terça-feira, 16 de junho de 2009

"Revelador ..."

...tão revelador quanto política e/ou analiticamente (no mínimo!) desleal é o editorial do "Expresso" de 09.05.09 sobre a «magna» "questão" do chamado 'Bloco Central'.

Aí se defende, aliás, com (praticamente...) todas as letras (só faltam lá o "b", o "d" e o "p" de "banditismo democrático e politiforme" puro-e-duro") a tal "suspensão estratégica da democracia" de que falava Ferreira Leite, ainda não há muito.

Vale, de facto, a pena ler "aquilo" e meditar muito seriamente na Direita que temos hoje como sociedade e com a qual devemos, afinal, todos, queiramo-lo ou não, conviver.

Seria difícil coleccionar maior acervo de mitos, inanidades e meros embustes, num espaço material tão reduzido.

"Coisas" como «a democracia, no limite, atrapalha e, quando assim é, torce-se-lhe muito discreta e muito devagarinho o pescoço»; «nada melhor do que um 'corte gnoseológico' ocasional e estratégico na liberdade para 'refrescá-la' um pouco e voltar a trazê-la para a História já expurgada do seu carácter potencialmente... 'subversivo'»; «o verdadeiro papel histórico e político... 'moderno' das oposições (se não forem, claro, aquelas que o poder expressa e, sobretudo, funcionalmente reconhece e ciclicamente cauciona) é o de confirmar instrumentalmente as respectivas... situações»; «ninguém melhor do que alguém de fora do povo para saber o que ele realmente quer sem saber que o quer»; e por aí adiante.

O modo como as recentes "Europeias" aterrorizaram o status quo económico-político é visível de forma, aliás, gritante por todo o jornal: começa aqui no "Editorial", segue com um texto (literalmente) assarapantado e espavorido de 'um tal Pires de Lima' ao qual só falta invocar expressamente a Virgem para nos 'livrar dos comunistas' e nem se detém num geralmente lúcido e intelectualmente respeitável Daniel de Oliveira que, porém, também decidiu escolher esta edição do jornal para dar uma de "donzelinha anti-comunista trémula e nervosa" a pretexto do "incidente Vital Moreira", no 1º de Maio.

É, como dizia, revelador mas, da minha perspectiva pessoal também imensamente reconfortante assistir ao espectáculo global da "bourgeouille" tremebunda e "chiliquenta", vermelhusca das emoções e dos afrontamentos a ver "a vida a andar para trás" com o óbvio refluxo socrático (foi bom enquanto durou ou pareceu durar, n'é?...) a perder de vez a vergonha deste pávido e faniquento "encolher apressado da democracia", apresentado com clamorosa desonestidade como algo de indesejável mas (alas!) inevitável e fatal.

"Esta evidência", diz o editorialista.

"A questão", acrescenta, "não é de preferência, é de necessidade".

É que, diz ele ainda "há momentos excepcionais na vida política em que..."


Pois...


Nas suas caracteristicamente cínicas palavras, que importa, afinal, que "o controlo do Governo" seja [nestas circunstâncias de apropriação ou aprisionamento unilateral completamente artificial da democracia por um projecto camuflado de cartelização partidária porque é disso e não de qualquer outra coisa que, na realidade, estamos a falar, da cartelização oblíqua do poder, à revelia da vontade popular democraticamente expressa] e que, ainda segundo ele, "o poder discricionário do Executivo [sic] aumente"?


É a vida, como dizia "o outro".


Só que não é, de facto, exactamente "a vida": é, sim, a mera, desavergonhada "filha-da-p... ice" burguesóide neo-liberal desesperada que, ou muito me engano, ou há-de, um dia, não há-de tardar muito, a nós que "conhecemos" já (e amargámo-lo bem!...) "hiltlers" e "salazares", "bragas" e/ou "weimares" que chegassem para uma caterva de gerações...) voltar a levar-nos, como 'projecto (anti?) civilizacional global' à mais negra mas também evitável das ruinas.

Olá se há-de!...


[Na imagem: Karl Hubbuch, "Aufmarsch", 1925/27]

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