sábado, 1 de janeiro de 2011

"Da Indústria do Plágio" [por rever]


Escreve o "D.N." de 04.10.10. que o "franchising" "continua a ser um mercado em crescimento apesar da crise" e que só em 2009 "facturou mais de cinco mil milhões de euros".

Ora, num certo sentido muito preciso e até relativamente claro---paradigmático, sem dúvida---o "franchising" é bem um retrato fiel do tempo que vivemos.

Para todos os efeitos, dê-lhe a gente as voltas que der, o "franchising" representa [basta para entendê-lo ver o que se passa em matéria de "entertainment" televisivo onde os programas de maior sucesso são todos minuciosamente decalcados de um único modelo original comum a todos eles] a consagração da cultura do "plágio legítimo" i.e. do plágio que, pago à cabeça, se torna miraculosamente, numa indústria em si, perfeitamente legítima e legal, e, pelos vistos, também promissora porque em franco progresso.

É, pois, o "franchising" um fenómeno que nos fala eloquentemente dos limites e da verdadeira natureza da 'cultura' centrada em torno da miragem da inovação ou, vista a questão de outro ângulo, em torno do 'uso ou dos usos industrais da inteligência' que estão na base das formas mais recentes do capitalismo tecnológico.

É verdade que este, nos seus centros activos que se situam nas grandes corporações das grandes economias do sistema mundial, se baseia, em larga medida, na criatividade e na originalidade que são, de facto, factores absolutamente decisivos no processo de transformação do real em valor.

Mas, uma vez concretada num conjunto definido e muito preciso de produtos [lá estão as leis; lá está todo um Direito próprio para garantir que assim é!] a acção da criatividade original, o próprio sistema que a originalmente utilizou para produzir esses objectos passa a recorrer, numa espécie de segunda fase ou estádio ulteriores do processo, a um conjunto de dispositivos de natureza, volto a dizer, especificadamente jurídica a fim de limitar e/ou "disciplinar" a aptidão da fórmula para seguir irradiando, de forma sistemicamente des-controlada, essa aptidão natural do conhecimento para re/produzir capital---entrando-se, então, na fase, em larga medida forçada e forçosamente inerte daquele, caracterizada pela imposição generalizada dos modelos originais assim como cumulativamente pela proibição da produção autónoma de outros objectos ou produtos a partir do mesmo impulso criativo que gerou os primeiros.

É fase do "franchising" ou replicação secundária dos modelos triunfantes, usados, pois, na prática como formas para limitar a própria criatividade que, todavia, se começou por afirmar configurar uma chave determinante do processo.

É verdade que sim, que constituiu mas, insisto, só até ao momento em que um certo conhecimento particular se concretizou em produtos, sejam estes computadores, cosméticos ou programas de televisão e foi preciso, pois, para manter o respectivo "valor", limitar drasticamente a aptidão autónoma de outros para desse saber gerarem novos produtos ou, como me parece mais adequado porquie mais preciso dizer, introduzir no sistema produtivo as doses fundamentais de "rarefação estratégica" ou "carencialidade possibilitante" sem as quais, como tantas vezes tenho vincado, a máquina capitalista é incapaz de gerar aquele mesmo "valor" como a tal "riqueza" que se vangloria de originar e que, no fundo, serviu até há bem pouco para legitimar social e politicamente o triunfo histórico da burguesia.

[Na imagem: "Warhol - Accident & design" by Socialism Today; "The Life & Death of Andy warhol" by Victor Bockris. All images and artworks are property of The Andy Warhol Foundation © All rights reserved. Apud cokeart-com]

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