terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Sobre o [Im?] Possível Papel da Igreja no Mundo de Hoje"


De um "D.N." [o de 09.02.10] extraio um recorte que me permite documentar e, assim, de alguma forma, completar, as reflexões que faço na 'entrada' imediatamente a seguir.

Intitula-se o texto a que me reporto, significativamente, "Papa afirma que inferno existe e pede aos fiés jejum de palavras" e começa por dizer:

"O Papa Bento XVI defendeu a existência do Inferno, a seu ver, um lugar real, não vazio".

E mais adiante: "A tese de Bento XVI não é exactamente nova, pois o Papa já em 2007 havia afirmado que i inferno era um lugar, para além disso eterno.

Sempre o disse: não gosto de Papas, confesso e repugna-me, sobretudo, a ideia de "Papado".

Nunca obtive, por exemplo, resposta à pergunta: "Quem ou o quê começa por dizer aos papas as coisas que eles, em seguida, repetem... urbi et orbi ou coisa que o valha e como 'se arranjavam' as pessoas, no plano teológico e até prático, moral, antes disso?"

E, já agora, "Porquê aos Papas?"

"Por que necessita a Verdade de mediação [esta é uma questão-chave com diversos aspectos ou graus, chamemos-lhes assim e de que os Papas, muito naturalmente, nem querem ouvir falar...] e que efeitos tem---ou deveria ter---essa mediação nos indivíduos escolhidos para protagonizá-la?"

"Ficam permanentemente omniscientes?"

"É mediúnica?"

"Sonham os Papas com ela?"

"É um transe?"

"Possui natureza xamânica?"

[Se eu pretendesse ser brejeiro ou coisa pior perguntaria se os Papas vão jantar com Deus e é depois do café e do brandy que Deus comunica aos Papas a Verdade na forma "das últimas", tipo: "Bento, queres, então, saber as últimas, filho? Vamos lá, então! Tens papel e lápis?"...]

Mas, enfim, digamos que não pretendo ser brejeiro e, por isso, pergunto apenas mais "por quantos é a Verdade divísível", isto é, se as verdades não vêm todas de uma vez [se viessem continuaria a justificar-se que houvesse mais Papas daí em diante?...] quando é que a Verdade... «fica completa»"?

Há muitas outras questões que o princípio da infalibilidade papal [quem a fixa? Quem a legitima? etc.] levanta e que nem vale a pena aqui referir.

A pena vale, sim, dizer que é precisamente esta linha seguida pela igreja institucional para fazer face à questão do seu lugar e muito especificamente da sua pertinência, da sua fundamentada e fundamental [ou não...] relevância no mundo de hoje que, a meu ver, está em causa e deveria ser [ao lado de outras levantadas por verdadeiros momentos de abominação mental intelectual, civilizacional, etc. dificilmente imaginável envolvendo, por exemplo, a questão feminina que mais do que uma questão abstractamente ontológica e até ideológica ou teo[i]lógica é uma questão elementar de humanidade e até de direitos humanos básicos]; a pena vale, sim, reflectir, dizia, sobre a oportunidade perdida no plano da afirmação de uma genuína relevância civilizacional por uma instituição capaz de, apesar de tudo, obter eco no conjunto da sociedade humana inclusive naquela parte desta que, valorizando a essência da atitude ou da praxis crística tal como ela nos chegou, nela se revê sem nunca deixar de ser, para aquilo que, em termos humanos básicos, conta, Esquerda.

Uma instituição, porém, que parece mil vezes mais interessada em desafiar a inteligência, o bom senso, a própria ciência---o Tempo, a História, numa palavra---através de uma espécie de teimoso projecto ou programa de resistência que passa por opor a toas essas coisas algo, um modo de pensar, que se aproxima, como nos casos que acabo de citar, perigosamente do medievalismo e do obscurantismo impuros e nada simples...

[Imagem extraída com a devida vénia de pliniocorreadeoliveira-dot-info]

Sem comentários: