quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"Malangatana Valente, 1936-2010"


Morreu Malangatana!

Era um dos meus "pintores naturais" preferidos, com aspectos de um Guimarães muito mais épico e articulado ou de um Mirò ainda mais visionário e disposto a ir fabularmente mais longe onde, nos seus melhores momentos, brilhava um impulso narracional e um empolgante sopro global que trazia ao espírito imediatamente Picasso, o Picasso sinfónico dos grandes frescos visual e iconceptulamente panfletários---temperado com algo "muito bem diluído" [como diria um mais imaginativo... 'gastrónomo das formas'] de Paula Rêgo.

Foi, com efeito, um artista plástico empolgante, muito sofisticada e, por isso, muito falsamente "naïf", cultor de um 'vitalismo' plástico e até de concepção ou entendimento e intuição pessoais da realidade que fazem, por vezes, pensar nessas arrebatadoras e quasi-hipnóticas sínteses concepcionais e textuais do chamado 'realismo fantástico' latino-americano.

Os seus fabulosos e, por vezes, inquietantemente apocalípticos 'retábulos barrocos habitados' com algo, por exemplo, de pilha de corpos em campo de concentração e/ou cerimonial dos mortos mexicano empolgam visual, plástica e concepcionalmente tanto quanto inquietam filosoficamente pela visão da condição humana que têm pressuposta ou colada---"tecida"...---às próprias formas e que, a mim, em especial, que cunhei o termo e defini o conceito, apontam para a ideia muito beckettiana de "trans-realismo" no método e de "comédia ontológica" na concepção teórica final.


Morreu, hoje, 5 de Janeiro, aos 74 anos, no Porto.

Sem comentários: