domingo, 30 de novembro de 2008
"A velha «Almirante Reis»"
A velha, pois--porque "a de hoje" não tem rigorosamente nada que ver com "a minha"...
Claro que a "gente dos Anjos" ia à Graça (quem ia, claro!...) ao Liceu, ao 'Gil'; se houvesse dinheiro, subia a Avenida e ia ao "Império", se não o houvesse, fazia exactamente o oposto, descia-a, e ia ao "Piolho", no Martim Moniz ou ao "Olympia", já na Baixa.
O nosso bairro era (literalmente!) a nossa casa, a nossa família.
Ainda a "velha" Almirante eis aqui numa foto de 1908. À direita, abria-se o mundo fascinante porque proibido do "Intendente", cujo nome apenas se articulava, no seio das famílias respeitáveis num conveniente cício. Esta zona da 'Almirante Reis' era, de rsto, uma espécie de fronteira invisível, na década de '50. Para cima, a Lisboa respeitável, séria. Daqui para baixo, até ao Martim Moniz e à Mouraria (inclusive, em ambos os casos) , a "cidade proibida". Por exemplo, ao "Lys", iam as famílias, ao "Rex", "os operários" e (claro!) as prostitutas. Entre a sólida "respeitabilidade" do meio do século havia uma linha muito ténue e fluida a separar ambas essas (por razões em si mesmas distintas: profundamente inquietantes!) entidades...
Era um problema fumar porque toda a gente se conhecia dos Anjos à Graça, por um lado e à Praça do Chile, por outro (eu, pelo menos, assim acreditei durante muito tempo!...) e ia contar tudo ao "velho".
Curiosamente, fui re/encontrar esta cidade pluralizada e granular (quando já morava no anonimíssimo Bairro de Sta. Cruz um dos vários pontos onde a cidade se desarticulara e se começara já fatalmente a des-integrar, no final da década de '60) em Paris, no início da década seguinte, a de '70.
Montparnasse, por exemplo, era um verdadeitro Alto do Pina apenas um pouco mais acima ou mais a leste do que o outro...
Ao fim de uma semana, já conhecíamos toda a gente e já toda a gente se nos dirigia com a familiaridade que apenas se usa para os "nossos"...
As pessoas viam-nos as silhuetas entrar nas lojas, desconfiavam, começavam bruscamentre a retrair-se mas mal nos reconheciam havia, de imediato, aquele tranquilizador descontrair-se de "Ah! C' est vous!" que reconhecíamos imediatamente como um código secreto entre cúmplices...
A padeira da Rue Raymond Losserand ia logo buscar os inesquecíveis "pains brisés" que só ela fazia, a senhora da "brasserie" começava logo a fritar os ovos e o presunto antes mesmo de a gente pedir porque os ovos e o presunto foram, em Paris, uma fantasia de que não abríamos por nada deste mundo mão...
França, Paris, Montparnasse-Bienvenue, a Rue Raymond Losserand (onde se situava o "nosso" Hôtel de la Paix) numa imagem extremamente curiosa feita durante a "Ocupação"
"«Mon Oncle» encore une fois..."
Muito interessante (e estimulante!) é o debate que se reabre, por outro lado, no filme em torno de um velho equívoco/conflito "oliveiriano" relativamente ao Cinema--algo que estava já nos textos "teóricos", didascálicos referentes à "Benilde", por exemplo.
sábado, 29 de novembro de 2008
"(Mais) algumas reflexões benfiquistas"
"«À Iguinórância» da «Juventudji» é um «Issepanto»!..."
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
"Papa Siggy" ("collage" do titular do blog realizada sobre uma obra de António Carneiro e divulgada com texto em "Um Não-Alexandre Onírico")
"Alguns «espelhos» clássicos no Cinema"
"O Espelho Mágico", filme de Manoel de Oliveira
Toda a vida, diz ele, é um espelho.
(1) Permiti-me, de resto, propósito cunhar o termo "naughtopy" ou "projecção e representação nulotópicas" em Beckett, uma ideia que, não sendo propriamente, exactamente como tal, comum a Oliveira, tem com ele, designadamente no que considero ser a temática latente deste "Espelho Mágico", algumas possíveis analogias e simulitudes.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
"Elia Kazan e a questão dos compromissos"
terça-feira, 25 de novembro de 2008
"Cry, The Beloved Country"
domingo, 23 de novembro de 2008
"Dunas"
"O Deserto Vermelho"
"A Feira Depressiva e Cabisbaixa"
"Uma gracinha" (sem bonecos meus desta feita...)
E se faz!...
[Ilustração extraída com vénia de healthyliving-wellness.blogspot.com]
"The Man Who Would Be King" de John Huston
"Os Seis Dias da Democracia" (ou será "Da Ditadura? Já não me lembro...")
O que está "a dar" nestes últimos dias, é juntar críticas e mais críticas; censuras e mais censuras à "indignada, crítica censura" entretanto já surgida às "epustuflantes" declarações das Dra. D. Ferreira sobre os "seis dias da ditadura" (acho que era a seis dias---mas talvez fosse a seis meses ou até a seis anos: para o caso tanto faz...---que ela se referia quando dizia que só se se suspendesse por esse tempo a "democracia" é que "não sei quê mais o governo et al".
Bom, francamente, tão indiferente (senão mesmo---especialmente no caso do governo---tão alheio e até tão hostil!) me é o próprio governo como a Sra. D. Ferreira mais os seus "mots d'esprit" característicamente retorcidos e pardos de graça.
O que eu quero a propósito sublinhar é a (gritante!) imensa hipocrisia da maioria das "críticas" citadas.
Melhor: a que "democrático" fenómeno aludiu ela implicitamente nas suas recentes declarações?
Ao facto de que a "democracia" precisa afinal de ser estrategicamente mandada... "descansar" de forma mais ou menos periódica a fim de permanecer "operativa" e, no fundo, real (ou virtualmente?...) possível?
Que, para os muitos postuladores das famigeradas "maiorias absolutas" como pressuposto "essencial" de "reforma" ou reformação política é disso mesmo que se trata i.e. de suspender camufladamente o que há-de de mais estruturalmente democrático na democracia (tendo o cuidado de fingir que se trata de reforçá-la, "reformando-a"...).
Que, para esses, a "democracia" (a tal "democracia funcional" nunca confessada---porque nunca confessável!---que está de facto presente, de forma implícita, nas suas invariavelmente farfalhudas teóricas lucubrações) é óptima para gerir tempos em que as populações estão objectivamente controladas e portanto tranquilizadoramente conformes com o status quo mas que deixa imediatamente de sê-lo mal as "crises" explodem e a "democracia" precisa de "muscular-se" para se "defender"?
Para se "defender", seja em casos-limite como foi, por exemplo, o da Espanha contra a ETA, luta em que no tempo de González e dos GRAPO se atingiu o impensável; o da Inglaterra durante as intermináveis e não menos (pelo contrário!) sangrentas "perturbações" irlandesas (o que jornais "normalíssimos" como o "New Statesman" disseram, nessa altura, dos métodos da polícia e do exército ingleses na sua luta contra o I.R.A. é verdadeiramente de bradar aos céus em matéria de cavilosa selvajaria e da mais sangrenta brutalidade!) seja muito mais recentemente nesses inimaginavelmente histéricos, neo-maccarthyistas Estados Unidos "bushmen" onde a barbárie se tornou im/pura e simplesmente política-de-estado, dentro e fora do país.
Mas não só nesses "casos-limite", de facto.
O dispositivo constitucionalmente "pacífico" das maiorias absolutas nada mais é, de facto (e, pior ainda, de direito!) do que a posibilidade de, sem admiti-lo expressamente (que é como quem diz: sem confessá-lo!) introduzir "estrategicamente" ciclos de cinco ou mais anos de suspensão ou hiato democrático puros num sistema normalmente democrático que precisa, porém, segundo esses e a fim de seguir desepenhando "normalmente" as deformadas e disfuncionais funções que a economocracia global prevalecente reserva ao respectivo "revestimento politiforme" de recorrer ao seu próprio "contrário absoluto", estrategicamente instalado no próprio centro da maquinaria institucional democrática a fim de conseguir (através da eliminação cíclica do pressuposto democrático nuclear da persuasão em lugar da imposição) manter um certo regime económico, social e político, com uma certa forma fixa e imutável solidamente preso à História e livre da (im) possibilidade de transformar-se.
Aí, não são seis dias ou seis meses ou seis anos: são cinco de cada vez: foram mais de dez durante a tenebrosa noite cavaquista e já vai em quase cinco agora que vigora esse não menos sinistro "entardecer socrático".
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