terça-feira, 7 de abril de 2009

"De bola... pirada-2"


Um texto do jornal "Record" de hoje, dia 07.04.09 contendo estatísticas relativas ao futebol do Sport Lisboa e Benfica e, especificamente, aos golos marcados «de bola parada» lembra-me aquilo que aqui disse, há dias, sobre um certo (pelos vistos, recente) costume de colocar vedetas e "atletas mediáticos" conhecidos a "comentar" futebol.

Aconteceu assim com Marcelo Rebelo de Sousa (!) durante, se bem me lembro, o último "Europeu", já tinha acontecido e/ou está presentemente a acontecer, com um fadista, um empresário do Norte, um ex-ministro, um cineasta, um cirurgião, três advogados e por aí fora.

Agora (não sei é a última...) foi um director de jornal falido (José A. Saraiva) quem, de súbito, descobriu que também percebe de futebol.

E, para prová-lo nada melhor do que encher uma coluna à quarta-feira com as respectivas magistralíssimas lucubrações na matéria.

Do seu reprtório de reflexões, recordei aqui uma notável sobe a "justiça" dos penalties no futebol.

São "injustos" ao que parece.

Bom...

O artigo do "Record" vem agora, pela boca de um especialista, o docente universitário Jorge Castelo, por seu turno, recordar o... evidente, ou seja, aquilo que já havia eu mesmo, de uma forma muito mais modesta, afirmado.

A saber: que só há penalties e livres quando uma equipa deixou de ter solução estritamnte futebolística para uma situação... estritamente futebolística.

Isto é: quando, se sai (quando uma das equipas sai) do âmbito directo do código futebolístico, esse mesmo código contém soluções que, retornando sobre esse mesmo código em sentido estrito, trazem toda a situação, de novo, para o âmbito específico que é seu.

As más equipas e os maus jogadores não levam, como é evidente, os respectivos adversários ao erro.

Ou não os levam, no mínimo, na mesma exacta proporção dos que são bons.

Atrevo-me a dizer mais uma vez que tudo isto é evidente: se eu for, imaginemos, um defesa esquerdo e me colocarem o Ronaldo pela frente, é praticamente inevitável que, da primeira vez que ele toque na bola, me sente no relvado.

Bom, à segunda, quando já estou "avisado", assim que ele se aproximar do meu lugar no terreno e ensaiar a finta, eu, sem vontade alguma de me ver outra vez ultrapassado mas não sendo um indivíduo violento nem desleal, opto por meter simplesmente a mão à bola, evitando que o lance crie outro tipo de perigo para a minha baliza.

Traduzindo: o Ronaldo (ou outro qualquer, ham? Eu até prefiro outro. Por acaso, nem sequer simpatizo especialmente com o Ronaldo embora tenha de admirá-lo em termos estritamente técnicos...) criou uma circunstância estritamente técnica (a finta ou o drible) para a qual eu não tive resposta técnica natural, digamos assim.

Resposta essa que seria desarmá-lo legalmente com o pé, por exemplo.

Ou, com o peito, a cabeça, etc. se a bola viessa alta.

Como não tive essa resposta técnica natural (tecnicamente natural no estrito âmbito do "código) esse mesmo código prevê o recurso à 'penalidade'.

Esta, portanto, configura aquilo a que poderíamos chamar uma "solução técnica secundária" ou "de auto-correcção sistémica", digamos assim.

De auto-correcção "sistémica" uma vez que se trata de o próprio sistema ou código do jogo se corrigir a si próprio, sem sair completa ou realmente de si.

O 'livre' ou o 'penalty' são jogo tal como, por exemplo, a linha de área é área.

Constitui uma perfeita tolice (como dizer?) "deitar fora" uma "parte", em si mesma essencial do jogo: essencial porque constitui, como vimos, um mecanismo normalíssimo (de facto, de algum modo, indispensável) de auto-regeneração e auto-possibilitação contínua do próprio jogo.

É, no fundo, como se noutro código, o linguístico, deitássemos fora a pontuação ou a acentuação.

Ou (sei lá!) as preposições e os artigos.

Ou a função chamada "metalinguística" da linguagem.

Não há muitos outros meios de manter uma língua a funcionar (a operar técnica e portanto efectivamente bem) para além do facto de ela possuir uma "gramaticidade" eficaz, capaz de antecipar e corrigir imediatamente, de algum modo: espontaneamente, as disfunções circunstanciais do próprio discurso.

Insisto: negá-lo é completa (é realmente!) absurdo.

É por isso, aliás, que, como diz o jornal, citando Jorge Castelo, "as equipas bem organizadas apresentam valores [de aproveitamento dos tais lances "de bola parada"] que variam engte os 35 e os 40 por cento".

O que, no entendimento do director do "Sol", significa que só um pouco mais de metade dos seus sucessos são realmente... justos e impolutamente "morais".

É caso para dizer: boa!...

3 comentários:

Gonçalo disse...

Realmente o jornalismo desportivo (e não só) anda pior do que nunca. Melhora-se o grafismo quase anualmente,arranjam-se comentadores que percebem de tudo menos de desporto(ou de futebol que como se sabe é o único desporto que há em Portugal...)estamos na era dos comentadores profissionais.Então nos debates que agora há no Cabo é confrangedor:quanto ganharão aqueles tipos que só vêem o lado deles para irem ali uma hora e meia ter conversas que qualquer doméstica ou empregado do café é capaz de ter? Infelizmente os jornais desportivos desde que são dários teem cada vez menos conteúdo.Sobre a questão das bolas paradas são gestos técnicos dos mais díficeis que há, tanto assim é que um clube para ser de topo tem(pelo menos devia...) que ter jogadores cujo ponto forte fosse precisamente esse e essa dificuldade ficou provada na final da Taça da Liga,sem dúvida que há jogadores mais fiáveis para esses lances já para não falar no andebol em que há sempre um ou dois jogadores que podem sair do banco para marcar esses lances como acontece com os guarda-redes.

Carlos Machado Acabado disse...

Concordo inteiramente!
E permito-me felicitá-lo por aquilo que diz sobre os comentadores.
Revela um esclarecimento assinalável!
Não sou passadista mas, de facto, com o fim da geração dourada d' "A Bola" (que era, no fundo, "o único" jornal desportivo, para não dizer, mesmo "o único" jornal, em Portugal, durante a ditadura) foi-se a única instituição mediática que merecia confiança porque era, também, a única cujos membros sabiam (d) aquilo de que falavam--ou escreviam.
Quando o Carlos Pinhão ou o recentemente falecido Alfredo Farinha escreviam de um dado lance que tinha sido penalty toda a gente (e "toda a gente" quer dizer... toda a gente) acreditava naturalmente, numa altura em que não havia ou havia escassíssimos replays na TV porque se aqueles "tipos" diziam TINHA DE SER verdade.
Já o "Mundo Desportivo" (onde, aliás, cheguei, eu pessoalmente, a colaborar) e o "Record" eram... "outra loiça" mas "A Bola" era absolutamente referencial, o Bank of England" da imprensa portuguesa...
Hoje... hoje "vendem-se" títulos, cabeçalhos

Carlos Machado Acabado disse...

[cont.] "cheap tricks" e pouco mais...
Lembro-me, por xemplo, de os jornais dizerem, no tempo do Manuel Damásio no Benfica, que o Clube não fidelizava os jogadores porque estavam sempre a entrar e a sair e, quando o Damásio, fez o tal contrato 'vitalício' com o João Pinto, no outro dia surgiu logo um cabeçalho enorme (ou pouco menos...) a dizer que o Clube estava refém do jogador...
Hoje, os jornais "agitam", "gritam", porque é isso que vende.
No fundo, ninguém sabe muito "daquilo" mas também não é isso que interessa, não é?...
No futebol e fora dele...