Não era uma grande actriz?
Pois não!
Nem seria, até, admito, apesar de alguns momentos que, para alguns, expressamente assim indiciavam (como a sua participação, no teatro, em "Extremities", substituindo Susan Sarandon ou, mais tarde, no cinema, no filme de Robert Duvall, "The Apostle", por exemplo) em bom rigor, uma actriz...
Não era a mulher mais bonita deste mundo?
Tão pouco o era.
Mas foi alguém que, no fundo, de um modo ou de outro, nos acompanhou durante anos; que (como sucede com tantas personalidades famosas, umas justa, outras menos e algumas até injustamente de todo) nos preencheu 'ene' serões de, em boa verdade, ingénua estultícia e da mais inocente banalidade televisiva, com os seus "Anjos de Charlie", vindos a lume numa época cultu(r)al em que os anjos--mesmo apenas os de Charlie...-- não eram ainda a total impossibilidade em que desgraçadamente a idade--a nossa própria idade e, talvez, sobretudo, a do mundo à nossa volta...--conseguiu que, entretanto, se tivessem, para nossa imensa tristeza e irregressível infelicidade, por inteiro, tornado.
Farrah e os "anjos" vinham para nós (vieram, seguramente, para mim!) numa etapa da cultura dita "de massas"--num momento da... "Idade Mídia"--em que ainda era, pois, possível às pessoas vulgares, mesmo as que presumiam de uma certa "respeitabilidade" pública e privada, deslumbrarem-se sem reservas nem falsos pudores com inanidades que, sendo-o obviamente, tinham o grande, o inestimável mérito, de, no fundo, não fazerem realmente nem bem, nem mal algum, fosse a quem fosse...
Era, ainda, o tempo em que o país recolhia a casa deliciosamente excitado com a perspectiva de serões de confortável tontice familiar preenchidos com os efeitos especiais (fascinantemente pueris!) do "Espaço Dois-Mil-e-Qualquer-Coisa", com os 'delírios textuais' do inimaginável argumentista ou argumentistas da "Micção" (perdão!) da "Missão Impossível" como, a outro nível, se excitava, manhã após manhã, com a "estória" inimaginavelmente medonha, literalmente tenebrosa (hoje alguns diriam: imperdoavelmente traumatizante!) do Marco e da sua sempre angustiosamente remota e inatingível mamã.
Como, de resto, ainda não havia muito, se perdera por completo de amores com as 'aventuras' sempre invariavelmente correctas--"morais"--dos Cartwright da "Bonanza" ou com as (já reconhecivelmente menos "morais" e francamente mais... "guerra fria") do já, por sua vez, claramente pré-bondiano "Dangerman".
...Ou ainda com as do meu preferido, o surreal e delirante "Mister Solo", com o Robert Vaughan no "Mr. Solo" e o David MacCallum no "Illia Kuryakin" e que o Mel Brooks parodiaria, aliás, com grande primarismo mas inversamente proporcional sucesso, numa série de culto, "Get smart", entretanto reposta na inefável "RTP Memória".
Ora, voltando um pouco atrás, a essa deliciosamente vulgar Farrah, é preciso (e é da mais elementar justiça!) reconhecer que alguém que partilha connosco nem que sejam apenas quinze ou vinte minutos de vulgaridade e cândida, inócua, tarouquice diária é alguém a quem devemos definitivamente, queiramo-lo ou não, alguma coisa.
Com a morte, hoje, da boa da Farrah, já só noutro lugar podemos aspirar a devolver-lhe as horas de entretida e inocente pasmaceira que lhe ficámos a dever.
"Good riddance, angel! One of these days I'll pop up there to pay you back!
And that's a promise!..."
4 comentários:
Pouco me dizia, a não ser o facto de me fazer lembrar Ryan O'Neal ( e a beleza do Barry Lyndon). Enfim, que repouse em paz! E também o Michael Jackson (Ai, a vida tão efémera, e ele que quis a juventude, ou a eternidade, fosse o que fosse...) Terá sido, neste último caso (e já de há muito tempo atrás), a queda de um anjo?
O amigo tem razão já estava mais do que na hora de estudar a fundo esses pintores pra tirar algo mais para as futuras pinturas minhas...vou fazer isso começando por Picasso que particularmente me atrai bastante =) agora que a fase ruim da minha vida esta passando de vez vou me dedicar a tudo que tenho que estudar...
Ah eu estava assim sim...Não passei bem esses dias mas agora estou melhorando.
agradeço pela preocupação!
abraços amigo!
ps: morreu a pantera e o Michael jackson,caramba! que coisa! até agora não acreditei
Amiga M.:
O trabalho, desta vez, lá permitiu uma... 'folguinha', ham?...
De vez em quando, ao "esquadrão do giz" ao qual pertencemos lá são concedidos uns segundinhos para respirar, não é?...
Pois...
Falando das notícias recentes, é incrível como parece confirmar-se aquela ideia (aparentemente inexplicável e absurda, eu sei...) de que os famosos morrem sempre aos pares!
Se calhar é coincidência mas... quando desaparece alguém com algum significado, justificada ou mesmo injustificada relevância ou apenas expressão pública objectiva é, efectivamente, 'fatal' que, logo a seguir, o facto se repita.
Como digo, se calhar é apenas o resultado do modo como a 'contagem' é feita mas, de facto, impressiona...
Quanto ao "Jacko", gostava dele, é?
Da música dele?
Eu não era propriamente um apreciador (se calhar, porque também não era conhecedor) mas a verdade é que ele "é" uma época, por assim dizer.
Como o Elvis, por exemplo, que a mim me parecia (literalmente!) imortal...
Um e outro, porém, são apenas mais dois exemplos do modo como é importante separar as pessoas (com todas as suas fragilidades e fraquezas de todo o tipo) das coisas, no fundo, de um modo ou de outro, realmente relevantes, que fazem.
E essa, sim, é uma verdade demonstrável, não uma qualquer ... "ilusão de óptica" (ou "de ética"?) crítica e analítica...
E, já agora, o Ryan O' Neil também, não "foi uma época", não é?
Áinda se lembra da loucura que foi entre nós o "Love Story"?...
Ah! É verdade! Eu também considero o "Barry Lyndon" a perfeição (não necessariamnte o arrebatamento mas, sem dúvida, a 'perfeição') plástica absoluta.
Uma das suas formas concretas, em todo o caso.
Um filme que nos extasia embora possa não os despertar 'amor', na análise do Godard que "dividia" o Cinema entre os filmes que se «admiram» e os que se «amam».
Mas esse é outro tema de conversa para termos assunto noutro dia...
Um enoooorme abraço Amigo!
Olá, "Anita"!
Que bom saber que o pior já (quase?) "lá vai"!
Há alturas (ciclos) na vida que 'são o diabo', não é?
Olhe: uma das coisas boas de se ter um talento qualquer (para a pintura, para a música, para a escrita) é justamente a possibilidade de "irmos lá" buscar a força e a energia que outros momentos e circunstâncias da vida se obstinam, às vezes, em nos tirar, não é?
Boa ideia essa de se decidir a estudar as "referências absolutas" da Pintura!
Já agora: quais são as suas?
Entre as minhas estão o Bacon, o Giger, a Paula Rego, o Miró, o Picasso, o Matisse, Rouault e um francês sublimemente delicado chamado Utrillo qiue, a meu ver, captou como ninguém o "espírito" de uma França "pós-positivista" que se refazia com enorme perplexidade, quase dolorosamente, do "choque" do 'naturalismo'.
"Visite-os" a todos, viu?
E volte sempre, ham?
Um abração!
Carlos
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