Um homem foi recentemente baleado na sequência de uma perseguição policial de que foi objecto por ter roubado... dois sacos com pão!
Contrariamente ao que poderia quase instintivamente pensar quem assim tomasse conhecimento da notícia, não se trata do início de um romance naturalista de Zola ou dos Goncourt e tão pouco provém ela de qualquer obra dos criadores de David Copperfield ou Jean Valjean assim como, tão-pouco, de um filme de Eisenstein ou Pudovkin: aconteceu, segundo uma edição recente do "Público" [que prometo, logo que encontre tempo e feitio, localizar no meio do imenso caos que é cada vez mais a minha hemeroteca pessoal...] e teve lugar no europeíssimo Portugal 'de' Sócrates---que ainda o é e já se apresta a ser do FMI com o "alto patrocínio" de um Coelho ou Coelha qualquer... perto de si.
Portugal, uma esplendorosa ficção social e política---uma deslumbrante ilusão temporal e quebra-cabeças histórico---que decidiu recentemente converter-se, adicionalmente, no museu arqueológico mental ou no parque temático institucional de uma Europa económica e social oitocentista, há muito enterrada já no cemitério das civilizações, no jazigo das coisas tão definitiva quando felizmente ultrapassadas...
Não fosse ele e não fosse Sócrates e as suas geniais inspirações... políticas que, de vitória em [esplendorosa!] vitória, à actual calamidade nos trouxeram e correríamos todos, com efeito, o risco de pensar que, por exemplo, "Les Misérables" não passava, afinal, do simples fruto de uma crise de fígado de um pessimista dotado de mórbida inventiva e que "Oliver Twist" mais não era, afinal, do que um simples e mal-disfarçado "remake" da "Comédia" de Dante na parte do Inferno escrita por algum hipocondríaco misantropo arvorado em cronista das suas próprias tormentosas fantasias e tempestuosos fantasmas pessoais...
[Na imagem: Gravura ilustrando a "instrução" de Oliver Twist, ministrada pelos jovens ladrões de Fagin]
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