Deste "mangas" com muita graça (e muito talento!) contava-se uma anedota giríssima---cujo espírito gostaria de recuperar aqui como sendo o próprio ideal de um espírito para este "Diário".
Foi o caso de ele ter dito, um dia, que adorava que alguém se lembrasse de levá-lo a tribunal para ele ter finalmente oportunidade de dizer aquilo que sonhava há anos poder dizer.
Ou seja, dar-lhe a oportunidade de, quando o juíz ou a juíza proferisse o inevitável, "Levante-se o réu!" ele responder prontamente com uma fase longamente engatilhada que era nem mais nem menos do que esta: "Levante-se você, seu filho/a da puta!"
É, como disse, literalmente este o que gostaria que fosse, em última instância, o "espírito" deste "Diário"---o seu "génie", como dizia o Butor, num título célebre, a propósito de alguns dos melhores "lieus" por que passou.
Um juíz, por amor de Deus, é um tipo como os outros. E é um tipo que devia servir os outros, a comunidade que lhe paga o pão com manteiga e o café com leite do lanche!
Como os paga um professor ou a um polícia.
Ou a um desses "faitnéants" ou dessas putas que nos custam cada vez mais os olhos da cara e a que chamamos com desmedida ambição e optimismo: "os políticos...
São gajos e gajas que foram 'inventados' para servir---não para serem servidos.
Por nós todos como sociedade.
Mas, entamo-nos: não se trata aqui de desrespeitá-los ou de ser gratuitamente rude com eles.
Não!
Aquilo de que aqui se trata é de repor as coisas nos seus devidos lugares como pressuposto essencial de cidadania.
Aquilo de que aqui se trata é de ser "revolucionariamente indelicado" e "educadamente descortês".
Ou seja, de ser mal-educado como opção política e acto de civismo.
Como princípio.
Quem não tiver percebido isto, não terá percebido nada de Cinema (do do João César, com certeza!)
Mas (pior ainda!) não terá percebido nada de Cidadania.
E, para castigo, fica condenado a levar com Sócrates e Filipes Meneses o resto da vida!
E olhem que não é dizer pouco!...
Sem comentários:
Enviar um comentário