quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"À (verdadeiramente fascinante!) descoberta de Gobineau, escritor"


O tempo de (serena e plácida, discretíssima e caracteristicamente 'retirada'!) aposentação que vivo permitiu-me recentemente (mais) uma fascinante descoberta: a da controversa pessoa pública, sobretudo literária, de Joseph-Arthur de Gobineau.

Propugnador de uma espécie de "biologia da História" (a mais de um título) no mínimo, altamente debatível---que forneceria, de resto, um 'suporte teórico' relevante demonstrável ao nazismo (teorização essa por cima da qual passo, de resto, nela apenas documental e muito remotamente interessado---Gobineau deixou-nos (como Céline, por exemplo, fascista confesso, defensor público de 'ideias' absolutamente abjectas mas um escritor, de facto, admirável) apesar disso, uma obra literária, também ela, como no caso da "Voyage Au Bout De La Nuit", notabilíssima, designadamente as "Nouvelles Asiatiques" de que possuo uma versão portuguesa soberbamente re/construída pela malograda Poetisa Luísa Neto Jorge que, para a Editorial Estampa, produziu um texto, de facto, vivíssimo, imaginativo e magnificamente plástico, através do qual a abordagem de Gobineau constitui uma experiência de leitura realmente (vou dizer assim com toda a intenção) deliciosa.

Envolvente, sedutora---e, repito, sempre deliciosa.

[Uma sugestão: porquanto a edição da Estampa se encontra, há muito, completamente esgotada, por que não alguns (ou mesmo todos!) quantos têm a generosidade de me ler tentarem achar um exemplar 'perdido' dos dois volumes da obra numa biblioteca qualquer próxima e deliciarem-se (embriagarem-se!) com o irresistível, capitoso, texto português desse, de facto, exemplar trabalho de um homem que foi um viajante observador e atento e, sobretudo, do ponto de vista que aqui nos ocupa, um escritor interessantíssimo---mesmo se como historiador ou teorizador da História e antropólogo mereça, hoje-por-hoje, sobretudo, em larga medida devida precisamente ao inegável mérito literário que possui, um misericordioso eterno... esquecimento.]

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