sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"Blake Edwards, 1922-2010"


Não era, definitivamente, um dos meus realizadores "de cabeceira" e nunca ultrapassou---em meu entender, pelo menos---o nível do profissional consistente com uma obra globalmente respeitável ainda que não propriamente equilibrada, não... 'orgânica', de que se destacam coisas como "Wild Rovers", um western razoavelmente interessante, por exemplo, mas acima de tudo "Breakfast At Tiffany's", baseado numa novela de Truman Capote, uma obra onde Edwards consegue, efectivamente, de uma forma particularmente notável e inspirada, criar uma atmosfera de sugestiva e discretamente crepuscular improbabilidade e, por vezes, de quase onírica e mesmo subtilmente desesperada imponderabilidade e solidão a dois, onde a diáfana Audrey Hepburn, no papel hoje clássico, de Holly Golightly é, de facto, inesquecível e até icónica.

Edwards foi casado vários anos com Julie Andrews, que dirigiu num dos seus grandes sucessos, "Victor/Victoria",um filme construido com alguma ousadia [a começar por essa de "sexualizar" abertamente e logo num registo de óbvia ambíguidade a 'imaterial' Julie Andrews] mas, para muitos, ficará, sobretudo, conhecido como o homem a quem devemos o pequeno acervo de filmes protagonizados por Peter Sellers na figura do inspector Clouseau, recentemente retomado por Steve Martin sem o mesmo sucesso.

O cómico da dupla Edwards/Sellers é um cómico algo previsível e mesmo consideravelmente fácil e estereotipado [curiosamente, tanto Sellers como Edwards foram, na vida real, pessoas "complicadas", Edwards num registo existencial que meteu tentativas de suicídio pelo meio e tudo], um cómico para "fiéis" de Sellars mas a verdade é que---talvez, até, por isso mesmo, pela sua facilidade e relativa previsibilidade---os filmes [onde foi lançada a "personagem" que viria, aliás, a quase "roubar" os filmes a Sellars da pantera para sempre ligada ao fabuloso tema nusical de Henry Mancini] conheceram um suceso popular notável.

Além de realizador e argumentista, Edwards foi, também, actor com pequenos papéis em filmes como "Thirty Seconds Over Tokyo" com Spencer Tracy e, sobretudo, no clássico de William Wyler "The Best Years of Our Lives".


Faleceu a 16 de Dezembro na Califórnia de pneumonia.

2 comentários:

São disse...

Gostei muito de "Vítor/Vitória" e adora a Pantera Cor de Rosa e , ainda mais, o magnífico tema musical.

Bom dia.

Carlos Machado Acabado disse...

Eu também gostei do filme, São, mas eu sou suspeito devido à minha paixão assolapada" por Julie Andrews...
E, claro, a Pantera foi um verdadeiro achado...
Tenho a colecção toda dos DVDs do "Público", com ela...
Há alguns que são autêntica... poesia!

Beijinho!
Bom fim de semana!