Já haverá hoje poucos portugueses minimamente lúcidos e esclarecidos que alimentem verdadeiras ilusões relativamente à natureza de classe do "pê-ésse", ao tipo de valores que o partido defende [e para defender os quais a respectiva "invenção" foi, de resto... teleguiada de Washington e Bona] assim como, conhecendo nós tudo isso, em relação à verdadeira natureza dos interesses em representação política dos quais intervém e actua.
Quem conhece a carreira política do seu 'chefe espiritual', Mário Soares, desde os tempos da C.E.U.D. e do projecto mais ou menos... "secreto" a esta associado de criação de uma "oposição imbedded" ao regime deposto em 25 de Abril de '74, há muito já os identificou de forma clara e absolutamente definitiva.
Trata-se de algo que a recente votação na Assembleia da República de uma proposta do PCP no sentido de serem tributadas em 2010 [como acontece, aliás, natural---e legalmente!---com a generalidade dos rendimentos dos cidadãos nacionais individual e colectivamente considerados]; trata-se, dizia, de algo que a... "acrobática" posição do "pê-ésse" na matéria, com ameaças de demissão do líder caso a proposta fizesse vencimento internamente e a ausência deliberada da maioria dos deputados "pê-ésse" à reunião com o chefe a fim de evitarem o enxovalho de terem de votar contra aquilo que acreditavam ser a posição correcta dos comunistas na matéria]; trata-se de algo, dizia, que tudo isso confirmaria hoje, ainda uma vez, à saciedade se necessário fosse.
A votação partidária interna foi requerida porque, ao que noticia a imprensa, parte dos deputados achou que seria escandaloso caucionar a manobra grosseira no sentido de isentar os grandes accionistas dos mega-grupos económicos, do mesmo tipo de obrigação fiscal que onera já [e de que maneira!] a fragilíssima classe média nacional, ameançando mesmo a respectiva... despromoção, a curto prazo, à sombria condição de uma espécie de desencantado lumpen económico, socialmente errante e de destino histórico indefinido---algo, aliás, dificilmente imaginável ainda há bem poucos meses de gestão "neo-liberal social", esperançosamente... "retomista" e "europeia".
Eu, pessoalmente, que tenho idade bastante para ter assistido em tempo histórico e político real à emergência do "gag" que foi o aparecimento da C.E.U.D. no seio da unidade oposicionista à ditadura, não alimento quaisquer ilusões sobre um "pê-ésse" que até já foi... "neo-bernsteinianamente" marxista e andou, ao menos oficialmente, "a caminho da sociedade sem classes" [!!!] mau grado as "carlucciadas" e "flickadas" que, sempre, mais ou menos em surdina, até ao livro de Rui Mateus, andaram associadas ao seu nome...
...Para grande incómodo e azedume, aliás, do agora outra vez, mediaticamente 'exumado' Sá Carneiro, que desesperava do apoio norte-americano e alemão-federal a uma estratégia de infiltração e diplomacia social restauracionistaa [V.P. Valente fala, a propósito, num processo de "legitimação histórica da direita" ou coisa que o valha ...] que, segundo ele, deveria ser sua---sua, dele F. Sá Carneiro---por... direito [ou direita...] próprios...
Ora, evoco aqui, agora, esta questão porque me é possível, no plano das... academíssimas hipóteses, pôr a de haver muito improvavelmente no "pê-ésse" uma liderança efectivamente empenhada em governar com um mínimo de sensibilidade ou de espírito de verdadeira esquerda e, portanto, de verdadeira Democracia.
A questão é: que apoios iria essa improbabilíssima liderança de esquerda encontrar entre a sociedade portuguesa [a "(soc) i (e) dade média" portuguesa...] capazes de respaldarem, no plano social, cívico e civil, qualquer mínimo [mais do que imprevista, improvável!] acto de "coragem social e política" da sua parte?
Que forças organizadas iria essa improbabilíssima liderança encontrar no "mundo real", capazes de re/criarem a atmosfera social e política global determinante com condições objectivas e subjectivas para condicionarem de forma decisiva a direcção e o sentido da acção governativa e/ou parlamentar?
As únicas forças sociais que em Portugal estão realmente organizadas e dispõem de meios [que começam, aliás, logo no maciço lobbying mediático, jornalístico e televisivo 'normal'...] para condicionar, em tempo real, a acção política das instâncias de natureza dita "representativa" entre nós, ainda quando estas---volto a dizer: improvavelmente, como é o caso das actuais---pretendessem agir de forma a efectivamente acautelar a defesa da totalidade dos interesses económicos, sociais e políticos que compõem o conjunto da sociedade portuguesa; as únicas forças organizadas e com poder real para fazê-lo, i.e. para conduzirem, determinarem ou significarem a acção política dos governos e dos parlamentos, dizia, são as organizações ligadas ao grande investimento e aos grandes sectores empresariais de e para onde flui, aliás, continuamente, como se sabe [e isso quer obviamente dizer alguma coisa...] a esmagadora maioria dos "nossos"... homens e mulheres, ditos, "de estado".
A grande tragédia da política portuguesa consiste, a meu ver, precisamente na incapacidade manifesta de as forças de Esquerda patrocinarem a emergência de uma verdadeira opinião e de uma verdadeira sociedade civil estruturada e organizada---de uma verdadeira 'sociedade orgânica'---assim como de encontrarem com ela e para ela um horizonte económico, social e político alternativo assim como, ainda, "last but not least", os meios institucionais de a ele aceder.
Portugal é hoje, parafraseando um título célebre de Marcuse, uma sociedade desolada e desoladoramente "unidimemsional" vegetando na expectativa do que as suas elites de "integrados" forem capazes [e estiverem, na disposição] de para ela acharem em matéria de sorte ou destino colectivos.
Hoje mais do que nunca antes, considerando que trazidos como sociedade por essas elites até ao ponto crítico onde nos encontramos, precisamos desesperadamente de "resolver urgentemente a História e a Política dentro dela" antes que ela, como tantas outras coisas em nosso redor acabe por se... "extinguir naturalmente a si mesma"; hoje mais do que nunca antes, dizia, é imperativo que redescubramos aquelas formas de organização basista e cooperativa que o 25 de Abril nos permitiu brevemente encontrar mas que o impulso "restaurador" novembrista pôde, de um único golpe, senão aniquilar, seguramente suspender por tempo indefinido.
Hoje mais do que nunca o caminho da Esquerda passa pela interacção denodada e até ideologicamente despreconceituosa, corajosamente tolerante e... "ecuménica" [ainda que, em caso algum, descaracterizadora ou suicidariamente ingénua] com o conjunto da sociedade e algumas forças políticas reconhecivelmente idóneas e passa, em seguida, pelo registo ou pela consagração das experiências sociais e políticas nesse quadro e nesse âmbito precisos alargadamente realizadas, num conjunto de instituições e formas de organização colectiva assumidamente inspiradas naquelas que foi capaz de encontrar o fecundíssimo movimento social gerado na sociedade portuguesa entre Abril, de '74 e Novembro do ano seguinte: passa, numa palavra, por completar o Abril politicamente interrompido e "socialmente ocupado" em 75.
Tudo o que em termos sociais e políticos, não passar verticialmente por aí parece-me à partida condenado a vir sempre fatalmente desembocar em "mais do mesmo"---desse inquietante, desolador e desesperançado mesmo que nos trouxe até onde hoje, económica, social, política e até civilizacionalmente, para nossa enorme desgraça, individual e colectiva, nos encontramos.
Quem conhece a carreira política do seu 'chefe espiritual', Mário Soares, desde os tempos da C.E.U.D. e do projecto mais ou menos... "secreto" a esta associado de criação de uma "oposição imbedded" ao regime deposto em 25 de Abril de '74, há muito já os identificou de forma clara e absolutamente definitiva.
Trata-se de algo que a recente votação na Assembleia da República de uma proposta do PCP no sentido de serem tributadas em 2010 [como acontece, aliás, natural---e legalmente!---com a generalidade dos rendimentos dos cidadãos nacionais individual e colectivamente considerados]; trata-se, dizia, de algo que a... "acrobática" posição do "pê-ésse" na matéria, com ameaças de demissão do líder caso a proposta fizesse vencimento internamente e a ausência deliberada da maioria dos deputados "pê-ésse" à reunião com o chefe a fim de evitarem o enxovalho de terem de votar contra aquilo que acreditavam ser a posição correcta dos comunistas na matéria]; trata-se de algo, dizia, que tudo isso confirmaria hoje, ainda uma vez, à saciedade se necessário fosse.
A votação partidária interna foi requerida porque, ao que noticia a imprensa, parte dos deputados achou que seria escandaloso caucionar a manobra grosseira no sentido de isentar os grandes accionistas dos mega-grupos económicos, do mesmo tipo de obrigação fiscal que onera já [e de que maneira!] a fragilíssima classe média nacional, ameançando mesmo a respectiva... despromoção, a curto prazo, à sombria condição de uma espécie de desencantado lumpen económico, socialmente errante e de destino histórico indefinido---algo, aliás, dificilmente imaginável ainda há bem poucos meses de gestão "neo-liberal social", esperançosamente... "retomista" e "europeia".
Eu, pessoalmente, que tenho idade bastante para ter assistido em tempo histórico e político real à emergência do "gag" que foi o aparecimento da C.E.U.D. no seio da unidade oposicionista à ditadura, não alimento quaisquer ilusões sobre um "pê-ésse" que até já foi... "neo-bernsteinianamente" marxista e andou, ao menos oficialmente, "a caminho da sociedade sem classes" [!!!] mau grado as "carlucciadas" e "flickadas" que, sempre, mais ou menos em surdina, até ao livro de Rui Mateus, andaram associadas ao seu nome...
...Para grande incómodo e azedume, aliás, do agora outra vez, mediaticamente 'exumado' Sá Carneiro, que desesperava do apoio norte-americano e alemão-federal a uma estratégia de infiltração e diplomacia social restauracionistaa [V.P. Valente fala, a propósito, num processo de "legitimação histórica da direita" ou coisa que o valha ...] que, segundo ele, deveria ser sua---sua, dele F. Sá Carneiro---por... direito [ou direita...] próprios...
Ora, evoco aqui, agora, esta questão porque me é possível, no plano das... academíssimas hipóteses, pôr a de haver muito improvavelmente no "pê-ésse" uma liderança efectivamente empenhada em governar com um mínimo de sensibilidade ou de espírito de verdadeira esquerda e, portanto, de verdadeira Democracia.
A questão é: que apoios iria essa improbabilíssima liderança de esquerda encontrar entre a sociedade portuguesa [a "(soc) i (e) dade média" portuguesa...] capazes de respaldarem, no plano social, cívico e civil, qualquer mínimo [mais do que imprevista, improvável!] acto de "coragem social e política" da sua parte?
Que forças organizadas iria essa improbabilíssima liderança encontrar no "mundo real", capazes de re/criarem a atmosfera social e política global determinante com condições objectivas e subjectivas para condicionarem de forma decisiva a direcção e o sentido da acção governativa e/ou parlamentar?
As únicas forças sociais que em Portugal estão realmente organizadas e dispõem de meios [que começam, aliás, logo no maciço lobbying mediático, jornalístico e televisivo 'normal'...] para condicionar, em tempo real, a acção política das instâncias de natureza dita "representativa" entre nós, ainda quando estas---volto a dizer: improvavelmente, como é o caso das actuais---pretendessem agir de forma a efectivamente acautelar a defesa da totalidade dos interesses económicos, sociais e políticos que compõem o conjunto da sociedade portuguesa; as únicas forças organizadas e com poder real para fazê-lo, i.e. para conduzirem, determinarem ou significarem a acção política dos governos e dos parlamentos, dizia, são as organizações ligadas ao grande investimento e aos grandes sectores empresariais de e para onde flui, aliás, continuamente, como se sabe [e isso quer obviamente dizer alguma coisa...] a esmagadora maioria dos "nossos"... homens e mulheres, ditos, "de estado".
A grande tragédia da política portuguesa consiste, a meu ver, precisamente na incapacidade manifesta de as forças de Esquerda patrocinarem a emergência de uma verdadeira opinião e de uma verdadeira sociedade civil estruturada e organizada---de uma verdadeira 'sociedade orgânica'---assim como de encontrarem com ela e para ela um horizonte económico, social e político alternativo assim como, ainda, "last but not least", os meios institucionais de a ele aceder.
Portugal é hoje, parafraseando um título célebre de Marcuse, uma sociedade desolada e desoladoramente "unidimemsional" vegetando na expectativa do que as suas elites de "integrados" forem capazes [e estiverem, na disposição] de para ela acharem em matéria de sorte ou destino colectivos.
Hoje mais do que nunca antes, considerando que trazidos como sociedade por essas elites até ao ponto crítico onde nos encontramos, precisamos desesperadamente de "resolver urgentemente a História e a Política dentro dela" antes que ela, como tantas outras coisas em nosso redor acabe por se... "extinguir naturalmente a si mesma"; hoje mais do que nunca antes, dizia, é imperativo que redescubramos aquelas formas de organização basista e cooperativa que o 25 de Abril nos permitiu brevemente encontrar mas que o impulso "restaurador" novembrista pôde, de um único golpe, senão aniquilar, seguramente suspender por tempo indefinido.
Hoje mais do que nunca o caminho da Esquerda passa pela interacção denodada e até ideologicamente despreconceituosa, corajosamente tolerante e... "ecuménica" [ainda que, em caso algum, descaracterizadora ou suicidariamente ingénua] com o conjunto da sociedade e algumas forças políticas reconhecivelmente idóneas e passa, em seguida, pelo registo ou pela consagração das experiências sociais e políticas nesse quadro e nesse âmbito precisos alargadamente realizadas, num conjunto de instituições e formas de organização colectiva assumidamente inspiradas naquelas que foi capaz de encontrar o fecundíssimo movimento social gerado na sociedade portuguesa entre Abril, de '74 e Novembro do ano seguinte: passa, numa palavra, por completar o Abril politicamente interrompido e "socialmente ocupado" em 75.
Tudo o que em termos sociais e políticos, não passar verticialmente por aí parece-me à partida condenado a vir sempre fatalmente desembocar em "mais do mesmo"---desse inquietante, desolador e desesperançado mesmo que nos trouxe até onde hoje, económica, social, política e até civilizacionalmente, para nossa enorme desgraça, individual e colectiva, nos encontramos.
[Imagem ilustrativa extraída com a devida vénia de blog-dot-paulosilva]
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