Eis uma espécie de re-sátira política onde o espírito e a técnica da colagem se revelam particularmente úteis no sentido da obtenção de significado adicional do que (em muitas circunstâncias, como é claramente o caso presente) na origem já era ironia e crítica.
A cara é de um funcionário público conhecido, reconstruída em pasta ou papier mâché ou qualquer coisa do género para um Carnaval qualquer, desses muitos que proliferam por todo o país numa certa época do ano---funcionando como uma espécie de eco pobretanas e não-raro confrangedoramente boçal, do que o subdesenvolvimento e a pura imbecilidade (operando como uma espécie de devastador ou mortal afrodisíaco...) fazem, apesar de tudo com outra imediata grandeza , no Brasil ou no Haiti...
O fato, porém (que podia ser o de um qualquer Don Corleone do filme de Coppola e/ou do livro de Mario Puzo) assim como o rosto (surgindo aqui, para além de subtilmente desproporcionado, como se feito de barro ou lama) trazem para a ironia original uma mais-valia de sarcasmo agreste e selvagem (assassino...) que a menção à "beleza", do lado esquerdo da imagem potencia ainda mais.
A colagem é isto, na sua essência: a multiplicação e o cruzamento dinâmico de registos mais ou menos subliminares, interpotenciando-se até ao limite teórico (im?) possível.
A colagem é (repito aqui o que escrevi algures) "o real comentando-se a si próprio", uma espécie de subtilíssima e letal inteligência, ínsita e final---ou definitiva!---da Estética.
1 comentário:
Olá amigo. Por ser domingo, dia de boa vontade e descanso não há comentário, mas...o que é que a imagem tem que não me sai do olhar o pequeno Joe (kafkiano) por onde ontem passei junto ao CCB?
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