Eu sou daqueles que, "desde o liceu" (como "antigamente" se dizia...) se pelam por uma boa revolução... Nunca fiz propriamente nenhuma mas gosto de ver "os outros" fazerem-nas. Aliás, é melhor ver os outros fazerem-nas do que fazê-las a gente mesmo, dirão alguns mais inclinados à cómoda prudência da mediterraneidade. Assim, se elas derem para o torto, a gente pode olhar para o outro lado e fingir que não sabia de nada. Como o P.P.D./P.S.D. do "outro" (outro "outro"...) que ainda não há assim tanto tempo andava a caminhar com uma determinação que fazia inveja para a "sociedade sem classes" e hoje está reduzido a alimentar pachorrentamente Jardins, Menezes e Mendes Botas a pão de ló...
Ou o P.S. dos Barrosos e dos Soares (dá uma vontade irresistível de dizer: da Mafia... Barroso, tantos são os Barrosos, homens, mulheres et al que por ali erram ou que dali regularmente saem para os respectivos conchegos de vida---cátedras nos jornais, etc.---uns atrás dos outros, em carreirinho, como a formiga do Zeca ou os eléctricos do depósito...); o P.S. que ainda parece que foi ontem vendia postais do Allende e posterzinhos com a efígie barbuda do Marx e hoje está reduzido aos engenheiros que ninguém mais quer...
E aos ex-comunistas que, um dia, viram a luz---e não estou a falar do Estádio...
Vital Moreira, por exemplo: o vital Moreira que, integrado numa populosa equipa de "pensadores" encartados onde se incluem, entre muitos outros a inefável "líder" da comunidade judaica em Lisboa e o sólido mas sempre muito poligonal Júdice (o homem tem, com efeito, mais "lados" que um trapézio dos grandes, tipo aqueles "coisa-e-tal-edros" com que costumavam moer-me a paciência no velho Gil antes de conseguir por fim cumprir o fadário de "fazer ciências para poder finalmente assentar nas letras", como desejava---e sonhava...)
Mas, dizia eu, o vital Moreira; pois. Eu acho giro isto de uma pessoa ser coerente et al.
Não é que eu seja, claro, mas gosto, pronto! É, se quiserem, como "aquilo" das Revoluções de que eu falava há pouco: é giro a gente vê-las fazer como se estivéssemos parados a ver montras, gostássemos de uma coisa que víssemos numa delas, entrássemos para perguntar o preço, não comprássemos, voltássemos a sair para, no fim, dizermos a nós mesmos, imensamente consolados: "Hoje estive quase a ser rico: então não é que estive quase para comprar isto ou aquilo que vi numa montra da loja "tal" ou "tal", caríssima?...
Gente com muito mais pano na carapuça do que eu fez grandes revoluções desse modo, muito portuguêsmente cauteloso e poupadinho: viram a montra, entraram, perguntaram o preço---e saíram...
Se tivessem mesmo feito as revoluções pertinho das quais estiveram (ou diante de cuja montra estiveram um dia excitadamente parados a ver) até podiam ter-se tramado sem que na prática o resultado se tivesse alterado um milímetro: a Revolução foi como todas as revoluções ao fundo e alguns, menos prudentes, não se safaram de ir ao fundo com ela...
Sem benefício para ninguém...
E hoje enchem a boca nos jantares de amigos, tipo páginas de opinião do "Público", com o que podiam ter comprado nessa tumultuosa verdadeira "Zara das Revoluções" que foi, para muitos o 25 de Abril...
A propósito, aliás, destas (não) Revoluções---que (não!) são, como se sabe, cada vez mais feitas, de um modo ou de outro, hoje-por-hoje com o patrocínio do banco coiso ou da construtora tal--- permitirme-ia ainda dizer que apreciei devidamente o que obre elas teoriza, precisamente, Vitakl Moreira, no "chat" para suburbanos ilustrados que é a sua coluna no já referido "Público". Lembra ou ele (ou argumenta ele) que uma tal "revolução" está hoje em curso (imagine-se!) no Ensino em Portugal.
Ora, isto, a mim, parece-me bonito, sim, sem dúvida mas também, francamente, optimismo a mais.
Optimismo a mais para um homem só.
Para um povo só.
Ou optimismo a mais ou "entrada a destempo", como se diz no futebol. Uma delas é. Quer dizer: então agora que o Ensino acabou é que vão revolucioná-lo??!! Não pode, não é?
Mas pronto como, no fundo, à nossa volta, a "lei" parece hoje ser: "tudo o que não pode, é", até nem será propriamente grave (ou absurdo) que se revolucione também, já agora, uma coisa que não existe.
Não! Não é isso! Isso está resolvido: não há, melhora-se. Não há, revoluciona-se. Tudo bem.
Em matéria de disparate, estamos em casa e cada um toma o que quer e quanto quer. Não é, pois, isso.
Eu lembrei-me foi de uma "estória" muito gira que me contaram a propósito de "revoluções" e "revolucionários" pós-modernos e que gostaria de evocar aqui a propósito de tudo isto de "gente" que um dia parou diante da montra da modernidade (social, políica, etc.); que entrou na loja onde ela se "vendia" mas que acabou por sair sem comprar nada, satisfeito com apenas a visita.
É o caso de aquela caterva toda de ministros, secretários e coiso que este ano foram inugurar anos lectivos pelo País fora. Pois, parece que um deles para quem como para Vital Moreira "está em curso uma autêntica e necessária revolução no ensino em Portugal" ou coisa do género (uma que, porém, parece que tem de ser muito bem explicadinha tim-tim-por-tim-tim e muito minuciosamente apontadinha senão ninguém a vê passar: é tipo cometa, estilo "vapiti-vúpiti", como eram em geral as coisas na escolinha do Professor Raimundo...); pois, parece, dizia, que um desses fulanos estava a descrever a uma turminha de meninos da primária (ou do primeiro ciclo, como agora de re/diz) as maravilhas da dita "revolução": aquilo eram computadores às carradas, choques tecnológicos atrás uns dos outros, eu sei lá!
"The works".
"El fetén", como dizem os espanhóis aos quais a gente já vendeu metade da "horta do Afonso" [Henriques] (que é Portugal, a Horta, não o Afonso).
No fim da homilia, vai o tal ministro ou lá o que é, "para sobremesa" e pergunta a um menino: "Olha lá, filho, e tu, um dia, quando os frutos da "revolução em marcha" estiverem por fim maduros e prontos , finalmente, a saborear por meninos como tu que tiveram a sorte de nascer quando a gente (nós, o governo) ia a passar, o que é que queres ser?"
E o menino, espertinho, se calhar daqueles que vão àquela escola no Algarve para sobredotados: "Olhe, senhor ministro ou secretário ou coisa assim: eu não me importava nada de ser Ronaldo. Até mesmo Maniche ou Simão Sabrosa. Se tiver de ser um deles, já fico contente. Mas aquilo que eu gostava mesmo, mesmo, mesmo ser, era de poder ser, um dia, menino português! Isso é que devia ser! Isso, isso é que era!"...
Lembrei-me desta "estória" quando li no "Público" 16 de Setembro de 2008 aquele artigo sobre "A revolução no ensino"...
Pois...
E muito bom dia!
[Para terminar, deixo, com sentida comoção (e aqui não estou a brincar, ham?!) e como ilustração a esta "entrada", como podem ver, três retratos: um do meu amigo Otelo que é um tipo pacholíssimo extraordinariamente generoso que foi suficientemente "naïf" para fazer mesmo uma Revolução (que, no fundo, ninguém, pelos vistos, lhe agradece e no ressaca da qual viria a cometer a proeza, aliás, única de ser promovido "para trás", isto é, de general para tenente-coronel como recompensa dos brilhantes serviços prestados à Nação...); outro de Vasco Gonçalves, um Homem a quem, como País, todos tanto devemos e que, mais do que um Amigo que foi meu, foi um Amigo de todos nós com quem, como País, nos comportámos (e, o que é pior, continuamos a comportar-nos!) infamemente; e de Álvaro Cunhal, o único verdadeiro Homem da Renascença que tive o privilégio de conhecer.]
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