segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Publicidades..."


Do "Diário de Notícias" de 10.10.09:

"Publicidade vai aumentar na televisão".

Leio boquiaberto!

Devo dizer que tenho pela publicidade, comercial ou política, a instintiva repugnância que qualquer pessoa adulta sente por qualquer forma de condicionamento, de "mind control", por muito camuflada e bem disfarçada que esteja ou muito atraentemente... "dourada" que tenha sido.

Considero, mesmo, que a publicidade opera, no limite, como uma forma demonstrável de "terrorismo açucarado" a que deixámos como sociedade de reagir negativamente de tal modo nos habituámos a vê-la diariamente nas roupas ilegitimamente usurpadas de "cultura" com que a traveste toda a espécie de "con man" e "con woman" vulgo "publicitário/a".

A própria base (chamemos-lhe 'teórica' ou teorética) sobre a qual assenta a ideia de "publicitar" alguma coisa ou alguém (um sabonete ou um primeiro-ministro ou até mesmo um governo inteiro) configura, a meu ver (é difícil, aliás, reflectindo mesmo apenas um pouco não percebê-lo) a própria aplicação concreta material da mais repelente amoralicidade e a mais desprezível das desonestidades intelectuais.

A negação mesma do princípio de universalidade essencial e escrúpulo inteleccional sobre que assenta nuclearmente a ideia de Cultura com maiúscula.

Por muito que, com efeito, os tais "publicitários" se obstinem em tentar fazer com que acreditemos que "anunciar" é sinónimo de "informar", o que está ali em causa é vender um produto independentemente da sua qualidade intrínseca (ou até mesmo apenas da sua qualidade possível), sendo, para tanto essencial que os defeitos pr+óprios da "peça" ou da pessoa a 'vender' sejam, no mínimo, senão negados, escondidos,

Elididos.

Sonegados.

Insisto: a própria essência 'teórica' da "pub", como lhe chamam familiarmente os franceses, integra (consiste n) uma incontornável desonestidade de base.

Quem informa, é neutro e age, por consequência, neutralmente, i.e. fá-lo por definição com isenção, de forma desinteressada e equidistante, relativamente a algo ou alguém que constitui o objecto da sua mensagem; quem publicita, mede a eficácia intrínseca do que faz de um modo in/essencialmente, 'assimétrico', 'significado' e desonestamente "descentral" pela sua aptidão para tornar apetecível algo que (volto a dizer: por definição--ou ausência primária e... profissional de princípios?...) não é (longe disso!) no mínimo dos mínimos indispensável que em si mesmo o seja.

O que, no fundo, mais repulsivo existe na publicidade é precisamente essa sua pretensão de constituir uma actividade séria e até uma forma legítima de "cultura".

Não é!

O "publicitário" é, sim, uma espécie de... "prostituta total" que não se limita a vender o corpo: de facto, é, no limite (e na realidade!) a própria "alma" que ele vende indiscriminadamente a quem melhor lhe pague, na forma de uma tremenda falsidade que finge, todavia, sempre com o maior dos à-vontades ou dos despudores, acreditar não existir, afinal, em nada daquilo (de muito mau) que faz.

Em nome da publicidade, mutilam-se desavergonhadamente filmes mutilando-os em absurdas "partes" que os seus autores nunca sequer sonharam pudessem existir e violam-se (profanam-se!) regularmente dos mais diversos modos e maneiras toda a espécie de outras obras de Arte, das telas à poesia.

Klee vendendo cosméticos sem poder defender-se da barbárie em que o envolveram e de que o fazem vítima inerme é tão culturalmente miserável e intelectualmente desprezível como um fragmento de Beethoven ou Vivaldi ajudando, também eles completamente vulneráveis e indefesos, a "despachar" frigoríficos e louça de casa-de-banho por conta de um empreiteiro ou outro labrego qualquer naturalmente dotado para o atraso e para a boçalidade!
Escandaliza-me até à incredulidade que ainda mais publicidade seja autorizada a passar na televisão!

Eu não entendo, aliás, por que (in!) exactas... "razões" o direito à recusa a ser incomodado com publicidade não desejada, reconhecido (embora nem sempre 'praticado' mas enfim!...) para as caixas-do-correio seja como se não existisse para os televisores e os rádio-receptores.

Por que (volto a dizer: in/exactas) "razões" e com que igualmente im/precisos e indefiníveis "fundamentos" tenho de passivamente aceitar ser regularmente bombardeado com toda a espécie de necedades e inanidades de cada vez que exerço o meu banalíssimo direito de ligar o botão de um televisor que é meu ou de entrar numa estação de metro que não sendo exactamente minha nem por isso deixa de ser mantida com o meu dinheiro e onde, por isso, tenho o direito de gozar de alguns... direitos--desde logo, o de me deixarem os ouvidos e, sobretudo, a cabeça em paz!

Era bem deste tipo de "ditadura obsessiva do condicionamento e da vulgaridade" que falava, final, Orwell, no seu famosíssimo "1984".

Dessa tirania política e dessa intelectualmente mortal forma de 'colonialismo intelectual' e de 'opressão cognitiva'!


[Imagem ilustrativa extraída com a devida vénia de uncovering.org]

2 comentários:

Alexandre Júlio disse...

Ei Compadri,
á tantu tempu, ......

O devasso da privacidade do comum dos mortais pela publicidade, por todos os meios, é execrável!

Tenho pena de não poder acompanhar, ler, e desfolhar as sua revoltas, que tambem são as minhas, ........ mas vou dando uma espreitadela de vez em quando, muitas sem deixar rasto.

Tive pena de não ter contado convosco á descoderta do nosso Alentejo, mas tal como eu também tu tens muito que gostarias mas não chegas lá!

Para ti e tantos outros que estiveram connosco no coração a 16 de Maio, reservei uma pequena amostra do que foi esse dia, no Abelhinhas.

Um abraço, Alê, Alê!

Carlos Machado Acabado disse...

Olha, quem ele é!
O "Ti" Pirata!
Digo "Ti" Pirata, AGORA mas tive um trabalhão danado para me lembrar do nome: há tanto tempo que "nã no vejo, home"!...
Tanto que até já me "esquecê o nomi"!...
Mas agora já me lembro, pronto...
Claro que vou dar um pulo às "Abelhinhas"!
"Atã" as raparigas têm-se portado bem, é, compadre?...
Têm dado "lêti"?...
Espero que sim "qu' ê gosto muto de lêti d' abêlha"!...
Cá fico à espera da sua visita, outra vez que deve ser, pelas minhas contas, lá para o ano 1221, "nã, compadri"?...
Um abraço!

Carlos