sábado, 18 de dezembro de 2010

"The Mechanics [and Ilogic] of Technocapitalism: the Capitalist Conundrum"


Confesso humildemente que ainda não consegui perceber quem vai pagar, no imediato, esse fundo de desemprego supletivo que resulta daquela "medida" do governo assente no extraordinário princípio que pretende que, para "combater o desemprego" [?] nada melhor que facilitar ulteriormente a sua emergência ou melhor: a sua disseminação por toda a sociedade.

Estou quase seguro de que foi António Peres Metello quem afirmou, na TVI, que o fundo ou "seguro" em causa sairiam de um imposto adicional sobre o trabalho.

Parece, no entanto, que quem, começará por avançar com as verbas necessárias para o "fundo" serão, afinal, os empregadores.

Di-lo o ex-director do "Público", José Manuel Fernandes no artigo inserido na edição de 17.12.10 do jornal com um título tomado de empréstimo de Irene Lisboa: "Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma".

Politicamente, a diferença, releva, como é óbvio: sistemicamente, muito pouco.

Politicamente porque é evidente que a "medida" [que parece resultar, sobretudo, do desespero de quem não sabe de todo como há-de resolver uma questão em si mesma sem solução como é a do «desemprego tecnológico» ou «desemprego natural» do sistema] vem contrariar frontalmente a lógica do capitalismo 'moderno' que é a de 'distribuir significadamente' de forma des/estruturalmente des-igual, os custos do modelo de "desenvolvimento", carreando continuamente do público para o privado os benefícios que o mesmo é capaz de gerar, descarregando, no sentido inverso, os respectivos custos.

É esse, em suma, o papel 'histórico' do modelo de "Estado funcional" para que degenerou na prática a ideação generosa do Estado nação ou, mais precisamente do «Estado consciência» que aqui, ao actual poder "pê-ésse" e às calças pardas em que ele se encontra [e nós com ele...] nos trouxe a todos...

Ora, tratando-se de uma medida que, a confirmar-se a exactidão do que diz o autor no artigo, onera ulteriormente o "lado certo", o "lado bom", da dinâmica de funcionamento ordinário, de funcionamento "normal", da máquina capitalista, levanta de imediato resistências de que o texto de Fernandes dá conta.

Ela, a "medida" [concebida, ao que parece, pelos teóricos "pê-ésses" para "aumentar a competitividade do mercado de trabalho"---pelo menos é assim que reza a "bula" ou "manual de instruções" da "coisa"] vem, pois, segundo o articulista, alterar o equilíbrio de poderes, a "ecologia" da máquina "producional" [não gosto, julgo que se percebe sem dificuldade por quê, em definitivo, do termo "produtiva" aqui usado, neste contexto...] despertando, do lado verdadeiramente organizado do paradigma que é o do investimento a reacção de que Fernandes [que por razões que não serão de todo as mesmas, gosta, porém, tanto do actual poder político como eu próprio...] dá conta no seu texto.

Sistemicamente, é todavia relevante a diferença---e pelas razões de que dou conta quatro parágrafos atrás, ou seja, a da insolubilidade social natural do próprio modelo de capitalismo tecnológico.

Do "tecnocapitalist conundrum", da equação matemática impossível do tecno-capitalismo.

Há muito, com efeito, que o "capitalismo social" vem comprando e reintegrando continuamente com recurso exclusivo ao Estado Social, ao dinheiro de todos [levando o modelo de "sociedede disfuncional" capitalista tópica a pagar-se a si mesma, para o que faz circular continuamente no seu interior os fluxos significados de capital público] as suas próprias margens "margens assistémicas", gerindo de forma globalmente satisfatória as dinamias potencialmente dissolutoras que o modelo interiormente gera e que, sem o Estado, levariam previsivelmente, a prazo, à implosão final de todo o paradigma.

Nesse quadro, a "deserificação económica e social" torna-se secundariamente parte do modelo regressando operativamente a ele praticamente sem ruptura.

Isto é: o modelo "gera riqueza", como ele gosta de dizer, na forma social de salários mas, a dado passo, só consegue gerá-la sem se desunir completamente gerando também secundária ou supletivamente des-salários pagos com o dinheiro de todos com os quais compra social e politicamente a disfunção de... ter de gerar 'desertificação'---disfunções ou deformações des/estruturais.

Gerando toda uma des-economia que ele vai depositando na base ou nas margens mas que reentra ulteriormente praticamente sem hiatos no próprio modelo como mercado exactamente porque foi abastecer-se de meios para tanto, ao Estado 'social'.

O grande problema do ponto de vista sistémico não é, pois, o de quem paga os custos da 'desertificação' mas que haja desertificação e custos de 'desertificação' e que a dinâmica ou a i/lógica do processo de geração dos mesmos tenha vindo [porque, a montante, no núcleo activo do modelo, a ecologia estabelecida entre o capital variável e o capital constante parece já ter-se de todo rompido] a tornar-se, de forma gradual, económica e socialmente incomportável e insustentável.

O grande problema prende-se, pois, com a in/capacidade de assegurar que os mecanismois de "des-inerticização" ou "des-bloqueio" do modelo possam ter-se naturalmente já, i.e., por razões sistémicas, des-equilibrado já a um ponto que, para utilizar uma expressão anglo-saxónica eloquente, se situa já "beyond repair", mesmo com recurso aos expedientes recapitalizadores keynesianos ou para-keynesianos mais ou menos clássicos.


[Imagem ilustrativa, "Capitalism and Alienation" de Daniele Pioli, extraída, com natural vénia, de fineartamerica-dot-blogspot-dot-com]

2 comentários:

São disse...

Nem sei que dizer para exprimir tudo quanto me sufoca relativamente ao estado de sítio em que nos estão a enjaular!

Bom fim de semana.

Desculpe: não faltará um "não" no início do texto?

Carlos Machado Acabado disse...

Falta, sim senhora, São!
Tem toda a razão!
O texto ainda estava, aliás, um bocadinho... "em obras" mas essa escapou-me...
Mas olhe que eu comungo inteiramente da sua inquietação e da sua angústia, ham?!
Que mais virá, de facto, por aí?...
Cá estaremos para ver... e sentir na pele.
Um beijinho e bom fim de semana, também!