tenho pena é de não encontrar na nossa sociedade muitas discussões destas que sejam construtivas. Parece que as pessoas têem medo de falar qualquer coisa que saia do politicamente correcto ou de não agradar.Bem,eu não considero o PS um partido de esquerda aliás nem consigo encontrar diferenças entre o PS e o PSD ou entre Socialismo ou Social-democracia assumo que tenho dificuldade em descobri-las.Serão dois partidos de centro,diria talvez híbridos sem uma ideologia definida:alternam no Poder,alternam no nº de simpatizantes,defendem o mesmo modelo europeu...Sobre as forças de esquerda PCP e BE eu tenho uma história que ilustra a relação que os seu simpatizantes (que agora parecem mais mas que foram sempre muitos) e refiro que na zona urbana onde vivo isso também é verdade,eu pouco tempo depois de me recensear fui membro de uma mesa de voto na escola onde votava,
nas eleições legislativas de 99 quando ganhou o PS sem maioria(com o nº de deputados igual aos dos restantes partidos, foi o tal governo do orçamento limiano).Aqui em Odivelas ganhou o PS por larga margem (como ganha sempre que há eleições),mas existem aqui muitos ex-militantes de partidos que depois formaram o BE.Quando fui falar com alguns amigos que foram da UDP sobre em quem votaram eles disseram-me que votavam no PS para não se desperdiçarem os votos na CDU ou no BE e porque não queriam os capitalistas(PPD como eles chamavam ainda) no Poder!E isto foi só há 10 anos,por isso lhe digo que agora vive-se uma situação inversa,o PS(e o Governo) sabe que corre riscos de ainda perder mais votos para o BE e a CDU.O eleitorado destes partidos andou muito tempo a fortalecer o PS e agora está a acontecer o contrário!E o CDS faz o mesmo com o PSD! Sobre o papel do Estado é verdade que tem de ser a sociedade a ver qual o Estado que quer,mas eu continuo a achar que o Estado(e falo do aparelho de Função Pública) não tem dinheiro para manter certos serviços,que sobrecarregam as despesas públicas. Continuo a achar que há funcionários públicos demais e que a grande maioria não é assim tão mal paga,não haverão professores e escolas a mais? Então porque é que tantos licenciados vão para os supermercados ou as vendas? Ou magistrados,a Justiça não terá funcionários a mais, a burocracia do Estado, não haverão repartições para tudo e mais alguma coisa que atrasam os processos? Se o Estado deve ter um papel mais social se deve haver outra distribuição das riquezas? Bem se calhar devia haver outra distribuição,mas acho que às vezes se exagera um pouco com isso,por exemplo toda a gente (a grande maioria pelo menos) tem oportunidade de estudar,se uma pessoa não se esforça ou se pode trabalhar e vive do subsídio se não vai sequer ao centro de emprego que rendimentos é que uma pessoa merece ter? Eu sou um bocado contra um discurso bem português do "somos pobrezinhos coitadinhos de nós..." é que as pessoas, a sociedade tem que ver que para se terem as coisas têem de se fazer certos sacrifícios,se certos serviços básicos fossem privatizados não seria melhor, a concorrência livre de monopólios não faz baixar os preços? O comportamento dos funcionários públicos é muitas vezes de grande desleixo, chegam atrasados,demoram a tratar dos assuntos,enfim produz-se pouco.Não se pode estar sempre a pedir contas ao Estado, pode ter muitos defeitos mas a nossa sociedade tem-os também e muitos e uma grande falta de cultura(cívica,literária,deportiva,etc.).

Carlos Machado Acabado disse...

Amigo Gonçalo: que bom voltar a vê-lo por cá!
Começo por concordar (plenamente, aliás!) com a sua crítica relativamente à falta de profundidade da discussão política, hoje, em Portugal.
Se houvesse verdadeiro debate Político, não haveria tanta gente a confundir P.S. com Esquerda e voto no P.S. com voto (minimamente!) útil de uma perspectiva de Esquerda.
Muita gente na U.D.P. caíu "nessa", é verdade.
Não só da U.D.P. mas da U.D.P. seguramente
Eu fui um dos cinco mil que subscreveram o documento que conduziu à passagem das três organizações "m-l" a partido com a designação de U.D.P.
"Aquilo" andou sempre ali aos "esses", sem saber muito onde é que estava em termos exactos, no espectro político: era "maoísta"?
Era SÓ maoísta?
Que é "ser maoísta"
E por aí adiante...
Recordo-me de um "debate" homérico envolvendo a "magna" questão de saber se se devia "aceitar" Guevara como referência e se aceitar Guevara conduzia à aceitação de Castro e do regime cubano...
Depois, a U.D.P. lembrar-se-ia de se "desavermelhar" (foi o termo oficial...) até vir a dissolver-se no Bloco.
A U.D.P. nunca chegou, porém, como disse a ter uma identidade estável antes mesmo de "engolir" ou ser "engolida" pelo P.S.R. (seu "inimigo" natural, por ser trotskista e portanto o" da U.D.P.) para formar o Bloco.
O problema da indefinição ideológica e programática, que está na origem de todas as indefinições pessoais dos seus membros, não é, pois, de agora.
Mas eu não minimizo o Bloco, onde cabe, aliás, como sabe, "tudo", da falecida Maria de Lurdes Pintasilgo ao pessoal mais radical, nas diversas formas de radicalismo conhecidas (e não só...)
Eu acho que todos os regimes democráticos (mesmo os que da Democracia apenas conhecem caricaturas mais ou menos vagas, como o português) precisam como "de pão para a boca" de ter uma consciência (ética, crítica, ideológica, etc.) estável e activa que pode estar no Bloco exactamente porque ele possui uma espécie de património teorético plural, idealmente não-dogmático que favorece o debate político.
É bom, por exemplo, recordar que o Partido Comunista, de início, estava contra determinado tipo de acção política mais 'radical' (a ocupação de terras, desde logo) vindo a ser para elas "empurrado" da Esquerda.
Isto é: precisou de um estímulo à esquerda para se "chegar à frente na História" e se posicionar no concreto relativamente a certos aspectos mais característicos mas também mais avançados do 25de Abril--que hoje reclama, aliás, como seus.
Sobre um possível excesso de funcionários públicos: o problema é que os governos não estão interessados em racionalizar e operacionalizar o Estado chamado "social": estão interessados, sim, em cortar nas despesas com o próprio Estado, "social" ou não.
Não o saneiam nem tentam sequer realmente fazê-lo: cortam a direito, sempre com a "tabela de preços" na mão empunhada, ainda por cima, por uns quantos fulanos sem dimensão intelectual e/ou política (Lurdes Rodrigues, Lemos e quejandos, no caso da "Educação") que se limitam a contar as "baixas" que ão conseguindo para as estatísticas e para a "contabilidade de merceeiro" do poder económico-político, independentemente da sua relevância orgânica real.
É, diria eu, uma questão de avaliação honesta e competente das situações.
Mas quando se pensa na... "avaliação" dos professores percebe-se imediatamente tudo...
Eu não creio, aliás, que haja escolas a mais: há é serviços essenciais (pedagógicos, psico-educacionais, etc.) "compactados" de tal ordem que até parece que...
Turmas imensas e, por isso, inoperacionais que deviam ser divididas; escolas sem psicólogos e/ou orientadores profissionais, e por aí adiante.
É ISSO que cria, repito, em larguíssima medida, a ficção/ilusão/embuste do excesso.

Um abraço.
Carlos

Carlos Machado Acabado disse...

Por imperativos de espaço, vi-me forçado a terminar um pouco abrutamente o comentário anterior.
A ideia geral, porém, está lá.
Eu não creio, com efeito, na chamada "auto-regulação espontânea" do mercado ou pelo mercado.
A "crise" actual põe, aliás, em (total!) evidência as limitações (por vezes, verdadeiramente trágicas) desse tipo de "solução".
Nada substitui, com efeito, a meu ver o BOM Estado, isto é, aquele que é avaliado por gente politicamente séria e competente e não por meros "contabilistas de vão de escada" disfarçados à pressa de políticos.
É ISSO que cria, volto a dizer, a ilusão/ficção/embuste de que o Estado é um intruso na História.
Não é!
É, sim, em última instância, fundo, o seu melhor (e talvez único!) garante!

Gonçalo disse...

Quanto a mim, acho que falta mais intervenção do Estado na regulação do Mercado. Se é desviado dinheiro de uma empresa, o poder judicial tem que funcionar.No caso de um Banco, o Banco de Portugal tem de cumprir o seu papel.O problema é que nesse aspecto o Estado é fraco e os seus poderes não são independentes. Por isso é que pessoas como o sr. Pinto da Costa ou o sr. Major Valentim Loureiro compreenderam perfeitamente o país em que vivem jogando nos vários tabuleiros. Aí sim estou de acordo mas não por haver muitos ou poucos fiuncionários do Estado, mas sim por o Estado ser frágil e os seus poderes não serem como se desejaria, independentes.