Com a devida vénia, retiro do "Público online" de hoje, dia 03.01.11, o texto que se segue e que devia em bom rigor ser senão chapado na cara ao menos colado na testa de todos os malofeitrores civilizacionais e imbecis institucionais ou privados que recentemente se puseram em bicos de pés [para pensar com uma parte do corpo que a boa educação me impede de mencionar expressamente e] vitoriar um relatório da OCDE que supostamente mostraria como o Portugal "sucático", politicamente agonizante e social [e até cientificamente] fétido, fez já a sua entrada triunfal na Gnoseotopia ou Olimpo Gnoseotópico Moderno...
"Numa escola da Pontinha, nos arredores de Lisboa, uma das professoras de Matemática já interiorizou a regra que tornou sagrada: “Nunca me viro para o quadro”.
"Numa escola da Pontinha, nos arredores de Lisboa, uma das professoras de Matemática já interiorizou a regra que tornou sagrada: “Nunca me viro para o quadro”.
"Porquê?"
“Não se sabe o que pode acontecer nas minhas costas”.
Esta é a imagem de insegurança que marca o dia a dia de um elevado número de professores em Portugal.
A indisciplina na sala de aula transformou-se num sério problema que, em muitas escolas do país, parece tender a agravar-se.
Que dificulta o trabalho de elevado número de professores, que os afecta psicologicamente e, em muitos casos, os leva a meter baixa médica.
Muitos destes casos nunca se tornam públicos mas são tema frequente de conversa nas escolas e motivo de queixas aos conselhos directivos.
Quando o problema se arrasta e perante a falta de soluções, muitos docentes recorrem à linha SOS Professores, da Associação Nacional de Professores.
Nos últimos quatro anos, foram ali registados quase 400 pedidos de ajuda para situações de agressão e de indisciplina nas escolas.
A maioria foi apresentada por docentes do sexo feminino entre os 40 e os 49 anos que leccionam o terceiro ciclo ou o ensino secundário na zona de Lisboa e já têm mais de 26 anos de serviço. Os dados foram recolhidos entre Setembro de 2006 e Junho de 2009 e no período de Outubro 2009 a Junho 2010, totalizando os 386 contactos com aquela Linha.
A grande maioria das situações diz respeito à agressão verbal (43,6 por cento) seguindo- se as queixas de indisciplina (29,5 por cento), de agressão física (27,8 por cento) e de mau relacionamento (13,6 por cento).
A maquilhar-se e a mandar mensagens.
Numa escola de segundo ciclo do Areeiro, as alunas de 11 anos maquilham-se durante a aula de Português, mandam mensagens de telemóvel e contam anedotas.
“Aquela sôtora não faz nada, podemos fazer o que nos apetecer”, diz uma delas.
“Na aula de Inglês, não, ninguém manda um pio”.
Porquê?
“A DT [directora de turma] é bué exigente e não deixa”.
Visto assim, o problema parece residir na incapacidade do professor impor autoridade.
Mas, nalguns casos, a questão é mais complexa e interligada aos meios desfavorecidos em que as escolas e os alunos pertencem. Como aquela em que o quadro não está afixado na parede, mas tombado no chão da sala de aula.
É preciso pedir giz para escrever e não há apagador. Os que houve, foram logo roubados pelos alunos, crianças dos 5 aos 9 anos oriundas de bairros considerados muito problemáticos.
Não há lápis de cor, nem cadernos, nem material nenhum.
Mas é uma escola de ensino básico, do primeiro ao quarto ano.
Não, não é em Moçambique.
Fica no centro de Lisboa.
s alunos são ainda muito pequenos mas nada parece intimidá-los.
Respondem com o riso às ordens dos professores, saltam e correm na sala de aula.
É impossível cativar a sua atenção para ensinar.
Quando uma professora tentou impor-se, os pais protestaram, acusando-a de ser demasiado rígida e o caso foi analisado pelo director.
A professora passa a dar aula de porta aberta, decidiu.
“Assim, nestas condições e com estes miudos é impossível ensinar”, diz a docente, exausta.
Há estabelecimentos de ensino em que os incidentes assumem maior gravidade e dão lugar à violência.
Numa escola da linha de Sintra um professor retirou um telemóvel a um aluno do oitavo ano que perturbava a aula.
Furioso e com a ajuda de outros colegas, o rapaz “vingou-se” retirando o relógio ao professor.
Este queixou-se ao conselho directivo que discutiu o caso, aplicou uma suspensão aos jovens e restituiu o relógio ao docente".
[Nota: A fim de facilitar a leitura do texto, procedeu-se a uma reorganização integral dos parágrafos da notícia original]
Sem comentários:
Enviar um comentário