terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A "questão monárquica" na 'ordem do dia' (1)


Detenho-me, quase por acidente (trata-se de um texto do "D.N", jornal que só por acaso folheio), num texto de Miguel Real ("Regicídio, o Pecado Original da República") inserto na edição do dia 2 de Fevereiro.

Do texto, extraio algumas ideias curiosa que me fornecem o ensejo para meia-dúzia de reflexões pessoais.

Primeira: a ideia de que "é (...) profunda convicção" do autor que "casdo tivesse sobrevivido, adaptada ao tempo europeu" a monarquia "teria igualmente promulgado as leis mais importantes da República (lei da separação Igreja/Estado; lei da laicidade do ensino; da reforma da universidade; lei do divórcio; lei do registo civil; nacionalização de algumas propriedades da Igreja... )".

Ainda que não seja eu próprio historiador como o autor, devo (atrever-me a) dizer que não me restam muitas dúvidas da razão que a este, com outro cabedal de conhecimentos nesta área, assiste, no que se refere a este ponto em concreto.

Penso mesmo que terá sido (é!) esse um dos grandes "pecados" (não sei é se originais: creio que não...) da "República" ou das repúblicas 'dappertutto': o de ter(em) acabado, de modo mais ou menos melancólica e "fatal", fazendo exactamente as mesmas coisas que uma monarquia faria.

Porquê? Devido exactamente a quê?

Pois, a meu ver, devido, desde logo, ao modo, digamos: "significado", como estão invariavelmente (des)estruturadas as sociedades ditas "ocidentais", i.e., rigorosamente "ao contrário" do que seria desejável e natural, com a Política invariavelmente usada na condição ancilar, apócrifa e espúria, de mero "argumento" ou de simples "instrumento indutor e propiciador", ou seja, de simples "revestimento politiforme" (des) estruturalmente funcional" do modelo económico-financeiro-político (o do chamado "capitalismo industrial") encontrado no século XIX e que a "política" está obrigada a "justificar" e a "legitimar social e até cultu(r)almente", sendo essa, aliás, a "missão" histórica que lhe está, básica e primária (que é como quem diz: realmente) cometida.

Dito de outro modo, ainda: achado o paradigma, a "política" foi forçada interiormente a sofrer uma "rotação" completa do seu "património" (mais do que teórico: epistemológico) que fez dela o instrumento destinado, não a mudar as sociedades do tal "Ocidente" sempre que tal, em tese, se impuser e for do interese dos indivíduos como tal, mas, pelo contrário a "explicar" histórica, social, cultu(r)al, política e até civilizacionalmente, por que (supostamente "essencial"!) razão as sociedades "ocidentais" NÃO mudam nem devem, em caso algum, mudar. Achado, piois, o paradigma neo-burguês de exploração económica, a "política" foi chamada a "prender firmemente" a História à Economia mas, sobretudo e mais perverso ainda, a "prender firmemente" essa mesma História a um determinado paradigma económico particular e específico.

Ao poder dito 'político' está entregue a 'missão' real, última (como costumo dizer, recorrendo a um anglicismo que garante, a meu ver, o rigor máximo da expresão: "ultimativa"---em inglês, "ultimate") de zelar para que o modelo inversional que constitui, logo a partir do plano teórico ou teorético, a base mesma da organização das sociedades "ocidentais" se concretize fielmente em cada tempo e em cada História.

Independentemente de se tratar, em termos político-formais (e sublinho, aqui, de um modo muito particular, o termo 'formais'!...) de uma monarquia ou de uma república.

[Na imagem: o rei D. Carlos, numa fotografia original de Octávio Bobone que adquiri, em tempos, na Feira da Ladra de Lisboa]




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