(Digo que vi "quase" porque os acasos da programação televisiva que marcaram "As Aventuras de D. Juan" com o Erroll Flynn e a Viveca Linfors para as três e qualquer coisa da madrugada, encavalitaram este "The Man Who Would Be King" de que eu já vira fragmentos brutalmente mutilados na "RTP Memória" no Oliveira d' "O Espelho Mágico" e me obrigaram a andar numa roda viva, gravando o Oliveira e tentando não perder muito do Huston...)
Ora, sobre este, devo confessar, para começar, que gosto particularmente deste fulano, o Huston.
Como muito boa gente, aliás!
Era, como se sabe, como sabe quem gosta (mesmo apenas amadoristicamente como eu) "destas coisas" do cinema, um fulano extremamente talentoso e excessivo (um "Howard Hawks irregular e descontínuo") que fez coisas notáveis como essa inesquecível (e muito "steinbeckiana"!...) às vezes irresistivelmente "poética" reflexão sobre a fragilidade estrutural da condição humana e da sua irreprimível vocação para o aniquilamento, baseada numa obra do, em geral, não menos injustamente menorizado Bill Travers.
Gosto do Huston, gosto da filha, da Angelika Huston (que o Allen, o Woody, percebeu muito bem pode ser---que é!---uma excelente actriz de cinema) e até gosto do cabotino incurável do marido desta, o Nicholson que, tirando o facto de ser um chato de todo o tamanho, consegue, quando apanha um papel à medida (com o do Joker) arrancar "exibições" realmente "epustuflantes" e empolgantes.
Enfim, gostos, pronto! Eu gosto, há outros que sim, também, outros ainda nem por isso...
Não interessa muito para o caso.
Quanto ao filme: é um trabalho assinalável (desde logo, do "fabulante" do Connery que teve uma espécie de carreira "à Clint Eastwood", isto é, começou por ser profundamnte desprezado (com muita razão, de resto...) pela intelectualidade em geral: o Eastwood por causa daquelas "barracadas" todas do "Harry Calaghan", do "Joe Kidd" e por aí fora: o supremo fascista, "make my day" e essas coisas todas...; o Connery por causa da "fascistice sexual" e/ou do "imperialismo glandular" do Bond, acabando ambos, de modos circunstancialmente distintos embora, reconhecidos como invulgaríssimos homens de cinema pela crítica mais séria); o filme, dizia, é uma fablosa alegoria sobre a fatalidade da derrocada dos impérios asim como sobre a sua não menos fatal intrínseca perversidade.
Os impérios, diz Kipling pela câmara de Huston, são construídos por canalhas, às vezes, simpáticos, que cumprem destinos, individuais mas, também, a dado passo, colectivos; fulanos que (como aquele "vendedor" aldrabão de um "poema" do Sandburg...) começam , um dia, estranhamente a acreditar realmente naquilo que fazem e que, no preciso instante em que essa crença potencialmente regenaradora se inicia, são apanhados por todas as vilezas e canalhices que cometeram para chegarem a dispor do poder de contribuir para alguma coisa mais nobre e mais sinificativa do que a satisfação brutal da sua própria cupidez e voracidade.
Por isso, eu falei em Steinbeck: "Ratos e Homens" é um texto extraordinário ("extraordinário" para os steinbeckianos incondicionais, pronto!...) sobre a poderosa vocação do humano, aí individualmente considerado, para a podridão e para o fim...
Com o Connery a irradiar carisma e energia, a "coisa" resulta realmente extraordinária: nem sempre muito sóbria e visual/conceptivamente elegante mas enfim quase uma variação pessoal sobre o "filme negro"...
Pelo menos, eu vejo-o desse modo...
E gosto, pronto! A verdade é essa: o filme é globalmente tão interessante que nele nem o Caine consegue estar (completamente) mal...
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