Tive recentemente ocasião de escrever ao município da cidade onde habito na pessoa do respectivo presidente e de um vereador--o do ambiente--a propósito de uma empresa sedeada na periferia da cidade e que, diariamente, deita para o ar toneladas de metros cúbicos de gases cuja composição ninguém parece, aliás, conhecer ou interessar-se por conhecer, de igual modo, se desconhecendo que tipo de dispositivo (não?) é usado a fim de filtrar tanto quanto possível as eventuais micropartículas, toxinas e por aí fora neles contidos.
Tendo-me, dizia, pois, dirigido, a este propósito ao município (a quem, desde logo, senão?...) obtive a chamada... "resposta portuguesa canónica" aos temas importantes: a "resposta zero"...
Nada!
"Néri-bi"!
"Népia"!
"Naught"!
"Zilch"!
"De caminho, escrevi também aos (chamados...) "Verdes", ao P.C.P., ao Bloco de Esquerda, ao P.S.D. (aos respectivos Grupos Parlamentares) à DECO, ao Geota e à Quercus, deixando deliberadamente de fora o Partido do governo por razões que se prendem com o modo inimaginável e imperdoavelmente leviano como este, liderado por um ex-ministro do Ambiente (!) trata invariavelmente a 'questão ecológica e ambiental' .
O P.S.D. não achou que valesse a pena responder: tem um deputado "especialista" na matéria que já foi, suponho eu, secretário de Estado num governo qualquer anterior; que hoje manda, sobretudo, as pessoas para o c., como se sabe e que escreve, além disso, no "Expresso" artigos em defesa do ambiente (tudo actividades que o ocupam a ponto de não poder, pelos vistos, perder sequer uns minutos a fingir-se interessado nas coisas em que diz precisamente... estar interessado); o Bloco respondeu assim como a DECO (a resposta mais interessada e decididamente a mais interessante, também, aliás); o P.C.P. outro tanto, a Quercus... nem por isso e os tais "Verdes"... ainda menos.
Respondeu-me ainda o Geota, oferecendo a ciolaboração e o interesse possíveis e que naturalmente agrdeço, desde já, penhorado. Era uma ocasião magnífica para concretizar e localizar o debate ambiental, sem dúvida.
Parece, todavia (com as louváveis excepções que referi) que os partidos e as organizações em geral não gostam que as pessoas "se mêlent trop de ses affaires" (de "ses" deles, partidos) que é como quem diz: preferem talvez ser eles, partidos, a determinar aquilo com que as pessoas se devem preocupar, ficando estas últimas, segundo eles, à espera que lhes elaborem e entreguem, pois, a lista dessas "coisas" que será, assim, "dever" seu limitar-se a ilustrar sempre que as estratégias partidárias entendem que chegou o momento adequado para fazê-lo...
Pelo meio, o governo introduz uma (escandalosa, completamente irresponsável!) "campanha promocional do delito ambiental", reduzindo drasticamente as multas aos prevaricadores que, de resto, já nem se preocupavam assim tanto como isso em cumprir as (excelentes, dizem) leis já existentes mas que ninguém ou muito poucos (e geralmente, cidadãos particulares) na prática respeitava.
Ora, eu sempre detestei, confesso, a... "decologia" (ou "token envoronmentalism") isto é, o "ambientalismo decorativo" atirado aos olhos das pessoas "pour épater le bougeois", isto é, a "ecologia mínima" e "bem pensante" concretizada na apanha mais ou menos cíclica de papelinhos do chão ou ao habitual estendal de "bugigangada" reciclada com que a "Subúrbia" em geral recorrentemente "se decora" e por meio da qual concede a si própria todos os anos a "dose mínima aconselhada" de boa consciência através da qual reforça periodicamente a sua habitual ilusão de ser "responsável" e, ainda por cima, "moderna"...
Acho, aliás, que, uma tarefa vital e urgente das verdadeiras Esquerdas (assim o tenho defendido onde e quando posso, desde logo quando a vida me fez a partida de me fazer eleger para uma Junta de Freguesia...) consistiria em exigir, ao lado da Educação Sexual obrigatória (ouviram bem: obrigatória: o conhecimento não se referenda nem se plebiscita--é dever dos Estados civilizados e modernos fomentá-lo, assumindo expressamente que o analfabetismo não é alternativa e que não existe, aliás, na Política desses mesmos Estados civilizados ("onde os há", como dizia Garrett, a propósito do Teatro...) a alternativa da cegueira ou da ignorância "por razões... morais"); acho, aliás, dizia, que é cada vez mais tarefa das verdadeiras Esquerdas a exigência da inclusão nos currículos escolares autenticamente modernos, a par da referida de Educação Sexual, pois, da disciplina de Educação Ambiental, como disciplina ordinária obrigatória, do primário ao fim do secundário.
Mais: defendo mesmo que deveria ser criado uma espécie de mega-grupo pedagógico transdisciplinar específico de modo a incluir (volto a utilizar premeditadamente o termo) obrigatoriamente professores de Biologia, de Física e de Química, de Português, de História; numa palavra, das diversas disciplinas curriculares, coordenadas por um professor responsável que tivesse como funções específicas organizar o currículo, patrocinar o respectivo debate metodológico interno específico, centralizar as tarefas de recolha do material textual e gráfico a utilizar nas exposições em sala de aula e de organização da testagem, sendo que as aulas deveriam sempre ser dadas pelos diversos professores envolvidos no projecto, segundo um mapa global previamente delineado, tendo em vista o estabelecimento de curtos "ciclos" conforme o ângulo particular de abordagem da temática em causa, não se tratando, em qualquer caso, de "unidades expositivas" fechadas mas, ao invés, de propostas de "referencialidade expositiva e metodológica", geríveis sempre em registo de transdisciplinaridade continuamente ajustável, digamos assim.
As aulas poderiam (de facto, deveriam) incluir também o recurso a conferencistas exteriores, cada vez mais constantes da carga curricular, à medida que a aproximação ao ensino superior fosse sendo uma realidade.
Defendo, aliás, um paradigma genérico em tudo similar para a Educação Sexual, como, de resto, para todo o projecto curricular, de uma maneira geral.
Sempre dei ou tentei dar, por exemplo, aulas de Inglês do antigo Curso Complementar, designadamente do 11º ano, onde a matéria incidia, em larga medida, sobre o tema da Revolução Industrial inglesa, com recurso à interacção transdisciplinar contínua e estrutural com a História, claro, mas também com a Economia, com o Português (onde se procedia, por exemplo, à articulação do estudo da literatura portuguesa da época com o período histórico em si, sendo abordadas questões como da ruralidade, ou seja, a da--não--resposta da sociedade portuguesa dos séculos XVIII e XIX ao "essor" de "globalismo industrial", originário, sobretudo, de Inglaterra--não--expressa na obra de um Correia Garção, de um Garrett ou de um Herculano ou, ainda, aí já expressa, no século XIX, na de um Eça, por exemplo: no primeiro Eça como no segundo, o do "regresso aos valores de uma certa "estóica ruralicidade" de fim de vida e, também, de algum modo, de Civilização); da Filosofia (de um Hume, de um Hobbes ou de um Locke, por exemplo); com o envolvimento e a colaboração da Educação Visual (o design, a Arte-em-si e a "Arte funcional", etc. etc.)
O Ministério da Educação "enche", como sabemos, "a boca" com palavras muito cativantes e apelativas como "interdisciplinaridade" ou "abertura da escola à realidade".
A verdade, porém, é que, para além de conceber (de forma totalmente absurda e até demonstravelmente obscurantística) transformar puras e nobres questões de ciência e de conhecimento (como as que se prendem com a já referida Educação Sexual) em questões inexplicável e indefensavelmente de natureza... "moral"; isto é, para além de tentar que, como sociedade, aceitemos fazer depender, de modo absolutamente disparatado e disfuncional numa genuína sociedade "do conhecimento", a evolução natural dos currícula de uma absurda chancela "moral" e "ética" final dos Pais e Encarregados de Educação (como se a Ciência e o Conhecimento em geral tivessem, como atrás digo, alternativa no Analfabetsmo ou Ignorância institucionais, vigentes por absurdo e por "opção" possível de ser, no fundo... ministrada pela própria Escola ao recusar-se a evoluir); a verdade, dizia, é que, para além de assim proceder, a tutela tem consistentemente sido de todo incapaz, ministério após ministério, de patrocinar a adopção final pelas escolas da boa "autonomia operativa" em cujo seio desempenha papel autenticamente fulcral e decisivo a flexibilidade organizacional, especificamente horária (ou horário-curricular) que permitisse efectivamente implantar modelos intelectual e criticamente dinâmicos de educatividade que a todos--e seguramente, ao País como tal--apenas podiam beneficiar e muito...
[Imagem ilustrativa extraída, com a devida vénia, de spectrum.mit.edu]
1 comentário:
Independentemente da maior ou menor simpatia que possa ter em relação a uma determinada linha política, acredito que os partidos são, efectivamente, máquinas partidárias que dão prioridade aos seus interesses e estratégias, em detrimento da essência das ideias e dos valores que dizem defender. Assim, caro amigo, tomar a iniciativa em relação ao problema que denunciou, não iria roubar o protagonismo de que os políticos tanto necessitam? Nestas situações, parece-me que o melhor é abordar a questão pela faceta mais adorada e, simultaneamente, mais detestada pelos políticos: o “folclore”, o “arraial”. Pois é, a estratégia da feira, do “Mercado do Bolhão”… Por outras palavras, recorrer a um programa de televisão tem dado os seus resultados, nem que seja para obrigar a que as respostas saltem das gavetas.
Quanto às políticas ambientais do nosso país, o que dizer? E aqui pela nossa região? E o que resta do nosso rio? Esse rio que vi morrer, a pouco e pouco… Uma ETAR que rouba qualidade de vida a quem mora nas suas imediações… E as águas inquinadas pelas explorações de gado suíno?
Estou plenamente de acordo com a inclusão da questão ambiental nas actividades escolares, numa abordagem interdisciplinar dos programas. Acredito que só assim é possível interiorizar o conhecimento e adquirir uma visão global da realidade. Não pretendo negar que há, dentro da escola, alguma resistência em relação ao desenvolvimento de outras estratégias. Contudo, a tarefa não é, minimamente, facilitada pelas orientações que nos chegam. Já assisti a muitas actividades e projectos de “projectos”, quer na área da educação ambiental, quer na área da educação sexual, que pouco ou nada contribuíram para motivar a comunidade escolar, resumindo-se a uma tarefa pontual, que era necessário cumprir e pronto!
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