Portugal, o Portugal "tecnologicamente basbaque", desesperadamente campónio do Sr. Sócrates (que o Dr. Portas quer "social e nacionalmente incontaminado" ou para aí e onde o dr. Cavaco acha que vive uma "raça"...); o "Portugal-feira-cabisbaixa" de "saca-de-orelhas" ao lombo (para utilizar as saborosas expressões do O' Neill) gosta, hoje-por-hoje, de se "armar cultu(r)al e sociologicamente em parvo", acreditando, por exemplo, parecer mais importante quando desdenha (de preferência, tão ruidosamente quanto possível!...) dos imigrantes.
Sendo um país que, ainda hoje, para não sossobrar de vez tem de exportar regularmente cidadãos para as sete partes do mundo, é caso para dizer que sobra em descoco o que lhe falta em esclarecimento, em memória (ainda não há muito se arrastava, atolado em porcaria até aos joelhos por tudo quanto era "bidonville" e "banliena" parisiente...) e, sobretudo, em humanidade.
No âmbito da "Semana do Diálogo Social", vamos passar, juntamente com um clássico absoluto de Chaplin ("The Immigrant") um filme, de Alain Jessua, uma alegoria terrível com a malograda Girardot e esse belo canastrão do Delon, onde os emigrantes portugueses em França são simbolicamente sangrados (no filme são realmente sangrados!...) para extracção das glândulas (das quais é fabricada, no filme, uma espécie de soro da juventude, adquirido, depois, a preço de ouro pela alta burguesia francesa...)
Hoje-por-hoje são as perseguições na Irlanda ou a desenfreada exploração na Holanda: mudam os lugares, permanece tragicamente desgraça...
Lembrando essa terrível época (que, de resto, conheci de perto, naquele acidentado início da década de '70) trago hoje aqui, para uma "antologia" pessoal que agora se inicia, um texto de "Max et les Ferrailleurs", um policial de Claude Neron, editado nos "Livres de Poche" onde se fala justamente de um "bidonville" à portuguesa:
Bidonville de Nanterre
"(...) et vous verrez les bidonville des Portugais, en carton, et il vous ferra tout visiter Jésus, seulement faites attention qu'il ne tombe pas, et quand il tombe il s'endort, et vous ne pourrez plus retrouver les portes de la Misère pour vous en aller, et il ne faut pas que Jésus tombe, et il vous emmènera, et vous verrez le bidonville des Algeriens et c'est pas mal non plus, mais eux ce n'est pas en carton, ils préfèrent la brique creuse mais des fois ils oublient de mettre le toit, alors ils tendent cette bâche, et quand il pleut cela fait toujours une réserve d'eau (...)".
Bidonville de Noisy
Esclarecedora imagem, sem dúvida, esta de uma época em que África (uma certa imagem fortemente "colonial" de África...) começava de facto nos Pirinéus...
Recordo-me, aliás, de em Bruxelas, me terem um dia perguntado se eu era árabe.
Quando esclareci que não, que era português, o meu interlocutor (com o ar característico de quem 'não se enganou, afinal, por muitos'...) mundo comentou: "Ah bon mais c' ést à peu prés la même chose, non?..."
Claude Neron e Alain Jessua (entre tantos outros) achavam, seguramente, que sim...
Fotograma de "Traitement de Choc" de Alain Jessua
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