Deixa-me cada vez mais incrédulo e presa da mais profunda e, julgo eu, compreensível apreensão---um estado de espírito que, neste segundo caso em especial, partilho com inúmeros economistas e, de um modo geral,, observadores de esquerda como de direita da realidade do País] a espantosa indiferença da generalidade dos nossos concidadãos relativamente à situação em que se encontra Portugal no que se refere à sua sustentabilidade a curto---vá lá, a médio prazo.
No "Público" de hoje, dia 02.07.10, o ex-director José Manuel Fernandes fala mesmo da admissível conversão futura do Estado independente que [apesar de tudo] Portugal [ainda] é num "protectorado económico da União Europeia e do F.M.I."
Na execução final do "monstro", como lhe chamou 'o outro'.
Numa "Idade Mídia" onde a realidade é re/fabricada "estrategicamente" em laboratório [geralmente, televisivo] é fatal que se inexista pura e simplesmente a prazo quando para se ser ouvido [?] se tem de confiar na "generosidade" da, no fundo, monocórdica imprensa do 'regime' [um artiguito aqui, um "flash interview" acolá] para tentar entrar no debate político nacional a sério, que é como quem diz: como única esperança de intervir realmente numa sociedade cívica e política completamente estagnada, ideológica e até socialmente moribunda e que quase não lê e quando lê, fá-lo apenas, como é evidente, com aquilo que existe e que é em geral, volto a dizer, como o homem de Marcuse, tão invariável quanto desoladoramente 'unidimensional'.
Não percebo, repito---nem admito!---que a intervenção de Esquerda entre nós esteja hoje, numa altura em que, não tenho dúvidas em afirmá.-lo, ao menos, como tese, a civilização, o modelo civilizacional ocidental [por um número de razões que detalho sinteticamente, nas suas linhas-chave, um pouco mais à frente] entrou numa "esquina" ou num ângulo composicional" absolutamente decisivo, reduzida à colocação de meia-dúzia de melancólicos cartazes vagamente sarapintados e cobertos de dois ou três slogans mais ou menos estafados noutras tantas esquinas de umas tantas ruas por esse país fora!
O embuste [na tal generosa alternativa, o equívoco] consiste no facto de que a única forma de manter uma "economia sem estado" a funcionar é ter o Estado... a funcionar para que ela possa funcionar, em [falsíssima!] tese, sem ele...
Quem, com efeito, "perder a História" hoje dificilmente voltará a ganhá-la num futuro próximo marcado, ao que tudo indica, pela confusão a todos os níveis e que, por isso, se adivinha particularmente brumoso, vogando previsivelmente entre um aprofundamento gradual [eu diria: inevitável!] das formas, de resto, já em curso por toda a Europa [muito claramente manifestas logo na constituição da própria "Europa"] de... "autocracia democrática", de "despotismo consentido" de facto ou mesmo mais ou menos abertamente assumido "autoritarismo plebiscitário" [as famigeradas 'maiorias absolutas', uma aberração dificilmente justificável em democracia, que são senão um "despotismo iluminado"---nem por isso muito habilmente...---disfarçado de democracia?] e movimentos reivindicativos deslocando-se progressivamente da 'periferia ecómica, social e política do sistema' [anarco-guerrilheirismo anti-globalização, ecologismo radical, etc.] para o seu centro alimentados pelo crescimento aparentemente incontrolável [porque, insisto nisto: sistémico, estrutural] das formas de marginalização económica e social objectiva que o 'regime' [lá está! Voltamos ao início destas notas, fechando o círculo de análise que aqui intentámos fazer] deixou de estar interessado em "comprar" através do recurso às diversas formas ou manifestações do Estado Social que ele, 'regime', vem agora de mais de uma maneira, no caso português, através da emergência inquietante de um passos-coelhismo que se apreasta a colher os frutos do desvario e da incompetência generalizada do "socratismo" [politicamente, um autêntico... "sucatismo"] agonizante, afirmar-se, tão leviana quanto arriscadamente disposto a descartar de vez.
No "Público" de hoje, dia 02.07.10, o ex-director José Manuel Fernandes fala mesmo da admissível conversão futura do Estado independente que [apesar de tudo] Portugal [ainda] é num "protectorado económico da União Europeia e do F.M.I."
Claro que, para Fernandes, a solução passa ["what else is news?"...] pela famigerada "receita" neo-liberal da "redução do peso do Estado na economia".
Na execução final do "monstro", como lhe chamou 'o outro'.
Há muito que venho lamentando que a Esquerda em Portugal tenha ou abdicado [quase] por completo [no caso do P.C.P.] ou renunciado, pura e simplesmente a possuir [no caso do B.E.] uma voz própria---uma "saída comunicacional para o mar" [leia-se uma imprensa específica capaz de intervir dissidindo num num universo mediático desoladoramente unipolar e "coxo"].
Numa "Idade Mídia" onde a realidade é re/fabricada "estrategicamente" em laboratório [geralmente, televisivo] é fatal que se inexista pura e simplesmente a prazo quando para se ser ouvido [?] se tem de confiar na "generosidade" da, no fundo, monocórdica imprensa do 'regime' [um artiguito aqui, um "flash interview" acolá] para tentar entrar no debate político nacional a sério, que é como quem diz: como única esperança de intervir realmente numa sociedade cívica e política completamente estagnada, ideológica e até socialmente moribunda e que quase não lê e quando lê, fá-lo apenas, como é evidente, com aquilo que existe e que é em geral, volto a dizer, como o homem de Marcuse, tão invariável quanto desoladoramente 'unidimensional'.
Não percebo, repito---nem admito!---que a intervenção de Esquerda entre nós esteja hoje, numa altura em que, não tenho dúvidas em afirmá.-lo, ao menos, como tese, a civilização, o modelo civilizacional ocidental [por um número de razões que detalho sinteticamente, nas suas linhas-chave, um pouco mais à frente] entrou numa "esquina" ou num ângulo composicional" absolutamente decisivo, reduzida à colocação de meia-dúzia de melancólicos cartazes vagamente sarapintados e cobertos de dois ou três slogans mais ou menos estafados noutras tantas esquinas de umas tantas ruas por esse país fora!
Não percebo, não admito---e denuncio!
Porque a verdade é que, ao menos na constatação da quase falência do País cronicamente entregue, desde '75, à filáucia e à inépcia arrogante e autista de meia dúzia de "imbecis encartados" e/ou vigaristas de luxo, José Manuel Fernandes tem razão.
Não a tem no diagnóstico---aí divergimos radicalmente; mas tem-na seguramente naquela constatação.
Não a tem no diagnóstico---aí divergimos radicalmente; mas tem-na seguramente naquela constatação.
O grande problema do modelo económico-financeiro ainda vigente [o socialmente tenebroso "eucaliptal econocrata" neo-liberal com o seu diáfano e muito popular, muito decorativo, "manto político" garbosamente sobre-instalado «a cavalo» na economia, como os bifes da antiga «Portugália»...]; esse paradigma pretensamente civilizacional [de facto, o capitalismo foi sempre, por definição, como tantas vezes, aqui, eu próprio tenho contendido e argumentado, o contrário de um fundamento civilizacional---e isso voltou a ser hoje mais evidente do que nunca!]; essa distopia do "capitalismo total" ["totaler Kapitalismus"] cujo suporte teórico primário era a mercadicização final e absoluta da política e a dissolução/desintegração [des-integração] terminal desta na "economia" [numa espécie de grosseira paródia teorética da emergência horizontal, quase mágica ou "magiforme", do socialismo na teorização comunista marxista pura onde está, como é sabido, prevista uma mudança-de-estado político ideal final da sociedade comunista em socialista]; essa aberração do "capitalismo total" ou "integral", dizia, sempre assentou num embuste ou, se quisermos ser generosos, num equívoco nuclear que era a ideia de que o Estado não só era [é] completamente inútil ao desenvolvimento "natural" da economia como inclusivamente e mais grave ainda, "atrapalhas" esse mesmo "desenvolvimento natural" desta última.
O embuste [na tal generosa alternativa, o equívoco] consiste no facto de que a única forma de manter uma "economia sem estado" a funcionar é ter o Estado... a funcionar para que ela possa funcionar, em [falsíssima!] tese, sem ele...
De facto, o papel da generosa ideação do Estado Social, que foi originalmente, de facto, isso mesmo, isto é, uma ideação generosamente solidária e moderna, seria em breve completamente "recuperado" em termos políticos, por aquilo a que chamo a "segunda burguesia histórica" com duas funções primordiais mas, sobretudo, essenciais à sua própria possibilitação ulterior:
-primeira, a função de almofadar os efeitos económica, social e políticamente devastadores do próprio funcionamento normal do capitalismo possibilitando uma certa habitabilidade económica, social e política de um sistema económico verticialmente assente na "desigualitarização e na carenciação sistémicas funcionais", sem as quais, "carencialização" e "desigualitarização", é objectivamente impossível, no quadro da sua lógica eminmentemente desfuncional, que se gere "valor";
-segunda, que é uma complemento natural da "função" ou da "funcionalidade" anterior, recapitalizar ciclicamente o próprio sistema injectando-lhe exogenamente os meios necessários para repossibilitar continuamente o mercado.
A minha tese é que apenas essa dupla refuncionalização do ideal do Estado Social permitiu ao capitalismo industrial e, em seguida, píos-industrial, atravessar "tant bien que mal" grosso modo dois séculos, fazendo regular e, sobretudo, inevitavelmente vítimas, é certo, mas permanecendo, ainda assim, possível graças ao uso estratégico que aprendeu a fazer do Estado Social.
É por isso que eu digo que nos encontramos hoje numa espécie de "vértice" ou de "esquina" da História da qual é impossível ver o que se segue.
Creio mesmo [e, também por isso, alimento em relação a ela profunda [e---creio que inteiramente compreensível, uma vez conhecidas as causas!---suspeição] que o papel mais ou menos a médio prazo dessa "coisa indefinível e forçada" a que alguns se obstinam em chamar "Europa" vai ser o de "policiar", tão democraticamente quanto for possível a algo que já nasceu naturalmente não-democrático, as consequências sociais e eventualmente políticas da nevitável insatisfação que a retirada ao paradigma de exploração ou ao modo de produção capitalista da almofada de segurança económica, social e política em que se converteu o respectivo "revestimento politiforme" e, dentro deste, designadamente a alfaia continuamente repossibilitadora que foi tradicionalmente o Estado dito Social para a sobrevivência do próprio capitalismo contemporâneo.
Neste contexto [envolvendo, ao que tudo parece indicar, por um conjunto de razões que abordo com maior detalhe ainda noutros pontos deste "Diário", um "turning point" radical no curso particular da História contemporânea, quiçá mesmo um decisivo "turning point" civilizacional] o [aparente, apenas?] "sono" [o inquietante "slumber"] da Esquerda afigura-se-me não apenas estranhamente comprometedor como, na realidade, provavelmente, para ela e para todos nós, suicidário.
Quem, com efeito, "perder a História" hoje dificilmente voltará a ganhá-la num futuro próximo marcado, ao que tudo indica, pela confusão a todos os níveis e que, por isso, se adivinha particularmente brumoso, vogando previsivelmente entre um aprofundamento gradual [eu diria: inevitável!] das formas, de resto, já em curso por toda a Europa [muito claramente manifestas logo na constituição da própria "Europa"] de... "autocracia democrática", de "despotismo consentido" de facto ou mesmo mais ou menos abertamente assumido "autoritarismo plebiscitário" [as famigeradas 'maiorias absolutas', uma aberração dificilmente justificável em democracia, que são senão um "despotismo iluminado"---nem por isso muito habilmente...---disfarçado de democracia?] e movimentos reivindicativos deslocando-se progressivamente da 'periferia ecómica, social e política do sistema' [anarco-guerrilheirismo anti-globalização, ecologismo radical, etc.] para o seu centro alimentados pelo crescimento aparentemente incontrolável [porque, insisto nisto: sistémico, estrutural] das formas de marginalização económica e social objectiva que o 'regime' [lá está! Voltamos ao início destas notas, fechando o círculo de análise que aqui intentámos fazer] deixou de estar interessado em "comprar" através do recurso às diversas formas ou manifestações do Estado Social que ele, 'regime', vem agora de mais de uma maneira, no caso português, através da emergência inquietante de um passos-coelhismo que se apreasta a colher os frutos do desvario e da incompetência generalizada do "socratismo" [politicamente, um autêntico... "sucatismo"] agonizante, afirmar-se, tão leviana quanto arriscadamente disposto a descartar de vez.
Afirmam muitas vezes os que querem vê-lo morto e enterrado julgando prestar um grande serviço a si próprios que o Estado social deixou de ser material e/ou objectualmente possível; ora, esta é apenas uma maneira [que, a meu ver, nem sequer é a boa maneira] de pôr a questão; a boa, essa é começarmos todos por interrogar-nos sobre se é o tal Estado Social que chega ao fim se é o próprio democapitalismo como modelo civilizacional de habitação e exploração estável da História que começa a revelar-se, ele sim, perigosamente inviável...
[Imagem extraída com a devida vénia de docedeamora-dot-wordpress-dot-com]
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