terça-feira, 25 de novembro de 2008

"Cry, The Beloved Country"

Um dos meus "collages" preferidos.
Gosto, de um modo muito especial, do facto de a sua concepção me transportar de volta para o início da década de '70, para a brutal ambiência (como dizer?) "vaporosamente genocida" que à época se vivia no mundo dito "ocidental", com as diversas colónias (as formais e as outras...) a conseguirem, "tant bien que mal", libertar-se do jugo dos respectivos "amigos" e "civilizadores" originários do tal "Ocidente".
Foi neste espírito de revolta contra a apologia oficial do "genocídio civilizado(r)" que vi (e que Ralph Nelson ao que tudo indica realizou) o meu referencial "Soldier Blue", cuja "sombra" paira obviamente aqui nesta tina repleta do sangue de uma anónima vítima, sobre cuja origem étnica simbólica o "typee" sinistramente iluminado no meio das ominosas (e "desérticas", vazias, "simbologicamente des-humanizadas", se se quiser...) trevas (ou Noite) circundante(s) não deixa a mínima dúvida.
Impressiona-me particularmente a sugestão inquietante de puro absurdo que se desprende da imagem deste "typee" isolado onde alguém se lembrou de ir depositar (para quê? Para ocultá-lo? Por escárnio?) um corpo anónimo numa tina gélida como se do cadáver de um animal (ou mesmo o... de um objecto---se os objectos tivessem cadáveres) se tratasse.
Toda a horrorosa e insolúvel, irremediável, fatalidade (e anonimato induzindo a ideia final de coisificação!) da morte está presente nesta desconcertante ideia da deposição de um corpo que já foi humano numa espécie de macabro "altar" grotesca (ou---volto a insistir: sarcasticamente) iluminado.
Absurdo ritual?
Gesto de escarninha revolta contra a in/essencial vulnerabilidade da "condition humaine"?...
Impossível determinar---e responder...

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