sábado, 3 de julho de 2010

"Arte Popular"


Segundo a SIC de hoje, o Museu Berardo terá sido o museu português mais visitado de todos bom alguns [não fixei quantos] milhões de visitantes/ano.

Pessoalmente, devo confessar, que:

-não morro de amores [longe disso!] pelo Centro 'Comercial' de Belém onde a colecção está instalada e que considero juntamente com os "mostrengos dramatiformes" de 'Flic' La Féria o exemplo acabado de cavaquismo intelectual---o mais perto que o cavaquismo consegue chegar de uma coisa que consiga, em determinados sectores da população passar por "arte";

-não estou absolutamente seguro nem da clareza dos termos e condições do negócio celebrado com o astuto "comendador" proprietário da colecção nem das vantagens do mesmo [negócio] para o País;

-se não morro de amores pelo sítio [uma pedreira disfarçada de edifício: o zero absoluto como medida referencial/reverencial do discurso plástico [e político] morro, pelo menos, outro tanto [outro tão pouco] pelo tipo de pessoa que o frequenta, para ali trazida à pressa ainda de chinelos de borracha, pela "crise", da Vulgária ou Suburbânia nacional que é o seu habitat natural para se "formar em cultura" e poder, no dia seguinte, na pastelaria "Pérola de Qualquer Coisa Indescritivelmente Bacoca e Vulgar" lá do bairro debitar umas vulgaridades eruditas sobre a Arte do século XXI vista do relvado fronteiro, ente duas "mines" e um corneto de morango.

-tenho as mais sérias [e julgo eu que fundadas!] dúvidas sobre a qualidade intrínseca efectiva do tipo de fruição estética que um delegado de propaganda média de Carnaxide ou um vendedor de escovas e produtos de limpeza da Quinta do Lambert é capaz de fazer completamente ex nihilo de uma colecção de arte com aquela composição e aquelas características pelo que são mais que muitas as reservas que formulo sobre o significado autêntico [enquanto elemento capaz de medir a substância intrínseca da cultura do cidadão médio nacional] dos números ora divulgados pela SIC.

Deixo, sim, uma outra dúvida, admissivelmente positiva essa: se o museu Berardo consegue chamar uns milhões de portugueses/ano mesmo com "crise" e tudo, em que plano poderiam estar os valores de "consumo" cultural do País se todos os museus portugueses fossem gratuitos [pelo menos um dia por semana] como a colecção Berardo integrados num serviço nacional de cultura providenciado pelo respectivo ministério [há um, em Portugal? Nem sei...] existente ao lado dos de Educação, de Direito ou de Saúde?


[Na imagem: escultura/instalação de Joana Vasconcelos]

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