domingo, 23 de novembro de 2008

"E Eu Até Gosto de Futebol, ham?..."

Pois gosto! Talvez nem tanto, admito, de futebol como do Benfica.
Do Benfica que eu inventei, entenda-se, desse seguramente gosto---e muito!...
Mas desse já eu falei que bastasse noutro ponto do "Diário".
Para já, pelo menos...
...E se agora aqui o fui re/buscar foi por causa de uma "coisa" absolutamente inominável publicada no (esse sempre inominável!) "Diário de Notícias" (neste caso, no de 23.11.08) "à boleia" do futebol.
...Futebol de que francamente não gosto quando, como aqui, se deixa escandalosamente instrumentalizar a fim de abrir a porta à emissão tendenciosa de juízos (?) (de uma mais do que discutível isenção , ainda por cima!) sobre matérias que deveriam merecer francamente mais respeito e, sobretudo, um tratamento global digno, dado por quem esteja à altura de fazê-lo com a seriedade e o rigor mínimo que os assuntos envolvendo directa ou indirectamente o futuro do País justificam.

Foi o caso de um senhor comentador desportivo ter decidido utilizar o desporto e em particular o futebol para emitir um parecer pessoal sobre o actual contencioso entre a ministra da Educação e a própria Educação do País (o contencioso, não tenhamos dúvidas é mesmo entre a ministra---que está, aliás, a ser amplamente goleada!...---e a Educação que alguém, seguramente muito optimista, em má hora se lembrou de lhe dar para tutelar: não é, de modo algum, entre ela e os sindicatos ou as escolas ou quaisquer grupos profissionais organizados ou não); foi o caso, dizia, de ao tal senhor ter ocorrido entre loas a um guarda-redes qualquer que até já nem joga, acho eu, e meia-dúzia de doutíssimos "bitates" sobre 'como deve jogar a selecção de futebol', debitar a... objectivíssima lucubração que se segue sobre um sindicalista da área docente: "se o meu aparelho de televisão não fosse meu, de cada vez que Mário Nogueira [o sindicalista de que o senhor não gosta] lá aparecesse (como aparece) atirava um sapato ao ecrã".
Gosto, como digo, razoavelmente de futebol (e, volto a dizer, muito do Benfica).
Gosto de gente que escreve sobre futebol quando o faz como um Luís Freitas Lobo, um António Tadeia ou até um João Lopes (que escreve habitualmente sobre outras coisas) com a cabeça e não com os pés ou mesmo só com os sapatos sem os pés.
Gosto de gente que escreve sobre futebol porque gosta dele e o respeita.
Não gosto, francamente, é de gente (e de jornais) que usam directa ou indirectamente o futebol como arma-de-arremesso contra os deveres de isenção e inteligência que devem nortear quem escreve para "toda-a-gente-e-ninguém", acreditando (e 'confirmando'!) tacitamente que ele, futebol, é, na realidade, uma espécie de bobo ou de eterno 'palhaço pobre da lucidez', dispensado por esse (nada nobilitante, como se percebe!...) "facto" de substanciar o que diz e garantir desse modo que isso que diz merece ser ouvido e, sobretudo, estimado: parte legítima de uma verdadeira cultura do esclarecimento, da isenção e da inteligência.

...E termino pensando: eu (que até comprei o jornal apenas porque dava um filme mas pronto, comprei!...) tenho mais sorte do que o comentador.
É que felizmente um jornal não é um televisor, custa (e muitas vezes---o que, de um certo ponto de vista, até nem é fácil!---vale!...) bem menos e, agora que já tenho o filme, vai dar-me um gozo danado seguir a sugestão do comentarista e atirar-lhe mesmo (ao jornal, claro!) com a valente sapatada que merecem os objectos e as pessoas que tentam "dar-nos a volta" para um lado, imaginando sonsamente apanhar-nos desprevenidos a olhar para outro!...


[Ilustração: cromos dos anos '30 de uma preciosa colecção adquirida em tempos na velhinha Feira da Ladra. A página escolhida para ilustrar estas notas refere-se a quatro clubes da cidade de Lisboa: um Shell Sport Club de que não possuo qualquer outra referência ou memória alternativa; o Sport Bom Sucesso que suponho continuar a existir ainda hoje, o velhinho Palmense da Palma de Baixo, a Benfica e o próprio Benfica, o Sport Lisboa e Benfica.]

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