sábado, 29 de novembro de 2008

"(Mais) algumas reflexões benfiquistas"


Escrevo hoje, dia 29.11.08, dois ou três dias após o "meu" Benfica ter sido copiosamente derrotado no Pireu e ter deixado enterrado ali, no fundo, para aí setenta ou oitenta (senão for mais) por cento de um projecto que ainda mal tinha começado e já ameaça desmoronar-se por completo: o 'projecto Rui Costa-"Quique" Flores'.
Escrevo, portanto, meia dúzia de dias após ter dito dos jogadores, do Clube, do técnico e do presidente aquilo que Mafoma não disse do toucinho em tudo quanto era blog por esse mundo fora...
Agora, estou compreensivelmente mais calmo--que é como quem diz: mais conformado (na realidade: proporcionalmente desencantado).
E escrevo agora aqui para dizer (já com a cabeça mais "fresca", como dizia o velho Acabado, meu pai) o seguinte: o 'projecto Rui Costa' (que com um bom ponta-de-lança poderia perfeitamente ter representado uma espécie de época-charneira ou de... "despedida-de-solteiro competitiva" triunfante na História do Clube) queiramo-lo ou não parece ter já, de algum modo, chegado ao fim, antes mesmo de ter começado, como disse.
Sejamos claros: como também escrevi noutro sítio, o futuro do Benfica (se é que o Benfica tem realmente futuro: essa é outra questão...) apenas pode passar por duas possibilidades completamente exclusivas e radicalmente alternativas entre si: ou o desmanchar imediato da feira com a venda progressiva dos jogadores "de nome" que adquiriu mas não conseguiu obviamente rentabilizar (o 'projecto Rui Costa' assentava nuclearmente--e esse era já o plano B, ham?--nos quartos-de-final da Taça Uefa onde o Benfica não vai obviamente chegar) e a "sportinguização" do Clube, isto é, a sua reconversão numa "potência" puramente local incomparavelmente mais "barata"; ou o desenvolvimento natural do modelo "industrial" iniciado, de algum modo, com a criação da SAD e a consequente aceitação da venda do Clube a um investidor privado, por um lado e a decorrente "iberização" ou mesmo, a prazo "europeização integral" do Clube, de modo a tornar a referida venda possível porque rentável.
O que me parece ter-se provado manifestamente insuficiente é a aposta num brumoso e hesitante meio-termo configurado na conservação do modelo "híbrido" SAD+Clube assente, por sua vez, na compra de jogadores de segunda para os lançar na competição com os de autêntica "primeira" (i.e. os restos do Inter de Milão; os restos do Real Madrid; uma "ocasião" avulsa resultante da desgraça do Valência etc.) como digo para os relançar na luta directa com aqueles de que os clubes em causa não quiseram desfazer-se e que são, de facto, as respectivas primeiríssimas escolhas, as elites a manter.
O que eu digo é que, se quer mesmo evoluir, o Benfica tem de crescer--mas crescer a sério. Tem, por outras palavras, de levar o paradigma da empresarialização iniciada até às derradeiras consequências.
Tem de seguir os exemplos dos Manchesters, Chelseas e Man Cities.
Em tese, tem mercado para isso mas tem de perceber que a "mercearia do sr. Zé" mesmo com obras e uma pintura nova nunca poderá competir realmente com o supermercado do "Ti Belmiro".
Portugal é um país com um capitalismo "de primeira" onde cabe toda uma sociedade e até um mal--disfarçado proletariado para aí "de terceira": berra por quantas tem que não pode permitir-se um "social" "à europeia" porque é pobre mas não hesita em aceitar ter um sector investimental perfeitamente "europeu" nos lucros que tem e nos que pretende ainda ter (é, aliás, a isso que eu chamo, por razões que de tão óbvias me dispenso de enunciar, o "paradoxo dos dois Portugais").
Mas esses são contos largos que abordarei noutro momento e noutro lugar: para aqui, interessa, sobretudo, reter a ideia de que há em Portugal UM Clube que pode ser no plano competitivo ("Desporto" e "Desportivo" "are words I rarely use without thinking", como na canção do Donovan...) o que determinados supermercados e certas empresas de construção civil são, no plano empresarial "puro": formações completamente estranhas à (isto é, macrocéfalas, grandes demais para a) realidade global (social, económica, etc.) nacional.
As outras, vão vender "para fora", claro, porque isto de haver "dois Portugais" significa que um deles vende mas o outro não pode pura e simplesmente comprar pelo que a única saída é.. a "Europa" (para isso é que ela foi feita e por isso é que eu não consigo falar em "União" "europeia" a propósito do que continua, afinal, a ser--de facto e até de direito--um mercado comum e nada mais).
Falo obviamente do Clube cuja imagem escolhi para ilustrar esta 'entrada': "no other than" o Sport Lisboa e Benfica.
Mas, se as "outras" vão vender "para fora" porque, com as condições que foram criadas ou que elas próprias criaram para chegarem ao ponto de serem o que são, os "de dentro" não podem comprar, como podem os clubes que aspiram a rivalizar com os grandes europeus não fazer no domínio específico onde actuam, exactamente a mesma coisa?...
Essa é que é a grande questão.
E é exactamente por isso que eu digo que ao Benfica (que, continuo a dizer, é o único representante da Competição entre nós que pode chegar a ser o "Incontinente" ou o "Fodelo" da Europa--chamo-lhes assim porque não me pagam para fazer propaganda seja a quem for, ham?...--na dimensão das receitas e consequentemente na dos lucros gerados) apenas resta, para poder crescer "ir para fora", competir (como defende, de resto, abertamente o presidente do Sporting, o Dr. Soares "Fraco") numa qualquer liga europeia que há-de formar-se um dia, mais cedo ou mais tarde.
Que há-de formar-se como a chamada "Liga dos Campeões" se formou da "Taça dos Campeões Europeus", para não irmos mais longe.
A questão não é, pois, se o Benfica vai: é, em última instância, quando vai.
Para terminar: eu digo que o Benfica é o único que pode ir.
Porquê?
Bom porque o Porto não parece conseguir deixar de ser um clube de região (eu não digo "regional" que é demasiado feio mas "de região" com certeza: foi uma escolha feita pelo clube, como demonstro noutro lado) e o Sporting não tem nem nunca teve qualquer significado europeu pelo que, a consumar-se a sua "europeização", esse significado teria de ser criado completamente ex-nihilo, digamos assim. Um catalão pode pagar para ver o Barcelona "vingar" aquela final dos 3X2 em Berna: há uma tradição envolvendo o Benfica e o Barcelona que pode ser usada como intrumento de marketing; o mesmo acontece, até em maior escala, com o Real Madrid.
E com o Sporting?
Com o Sporting acontece como naquela vez em Bruxelas em que eu falando com um grupo onde estavam belgas e espanhois da STIB referi o nome do clube e toda a gente desatou a rir pensando que estava a brincar.
A brincar com os nomes do Sporting Club Anderlechtois, num caso e com... o Sporting de Gijón no outro...
Melhor (mais eloquente, mais conclusiva!) comprovação de quanto aqui deixo dito era seguramente difícil de encontrar...
[Na imagem: um (o principal!..) dos preciosos cromos da colecção dos anos '30 que refiro noutro ponto deste "Diário"]

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