domingo, 26 de abril de 2009

"Em Alturas Como Estas, Eu Recordo-me..."

Em alturas como esta, quer dizer: no 25 de Abril, por exemplo.
O 25 de Abril é uma altura dessas...

...Dessas em que [depois do 'mau passo' cavaquista da década de '80 e do presente 'péssimo passo' "sucático" com que decidimos, como país, abrir este início de milénio (duas funestas maiorias "absolutas" que nos fazem irresistivelmente recordar outros--e não menos tenebrosos...--tempos...)] somos irresistivelmente transportados de volta para um passado de parda abjecção e do mais conformado miserabilismo (um passado de... "orgulhosa solidão" onde toda a dignidade e toda a inteligência estavam fatalmente condenadas a diluir-se debaixo de vagas de saloio contentismo por debaixo do qual assomavam, por sua vez, impúdicas e indecorosas, a ganância mais vil e a corrupção mais descarada); em alturas como estas, dizia, a necessidade premente de respirar e de estar, nem que seja só por alguns momentos, perto de (verdadeiras!) Pessoas faz-nos irresistivelmente pensar nesses anos '60 e '70 em que, um dia, fartos de conviver dia após dia com a desgraça e a fatalidade, "fizemos a trouxa e zarpámos", como dizia o Zeca, rumo ao século XX que, como sabíamos, vivia "lá fora", longe da "maldição fatal do S" (Sidónio e Salazar, primeiro; Silva e Sócrates, depois) que muito cedo na suposta "modernidade" interna, fez a sua entrada tristemente triunfal na História e que parece, aliás, encarniçar-se ferozmente sobre nós como uma doença ou um castigo sabe-se lá de que nefando pecado, individual ou colectivo, nacional...

Em memória desse tempo (cujas metástases vemos, aliás, "re/florirem" hoje impunemente em todo o seu putrescente, fétido "esplendor") e da triunfal (raivosa!) alegria com que virámos, um dia, finalmente as costas ao fundo do "poço ibérico", trago, hoje, aqui, ainda uma vez, um imagem de Port Bou--essa longínqua e decisiva Port Bou que nos separava, como um "brevíssimo instante de céu", da Luz e do próprio Sol...

Fugir outra vez--de vez?...

Isto é como dizia o «outro»: "prática, pelo menos, já a gente temos": quanto à efectiva necessidade não há-de tardar muito...


[Na imagem: a estação dos combóios de Port Bou, na Catalunha espanhola, na fronteira com a França]

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