sábado, 31 de julho de 2010
"Um sítio em Lisboa"
"Para que o não esqueçam..."
sexta-feira, 30 de julho de 2010
"Três Coisinhas Que Me Vieram De Repente, Quase Por Acaso, ao Espírito..."
Subtítulo: "Breve ensaio sobre os restos morais da República na escória recente de Portugal"...
"«Fim da História» ou «Vértice Civilizacional»: Breves Reflexões Pessoais Sobre a Crise Económica"
O tema é o que o título tão directa [senão tão rebarbativamente] começa logo por enunciar: o chamado Plano de Estabilidade e crescimento da dita União Europeia.
Sobre este muitas coisas haveria a dizer em matéria de hesitações, arbitrariedades e dificilmente explicáveis contradições---e J.M. Fernandes [honra lhe seja feita!] diz algumas delas.
Não que é quase impossível a alguém com um mínimo de bom senso dizer.
Para mim, no texto do ex-director do "Público", mais uma vez, o problema não é a o diagnóstico: são a terapia---e a [suposta] "cura".
Mas já lá vamos, já lá vamos...
Para já fiquemo-nos por algumas [eloquentes] citações:.
Primeira: "O PEC é mau e perpetua a mentira em que temos vivido porque não enfrenta---se bem que também não ignore---o nosso principal problema: não somos capazes de crescer. O país está estagnado há uma década, bastando recordar que o PIB per ccapita em 2009 ter-se-á situado, a preços constantes, ao nível de 2001. No quinquénio de Sócrates, o crescimento médio do PIB quedou-se nos 0,1 por cento, isto é, em nada. O PEC, mesmo assim, prevê um crescimento médio de um por cento em 2010-2013, o que está no limite superior do optimismo, mas não deixa de ser anémico. Mais: com os cortes que o PEC prevê no consumo e no investimento público é duvidoso que mesmo esse valor pouco ambicioso possa ser alcançado, sobretudo porque a Europa toda está a querer colocar as contas públicas em ordem e dificilmente a procura externa para as nossas exportações compensará a dieta interna.
Segunda: "Na verdade, o PEC, por falta de ambição estratégica, consagra um ciclo vicioso: como o Estado não pode endividar-se mais, corta no consumo público e, no que toca ao investimento, este diminuirá".
Sobre o amadorismo, o voluntarismo e sob diversos aspectos a incompetência demonstrável [e demonstrada!] de Sócrates e Ca. Lda. estamos conversados.
Os factos---e os números---falam por si [e José Manuel Fernandes aponta alguns bem graves er bem preocupantes.
Sócrates é um piloto de cacilheiro que está perdido se o obrigarem a sair do conforto estático da linha recta que separa o Terreiro do Paço de Cacilhas--- precisando, já agora, sempre de ver ambos ao mesmo tempo... "para se orientar".
Os seus em regra inomináveis ministros não ajudam, claro, mas Sócrates como Santana Lopes não pode aspirar a mais---nem melhor: onde "o outro" tinha a improvável Seabra e mais toda uma coorte cujos nomes piedosamente já todos esquecemos tem ou teve "este" os Pinhos, as Rodrigues, os "Jamés", as escritoras pedo-pimba de rabo alçado, promessa fácil e risinho tolo.
O problema não é esse: o problema é obviamente mais fundo.
Que Sócrates não é homem para gerir dificuldades [resta saber se o faria de forma minimamente competente o ex-aluno da Independente a quem devemos algumas das mais criativas---e voláteis---autobiografias oficiais assim como alguns dos mais definitivos exemplares da arquitectura "bosta de mamute"]; que Sócrates, dizia, seria sempre o pior remédio contra os problemas é pacífico; a questão, porém, é: sê-lo-ia objectiva, materialmente alguém?
Continuando a citar José Manuel Fernandes.
Terceira citação: [...] como o Estado não pode endividar-se mais, corta no consumo e no investimento público e, no que toca ao investimento, este diminuirá para níveis historicamente baixos, o que traduz o abandono de qualquer estratégia keynesiana, tão defendida ainda há algumas semanas; como, mesmo assim, o nível da dívida já é muito elevado e o peso dos juros também, procede-se a privatizações para tentar, com receitas extraordinárias, travar a espiral de endividamento, mas esquecendo que alguns dos compromissos das parcerias público-privado só caem depois de 2013, quando já não haverá nada para vender; como, mesmo assim, o peso do Estado não diminui, aumentam-se os impostos e os encargos associados à criação de emprego, assim comprometendo uma retoma pelo lado da economia real".
Ora, para mim, desta análise [difícil de refutar nas suas linhas básicas] resulta difícil não se ser forçado admitir, ao menlos em tese, que se terá chegado [entre nós mas não só entre nós: "há por aí Grécias" em graus e para gostos variados, pelos vistos...] a um "cul-de-sac" estrutural em cujo contexto Sócrates não passa de uma piada de mau giosto mas sem verdadeiro peso ou relevância.
Há muito que venho, com efeito, defendendo que a chamada [ou chamável] "economocracia democapitalista pós-industrial" é uma espécie de aviãozinho completamente dependente que só consegue levantar voo e operar [sobreviver] se por perto andar [devidamente camuflado para se confundir o mais eficazmente possível com o próprio mar...] sempre o "porta-aviões Estado" para i-la reabastecendo e, assim mantendo, a ficção imediata da respectiva autonomia.
Ou seja: a função 'neo-burguesa' do "Estado [dito] Social" não é, na realidade, a generosa e solidária função de humanizar continuamente um sistema---o capitalista---des/estruturalmente des-igual [e socialmente disfuncional]; a função do referido modelo de Estado ou de "estaticidade prática" e até, de alguma forma "teórica" [Keynes tê-lo-á, afinal, em última mas real análise, "dito" de outro modo] para além de conservar através de diversos planos de "subsidiação funcional" o modelo económico-social políticamente tolerável e, portanto, objectivamente possível, desempenhava cumulativamente esse outro papel essencial de recapitalizar um mercado que o próprio modelo a funcional normalmente ciclicamente desequilibrava e comprometria.
Tão simples quanto isto: o Estado dito Social sempre esteve politicamente "ao lado do sistema", para o qual foi, durante décadas, um excelente [um capital e indispensável] investimento ou reinvestimento funcionante destinado, pois, a evitar a implosão social e política do próprio modelo, como tal.
Keyns não é senão o "reinvestimento teorético" neste duplo princípio funcional sobre o qual assentou "en fin de partie" a sobrevivência material do paradigma democapitalista ocidental que, com o uso funcional do Estado "roubou a História ao socialismo" [ao de Marx e do marxismo] e foi conseguindo, "tant bien que mal" conservar a respectiva "propriedade" ao longo de décadas.
O que está a suceder hoje são tão-somente contradições [objectualmente insanáveis mas também "fatais"] do próprio modelo de apropriação da realidade do democapitalismo industrial, primeiro, e pós-industrial-tecnológico, em seguida.
Este, com efeito, ao converter o conhecimento numa forma de, primeiro, propriedade [foi o seu argumento histórico e político básico para "comprar legalmente a História" à aristocracia, no final do século XVIII] e, depois, num capital [num proto-capital e/ou matéria-prima chave no processo de re/produção contínua de capital] operou um verdadeiro corte epistemológico nessa mesma História ao reduzir progressivamente [até ao limiar da disfuincionalidade, de facto] o papel estrutural e nuclear do capital variável [a tecnologia transformava-se automaticamente em capital fixo e era imediatamente investido na produção sem passar pelo Homem] o que vtrouxe como consequência inevitável a cisão teórica e prática da ideia de indivíduo ou cidadão.
Isto é, se a burguesia entrou na posse da herança histórica porque pôde argumentar que dispunha do poder de transformar a realidade em valor que a aristocracia perdera, os sectores não-possidentes, o proletariado, foram autorizados a entrar nela devisdo à única forma de propriedade de que dispinham e quie era essencial, indispensável, para fazer funcionar a economia e, por conseguinte, a própria História: a força de trabalho.
Esta comprou-lhe um lugar na História mas não foi a única coisa que o fez: ao lado desse papel crucial de produtor, existia uma segunda "função" dos indivíduos e da sociedade que era a de se converterem naturalmente em mercado, reciclando, desse modo, o investimento feito em salários e subsídios ditos "sociais", quando e onde passou a havê-los.
E passou a havê-los exactamente por isso: para operacionalizar continuamente o sistema, roubando-o ao mesmo termpo ao socialismo.
Ao integrar historicamente o saber na História na forma de propriedade privada e matéria-prima básica no processo de 're/produção significada' de capital, o sistema económico-político, roubando de passo "espaço funcionante" ao indivíduo produtor, "dissociou ou des-integrou teoreticamente", digamos assim, o conceito de "indivíduo", de cidadão, ao pretender aproveitá-lo continuamente como mercado, mas dispensando-o a montante como produtor.
O peso "desmesurado" do Estado de que fala Fernandes no seu artigo nasce sistemicamente daqui, desta necessidade angular de recuperar a ecologia do modelo, do modo de produção, posta continuamente em causa por ele próprio ao "voluir" naturalmente.
O mito de que o Estado social é "generoso" e paga com crescentes dificuldades a sua "desinteresasada generosidade" não passa disso mesmo: de um mito que apenas é possível conservar vivo na "cultura" do capitalismo moderno e pós-moderno porque este conseguiu já "comprar" no essencial as elites pensantes do sistema por si formado [entre as quais elites se encontra aliás, o autor do artyigo que comecei por citar, José Manuel Fernandes, o autor do artigo do "Público"].
O mito sobrevive à custa da incapacidade de grande parte das forças de Esquerda [encurraladas e mantidas "em respeito", "at bay", por uma Idade Mídia onde só os grandes grupos económico-financeiros voltaram a ter voz pública audível] para gerarem elas mesmas uma cultura consistente e extensiva assim como uma inteligência da realidade própria e verdadeiramente audível.
A velha ideia não-expressa de "cidadania funcional" que permitioa manter as sociedades, de uma forma geral, orgânicas ["funcionalmente orgânicas"] perdeu com todo este processo de "enclosing estratégico" dos bens, da propriedade, que vem, numa certa "forma significada", desde a Revolução Industrial inglesa; essa velha ideia geralmente não-expressa, dizia, perdeu naturalmente substância e fundamento.
Como eu costumo dizer: para o capitalismo passou a representar um luxo verdadeiramente incomportável possuir uma sociedade".
O problema é que sem sociedades não há mercado e, por conseguinte, deixa de haver sistema.
Este autêntico corte epistemológico introduzido pelo democapitalismo trecnológico na ideia de "indivíduo" está pressupoasta mas eloquentemente reflectido noutro texto que quero aqui citar, este outro, do "Expresso" de 26.06.10 [Cf. Henrique Raposo, "Fadas socialistas"] onde o autor se insurge, de forma veementemente escadalizada, contra a "loucura" do que chama o "princípio da proibição do retrocesso social".
Por que digo que no texto de H. Raposo se reflecte este "corte" de que atrás falo?
Porque ao admitir que as leis da própria natureza podem [e devem!] no limite submeter-se às leis circunstancialmente políticas do sistema, dependendo sempre a felicidade e o bem-estar económico, social, político, cultural, etc. dos indivíduos secundária e decorrencial ou instrumentalmente do do próprio sistema económico-financeiro como referência fixa da máquina social; ao admitir implicitamente tudo isto, dizia, o autor está, afinal, a dizer tudo o que há para dizer e saber sobre as bases conceptivas, filosóficas ou filosofantes, teoréricas, de episteme sobre o próprio sistema como tal.
Não se trata, já, pois, "apenas" de dividir ao meio o conceito de indivíduo, separando artificial, exógena e absurdamente o "produtor" do "comprador", bno contexto de uma visão da realidade que surpreende pelo absurdo: agora, está cumulativamente em causa obrigar o homem biológico a submeter-se ao homem político [ao "homem sistémico"] dizendo-lhe que só pode, por exemplo, alimentar-se ou vestir-se quando o sistema lho permitir que o mesmo é dizer: quando o próprio sistema, pela voz de um Direito próprio cada vez mais naturalmente exigente, se declarar a si próprio "alimentado" e "vestido".
"Os senhores reformados" exigem a "loucura" da "sacralidade das suas reformas", conhecendo nós o valor médio das "sagradas" reformas em causa?
A "matemática" nega-o e los governos mais não devem fazer do que conferir expressão política a uma matemática "de classe" que, pelos vistos, das leis da natureza percebe muito pouco...
Mas eu comecei por dizer que concordo com o diagnóstico [o de Fernandes e sob vários aspectos este de Raposo, no "Expresso", também].
Concordo, de facto.
O que refuto são a interpretação que a eles se segue---e as "curas" propostas.
A interpretação porque, da minha perspectiva sistémica e humanista pessoal o que está, efectivamente, em questão não são politicas ou soluções "assistémicas" de natureza descontextualmente política.
Em resultado do processo de proprietarização e de consequente capitalicização do conhecimento e da respectiva disfuncional "entrada significada", política, na História e na realidade em geral o que está em causa é o próprio modelo como tal.
É ele que não tem saída sem recuos radicais dificilmentre pensáveis [envolvendo a "des-industrialização estratégica" e/ou a "descientificização ou desautomação significada" de partes importantes de si e a reintegração do Homem na realidade produtiva em vez dos actuais esboços impossivelmente para-keynesianos de que fala---para excluir a respectiva possibilidade objectiva hoje, Fernandes no seu artigo---envolvendo injecções selectas de dinheiro através da subsidiação de um "não-proletariado" ou "desproletariado in/orgânico" [de modo a mantê-lo vivo na economia e... morto ou, pelos menos, adormecido na política] que o sistema está, pela sua própria natureza específica, fatalmente condenado a gerar.
A subsidiação comprou durante muito os dislates teoréticos como os sobressaltos materiais de um sistema in/essencialmente disfuncional e, por definição, disfuncionador.
A chamada União Europeia com os seus vários Sócrates, Barrosos e companhia não parece ter outra "solução" para a situação económico-financeira gerada para além de recorrer a uma contabilidade de merceeiro e a uma política ou políticas de sapateiro incapazes de, como nota Fernandes, ver um palmo adiante do nariz, confiada na falta de capacidade efectiva das esquerdas para explicarem com recurso aos respectivos intrumentos teóricos e analíticos o que realmentre--o que sistémica e civilizacionalmente---se está a passar?
Isso é evidente!A resposta de todas essas forças sistémicas de que José Manuel Fernandes ou Henrique Raposo são porta-vozes nunca ultrapassa o fechamento histérico ulterior [como nota Fernandes] ou o surrealismo existencial [quando não a irrsponsabilidade intelectual e o despudor puros e simples, no caso do "alegremente liberal" "Expresso"].
À sua maneira aparentemente distinta, porém, ignorando os verdadeiros fundamentos da "crise", o que ambos fazem é, no fundo, tentar "endireitar a sombra da vara"---e nem sequer muito reflectidamente e muito bem, aliás...
quarta-feira, 28 de julho de 2010
"Atestado de menoridade judicial?..."
"Homage to Catalonia..."
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
"«Ideologia e Constituição»", breves Reflexões Pessoais Sobre um Artigo de José Manuel Fernandes no «Público» de 23.07"
"Lugar certo", disse eu?
A História inventa-se: não se descobre---e isso é ideologia e é isso a ideologia.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
"«Salomé», soneto de Mário de Sá Carneiro, esboço de abordagem crítica e analítica"
Se, todavia, o soneto começa por expandir-se para o exterior do modo que acabámos de ver, a verdade é que completando um ciclo no quarto verso, ele "regressa ao interior de si próprio" como fica bem claro na ideia de "a carne" convertida em "álcool" (sugestão de "embriaguez" ou de "arrebatamento" e "prazer" "se alastrar" para o eu num "espasmo de segredo": "secreto", "proibido"?]
De facto o Eu não intervém, não cria, não determina cursos de acção ou de intervenção no real e na respectiva transformação: cada coisa cria o seu próprio movimento e estabelece cursos de actuação autónomos, não decorrentes de uma única vontade que organize [ou organicize] o todo.
"Morrer-me": o reconhecimento encriptado [note-se a infidez da própria linguagem em geral conferindo fundamento necessário à neologização intensiva e extensiva do poema] da ligação ambígua [e disfuncional] do eu com o real: a "morte" do eu poético de que fala o primeiro terceto é um suicídio---ou, pelo menos um facto de natureza intrinsecamente endógena ["morte" causada, de um modo ou de outro, por algo que está no próprio sujeito]---ou um verdadeiro "assassinato" cometido por entidade ou entidades vindas do exterior, de Salomé: "ela quer..." ou "timbres, elmos, punhais", o amor visto como uma forma metaforizada de violência e (auto?) agressão?]
Muito relevante, do meu ponto de vista pessoal tendo em vista o conteudo referencial do "complexo de Salomé" é a "translação ôntica" que subjaz à relação do Eu poético com a figura feminina: de facto existe uma espécie de "trânsito ôntico permanente" entre ambos, i.e. entre o ser e o ter cuja 'ângulo possibilitante', chamemos-lhe assim, se situa no matiz "ser tido" ou "ser possuído" em lugar de "possuir" e que, a meu ver, remete para a homossexualidade do próprio Poeta, assumindo aqui a forma de indefinição ou mesmo "crise" da respectiva identidade sexual.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Debate sobre o ACORDO ORTOGRÁFICO da Língua Portuguesa— 1990
Aquilo que faz, em termos básicos, do português, genericamente considerado, uma idiomaticidade globalmente única e una não são as ferramentas incidentais avulsas, i.e. a "alfaia instrumental" (as palavras enquanto formas passivas e inertes, anteriores e exteriores ao respectivo funcionamento efectivo no contexto de um todo que por completo as transcende e lhes confere o sopro da 'vida conceptual e linguística') mas o modo como a própria língua respira autonomamente por elas, os paradigmas de expressivicidade que com elas se vão formando: as "figuras", as metáforas, as construções, o sistema.
Ah e as línguas também não "evoluem": "voluem".
Sofrem "mutações".
Ora, a língua (como Laing e Reich diziam e faziam para a Psiquiatria) deve ser feita e des-feita por todos.
Sem normas?
Não, claro. Mas com aquelas que o próprio uso consciente e "educado" de si determina de modo natural e necessário.
Enquanto professor, sempre parti da ideia de que é essencial conhecer as regras mas para des-construí-las autonomamente como parte integrante do processo intelectual nobre global de continuar a tarefa cultu(r)al de construí-las a partir da própria experiência ou experienciaçãodo real.
"Igualizar" meia dúzia de "fórmulas" é apenas uma ínfima e, no fundo, in-significante parte do processo.
Nesta pode, ocasionalmente, "dar-se um jeito" no sentido da aproximação incidental.
Mas não se espere em boa verdade que venha "salvação", "non plus"...
"O Guignol"
Claro que Portas vale o que vale e as [chamemos-lhes] ideias com que regularmente vem à colação pôr-se em biquinhos de pés para... chegar à política, geralmente... nem isso.
Aliás, eu penso sinceramente que hoje já pouca gente [tirando a população de uns quantos lares da terceira idade do interior do Portugal Profundo] já ninguém tem pachorra para Portas nem para as ideias dele...
A mim, 'horroriza-me intelectualmente', insisto, esta visão expressa ou implícita da i/lógica de movimento da História---e da Política "dentro dela".
Esta que diz que "pode perfeitamente haver, no fundo, História sem povos [com povos indiscriminados, em que a identidade cívica e mental desses mesmos povos pode ser arbitrariamente substituída por outros, completamente iguais na sua fatal in/essência] mas, em caso algum, sem líderes iluminados" e que [é a segunda coisa a que comecei por aludir; a segunda, "fantástica", ideia que me propus trazer hoje aqui à colação, como diria aquele impagável "objecto mental e político" que é Ângelo Correia] essa coisa de os povos estarem proibidos de "mexer na Política e na História para não as estragarem" que é, todavia, para mim, vou já adiantando, a única real hipótese de evitar que "elas se definitivamente estraguem ", que elas "azedem e apodreçam" entregues a Sócrates, Passos, Portas e quejandos.
Porque a partidocracia é isso mesmo e é ela que contamina e infecta mortalmente a nossa vida pública há muito.
Ora a partidocracia combate-se---e idealmente evita-se!---recorrendo a sistemas de administração e gestão das formas concretas de vida pública em que sejam uma realidade [e um pressuposto básico] de qualquer daquelas entidades a atenção e a activa vigilância sociais, devidamente institucionalizadas, uma e outra, em dispositivos de intervenção política em tempo real que façam com que o poder político i.e. o verdadeiro poder, nunca mude de mãos no processo de "contratar social e políticamente", confundido, de forma acidental ou premeditada, com o respectivo, simples, exercício instrumental que é o que passa, nas verdadeiras democracias onde quer que elas se encontrem, de facto, das mãos das sociedades para as dos respectivos 'representantes políticos'.
A diferença clara entre "poder" e "exercício objectual ou instrumental do poder": eis aquilo que substancia e fundamenta a verdadeira democracia constituindo o autêntico "específico democrático", a "pedra democrática filosofial" que todos fingem procurar mas poucos desejam realmente encontrar.
Que um tal Passos e meia dúzia de espertalhões profissionais habilmente disfarçados de "socialistas" [com ou sem esse "contrapeso falante" que é Portas] se ponham de acordo para "endireitarem o país" que ajudaram "à-vez-à-vez" todos eles, de um modo ou de outro, a... "entortar" eis o que a mim não me podia ser mais indiferente e alheio!
Eu quero lá saber do indigesto Passos Coelho e das suas inomináveis "propostas" tão pomposas quanto matreiras, concebidas para acabar o que Sócrates começou!
Quero lá saber dos "pê-ésses" e dos seus "joguinhos de sobrevivência" pessoal e sectorial que passam, se for preciso, por cortar a cabeça ao próprio "chefe" durante o longo sono deste se tal for exigido a fim de manter a "barraca dos seus interesses próprios" aberta ao público e a funcionar!
Quero lá saber de Portas ou da carreira pessoal de Cavaco [que também aqui, muito clara e muito mal-disfarçadamente se joga, connosco pelo meio, "comme enjeu" e como diria um francês].
A História não é Cavaco, nem é Alegre, nem é Passos Coelho, nem é outro qualquer do mesmo talante: a História não é um 'activo nominal' nem um morgadio que circule apenas entre auto-designados "morgados" ou grão-vizires e classe sacerdotal exclusiva.
A História são os povos, as sociedades, as pessoas---conscientes todas essas coisas dos seus legítimos interesses colectivos e das formas de assegurá-los no concreto.
Ou seja: são os políticos que servem as sociedades e não as sociedades que servem os políticos.
São as sociedades quem legitima os políticos e não absurda e monstruosamente o contrário.
A História e a Política não podem ser um Guignol em que uns puxam fios e a sociedade mexe e outros se acham sempre na fatal condição de terem de esperar que os titeriteiros "de serviço" agitem os dedos para que elas possam legitimamente aspirar a agitar-se também.
Já basta de Guignol e de lógica ou ilógica de Guignol!
Se querem ser "providenciais" e assumir o pomposo estatuto de "categorias de um pensar e de um agir políticos eternamente situados para além da vontade legítima dos povos e da própria História"---que diabo!---ao menos façam como o Salazar: assumam-no e admitam-no... lealmente que é para a gente saber com que é que conta!
Da Ópera ao Guignol vai, afinal, parafraseando a canção, o "passo de um [a]não"...
Que pode ser ou [a] não o próprio Portas...
sábado, 17 de julho de 2010
sexta-feira, 16 de julho de 2010
"Público e Privado" [Notas, apenas]
Ora, de facto, no mínimo dos mínimos, falta provar que o que temos hoje em Portugal seja um Estado social.
Sucede que, a realidade, não temos.
Temos [ou tivemos até há pouco: hoje, provavelmente, com o pretexto da "crise", já nem isso realmente teremos] um Estado, um modelo de estado que
-foi já praticamente, no seu todo, recuperado da socialmente generosa função original que o marcava de integrar e manter íntegra e económica e socialmente orgânica a sociedade onde fosse implantado a fim de operar instrumentalmente como recapitalizador sistémico dos mercados que o próprio modo de produção ia desgastando e regularmente, na prática, inviabilizando através da sua política tópica de "desigualitarização sistémica" ou melhor dizendo: "assistémica".
-um Estado bombeiro ou funcionalmente social [válvula de segurança social e política do próprio sistema e dispositivo contínua---de facto, sistemicamente---poassibilitador do próprio paradigma económico-financeiro que sem essa "almofada de segurança" teeria já há muito previsivelmente implodido];
-um Estado justificador do modelo económico-financeiro infra-estrutural: papel ancilar da democracia formal [ou caridade institucionalizada, caridade significada ou dirigida]
-um Estado agência de empregos para as clientelas políticas médias, altas e até baixas.
Aliás, ao contrário do que J.M.F. defende sabe-se perfeitamente o que é, nas suas linhas gerais, o neo-liberalismo: é o capitalismo total ou economocracia, dele se podendo dar uma definição teórica sum´+aria porém essencialmente esclarecedora.
É a "sociedade inversional": o sistema económico-financeiro instrumentalmente político ou 'politiforme' em cujo seio se operou uma inversão de referências estruturais e estruturantes sistémicas, ou seja, aquele em que os papeis relativos da economia e da Política foram objecto de uma inversão/subversão total de papéis e relevâncias relativas.
Na realidade, para o neo-liberalismo [e isso bassta na essência para perceber-lhe as linhas básicas determinantes] numa sociedade a infra-estrutura económica capitalista constitui a constante de que a falsa] política intervém como variável [como "variável funcionante ou possibilitadora"].
Tudo o mais que o neo-liberalismo estavelmente é ou aparenta ser decorre dessa inversão/subversão nuclear.
2º falta provar como se pode garantir que há verdadeira concorrêncioa entre o público e o privado.
A ideia é estimular reciprocamente ambos os sectores, i.e. utilizar um como acicate estrutural do outro.
A verdade, porém, é que aquilo que a observação e o próprio senso comum permitem dizer é que, não sendo on próprio Estado socialmente neutro, a tendência é para as forças sociais e económicas que controlam globalmente o privado, sejam quem faça realmente eleger o Estado e, depois, o use naturalmente na forma significada de Estado "broker", recorrendo ao argumento autenticamente fatal de que a economia [leia-se: a economia privada] é o motor de toda a sociedade e da própria História.
Aliás, o próprio J.M.F. admite implicitamente a subsidiaridade de facto do Estado relativamente à economia privada
"Da Igualdade vs. A Questão da Formação de Elites em Democracia e do Papel da Educação Relativamente a Ambas"
Pelo contrário: as sociedades humanas só existem realmente através da contínua provocação-estimulação e, de um modo mais geral, das "rupturas funcionantes"; dos espaços de "conscienciação estratégica activa" introduzidos no seu tecido pelas vanguardas ou elites orgânicas geradas nas suas instituições e exactamente por ela, Esquerda, cometidas a essas tarefas de re-vitalização contínua e, sobretudo, orgânica das sociedades e da própria História, como tal.
O problema, em meu entender, não tem que ver com a existência de elites mas com [a] o modo como elas se formam na sociedade, por um lado e [b] com a maneira como elas se relacionam organicamente [ou: como elas se relacionam organicamente ou não] com o conjunto da sociedade onde se integram [ou não...] e, no limite, com a própria História.
Um conceito ou uma "conceituação" que a direita gosta de arrancar do seu contexto e do momento exacto em que a ideação "igualdade" se situa no contexto do pensar de Esquerda, em geral---[não] admitindo nós aqui, longe disso, que haja apenas um...---colocando-o, ela direita, por 'espertalhonas' razões "tácticas" suas, "um pouco mais à frente", de modo a parecer que é seu papel histórico, disfuncionar o conjunto das instituições e até da própria História como tal.
É exactamente o contrário disso que sucede, repito.
Numa Educação democrática ninguém é, insisto, "obrigado por lei a ser igual": a biodiversidade e a própria realidade como tal possuem leis que as leis políticas não podem, sem grave deturpação da saúde epistemológica das sociedades e até das civilizações, interferir de forma tão gratuita quanto de facto anticientífica.
Por isso, a verdadeira meritocracia e até, idealmente a "sociedade gnoseotópica" a que ela, de forma [igualmente ideal e/ou "horizontal", i.e. como "horizonte de societação e de historicização", chamemos-lhe assim, pelo menos] conduz são democráticas e são de Esquerda.