Revendo quase por acidente a versão cinematográfica de "The Master Of Ballantrae" de Stevenson, dirigida por William Keighley em 1953, sou conduzido, ainda uma vez, à minha própria "tese" pessoal envolvendo a questão do que poderíamos talvez designar (eu assim o faço, em todo o caso e à falta de expressão melhor) pelos "fundamentos filogénicos hipoteticamente estáveis das representações ficcionais em geral".
Eu creio com efeito (ao menos, repito, como "tese") que aquilo que vulgarmente designamos pelo termo "ficção" (designadamente do caso das formas ou das modalidades mais "pop" nas quais o elemento de inter-mimese ou contaminação se revela mais presente e mais forte) está (como dizer?) mais ou menos sólida (e também secundária ou terciariamente) a uma espécie de "fundo biofilomórfico estável" radicado na forma precisa que veio a assumir a "consciência" humana atingida a fase da hominização final que, em tese ainda, limita à "ficção", às formas ficionais de representação consciente ou inconsciente da realidade, possibilidade objectiva, material, de multiplicar-se e, sobretudo, a de diversificar-se (sendo finitas as de diversificar-se sê-lo-ão, por definição, as de multiplicar-se) pelo que é, a meu ver, possível supor, como hipótese genérica teoricamente demonstrável, o carácter naturalmente finito (ou, no mínimo, teoricamente finível) daquelas mesmas "representações ficcionais" como todo.
Vendo, aliás, uns dias antes, também, o clássico de Tod Browning "Mark of the Vampire", dei comigo, a dado passo, instintivamente a sobrepor alguns aspectos muito concretos do guião do filme a um conjunto particular de posturas de natureza objectivamente cosmovisional ligadas, por sua vez, a uma certa atitude religiosa básica, objecto de sucessivas mutações ao longo da História da Consciência Humana (e designadamente da das Formas Transformacionais do Pensar Religioso, em geral) envolvendo na essência a "explicação" do mundo.
Estão no filme de Browning (eu diria: disfarçadas de 'motivo narracional puro', associados ao mito do vampiro e tradicionalmente "fixadas" de modo a terem passado a constituir verdadeiros "topos" continuamente retomados pelo "genre" no seu todo) um conjunto de modos de relacionar-se "religiosamente" com o real como sejam a questão do tabu (uma das primeiríssimas formas de tentar alcançar modelos abstractos, senão mesmo teóricos, estavelmente causalizados, do real) ou, não menos claramente, e aliás a ese outro directamente asociado, o da não-submissão individual à autoridade que a tradição judaico-cristã abstractizará substancialmente fixando-o na forma do pecado da desobediência e do sacrilégio de que há traços praticamente por toda a Bíblia, do Antigo ao Novo Testamentos.
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