segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Do 'Progresso, sua lei e sua causa', como dizia Spencer..."

[Herbert Spencer, autor de um ensaio intitulado "Do Progresso, sua Lei e sua Causa" que li em adolescente e me impressionou profundamente dado tratar-se de uma tentativa de ver a realidade como algo de integrado e orgânico, exactamente como eu passei a partir daí a pensar que ela deve ser considerada e, em todos os casos, reflectida]

Preparando uma possível intervenção na "Semana do Diálogo Social" na qual a minha amiga Maria Reina Martin teve a generosidade de me convidar a participar, dei comigo a alinhar (com mais ordem e de forma mais sistematica do que usualmente faço) algumas reflexões sobre o tema do "Progresso".

É preciso dizer que a Reina me convidou para organizar uma espécie de "ilustração cinematográfica" dos temas debate com especial relevo para os tópicos "Condições de Trabalho", "Migrações" e "Condição Feminina". No primeiro destes tópicos vamos passar um documentário sobre o fordismo/taylorismo nos E.U.A. (da série "O Século do Povo") e "Modern Times" de Chaplin.

Ora sucede que, sobre o tema do "progresso", existem, a meu ver, equívocos demasiados sobre os quais é, por essa razão, essencial reflectir no sentido absolutamente fundamental de desfazê-los tão depressa e, sobretudo, tão eficaz e tão radicalmente quanto possível.

Uma tradição epistemológica (ou epistemeoforme) invisível de índole mais ou menos providencialista, judaico-cristã, impele-nos sempre, cultu(r)almente, de um modo ou de outro, a (não!) ver e a (des) representar o "progresso" como algo que (i) caracteristicamente sobe ou avança no decurso de um processo contínuo mais ou menos (mais mais do que menos...) sempre mas não só: também (ii) como algo que sobre ou avança em direcção a um horizonte (meta) histórico com muito de mágico ou mesmo de mítico onde então esse mesmo progresso passará/ria a ser o único habitante ou a única personagem gnoseológica sobrevivente do seu próprio crecimento, se assim me posso exprimir.

Ora, se há coisa que o progresso, a meu ver, não é nem (i) algo que necessariamente suba nem (b) que o faça, em caso algum, "em direcção a".

Aliás, eu diria mesmo que na natureza (e decorrente do próprio paradigma de realicidade "escolhido" pelo real para se "mover") se move realmente em direcção"---excepto talvez a "consciência" que, todavia, tal como eu a entendo, não "faz propriamente parte da natureza" senão que se situa já logicamente "para além dela" como parte de uma fase muito ulterior do processo de "desdobramento" (de "deployment ") contínuo da realidade onde esta é apenas visível (im) precisamente dela, "consciência", e sempre sob a fiorma "criticionalmente secundária" (senão mesmo terciária) de "juizo" indirecto e crítico sobre si.

Na verdade, volto a dizer: o paradigma de realicidade resultante do big bang desconhece o seu próprio futuro.

Ou melhor: talvez seja mais exacto dizer que o futuro do real natural se encontra sempre, por definição, atrás, não à frente do seu (falso ou puramente virtual, puramente teorético) "presente".

O tempo da realidade é (ou são) um tempo (ou uma temporicidade) "funcionantemente dialécticos puros", isto é, definem-se sempre, por sistema, por um desenho composicional dinâmico (na verdade, "só o pensamento é estático"...) em que, como digo, o "futuro" dos objectos se encontra sempre atrás deles e o "presente" raramente existe a não ser no "espaço criacional puro" (ou na formac desse "espaço") aberto pelo movimento dialéctico como tal entre esse mesmo "futuro" estruturalmente "anterior aos objectos" e, de algum modo, ele mesmo, se assim posso dizer.

O que é essencial que percebamos é que a nossa percepção arbitrária de um passado, um presente e um futuro em sucessão deve, para que possamos aspirar um dia a perceber como se desloca e se forma a própria "realidade" ser substancialmente repensada tanto como substantivamente reestruturada.

A minha hipótese é que o próprio desenho composicional da "realidade" se decide através do movimento expansional/dissipacional, é verdade, mas tendo mm conta as anisotropias quie se vão formando sempre que as "extremidades do real" se afastam em excesso do centro e todo o desenho tende, então, a fim de evityar ou atenuar os efeitos da "crise composicional" a procurar definir continuamente modelos de "readequação funcionante" cada vez mais secundários, continuamente re/organizados em redor dessas anisotropias para onde o real, de algum modo, se diz que se desloca, então.

Afirma-se, muita vez, que pela sua natureza (eu acrecentaria: pela sua natureza composicional) a realidade tem "horror ao vazio".

É um conceito que subscrevo e (porque) vejo readequado a um número de circunsâncias "realicionais" teoricamente bastante para me transmitir a ideia da sua própria 'possivelmente típica ou tópica persistencia', digamos assim.

Mas, se o tem (porque á matéria é talvez o oposto efectivo da não-matéria) apresenta, de igual modo, um segundo "horror": ao excessivamente grande. E talmbém neste caso em resukltado do próprio modo como a "realidade" em tese se origina: como efeito puramente secundário da expansão ou dissipação contínua de si mesma, se assim me posso exprimir.

Ao expandir-se, a realidade fundamenta-se, é certo, mas, também, a partir de um dado ponto do processo entra teoricamente em crise e vê-se forçada a reagrupar-se ou recompor-se mais além num ponto de si já suficientemente afastado do "centro" para que este se tenha tornado já objectual e/ou realmente "invisível".

É uma verdadeira falácia de composição: a dissipação, que, até um dado ponto, representa numa palavra a "vocação natural e espontânea da própria realidade" está condenada a caminhar inintrruptamne para um ponto teórico de si onde a crise se inicia e o real "dá um salto composicional" por assim dizer. Foi, de resto asim, diria eu que se formou a "consciência" e é assim que ela se "explica" e, sobretudo, fundamenta.


[Nota final: na minha (discuível...) semântica pessoal é preciso distinguir entre "realidade" (que é des/estruturalmente um conceito ou um juízo teórico) e "realicidade" que suponho ou admito existir como a base objectual mesma desse juízo mas cuja "visão" e, sobretudo, cuja "experienciação" se me encontra definitivamente vedada pela "Razão" e/ou pela "consciência".
No mesmo sentido, distingo (julgo tê-lo já escrito algures) entre "ser" que, mais uma vez, configura um ponto de vista subjectivo, crítico, subjectivizado ou subjectival, sobre a condição natural possível dos seres em geral e "esser" que corresponde à própria base objectual possível desse juízo antes da formulação teórica ou crítica de qualquer juízo.]

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