domingo, 17 de fevereiro de 2008

Eu em Santiago de Compostela

Mau grado as minhas irrecusáveis e bem conhecidas (bem conhecidas de mim próprio, entenda-se...) 'pulsões profanatórias' (que me levam, por exemplo, a gostar de Buñuel, de Cronenberg, de Ferreri/Bukowski---os "Contos da Loucura Normal"---ou de Lynch/Burroughs, por exemplo---não de Henry Miller, Miller era excessivamente americano, isto é, esquemático, suposto e linear---blenorrágico---para o meu gosto...); mas mau grado as tais pulsões, dizia, possuo, paradoxalmente, uma costela extáctica e (talvez?) instintivamente adorativa que me leva a ceder a fraquezas como esta de viajar até Santiago e (mais grave ainda!) de sonhar (com cada vez menos convicção mas enfim...) "fazer" um dia "o Caminho".
Mas não um Caminho qualquer: o Caminho francês, percorrendo as "est(r)elas" todas de Lizarra às diversas Estrellas e por aí fora.
Ora, o que há de curioso com este tipo de pulsão é que elas, as pulsões deste tipo num... tipo como eu, em geral não têm qualquer sentido específico reconhecível, se assim posso dizer. Isto é, a gente tem-nas mas não as consegue, em última instância, integrar no todo remotamente "orgânico" que é suposto sermos.
Ou melhor, talvez seja possível mas apenas por absurdo; e talvez seja possível porque elas são capazes de fornecer, afinal, bem vistas as coisas, ao tal todo hipotético que gostaríamos de ser o cimento da contradição de que tipos como eu necessitam como do pão para a boca para se conservarem minimamente íntegros e (não sei se é possível dizer assim:) íntegros e razoavelmente unânimes...
Íntegros e razoavelmente unânimes consigo mesmos.
Whatever that means...
"Consigo", quero eu dizer: whatever "self" means e assim.
A contradição, o paradoxo despertam-nos, espicaçam-nos, impelem-nos a questionar-nos: questionam-nos. Um tipo até é capaz de fingir crer que existe se o espicaçam, não é?
O chato é quando um fulano é "todo ele", por assim dizer: o mesmo de manhã à noite.
Sem intervalos.
Sem frinchas.
Não! Como dizia o "outro", a constância é um erro que não cometo e a identidade vício a que não me posso permitir...
Aqui estou eu, pois, no Obradoiro, feito peregrino de uma coisa em que não creio, sem sequer fingir com muita arte fazê-lo.
Imagine-se que até as mãos no buraco à entrada meti!
Ah! A "máquina do Eu" é uma coisa bem estranha e complexa, ai isso é!...

Mas comprei livros num ferro-velho à saída, pronto!...






Sem comentários: