terça-feira, 30 de setembro de 2008

"E lá vem, outra vez, o futebol!..."


E não é que vem mesmo?!...

Vem o futebol e vem o Benfica---o "meu" Benfica, aquele de que falo abundamentemente noutro lugar.

Retomo agora, aqui, os temas 'Benfica' e 'futebol' para pôr em relevo mais um dos múltiplos equívocos (cultu(r)ais, políticos, etc.) em que o país socrático é fértil.

Durante muito tempo, com efeito, foi comum gabar, por tudo quanto era jornal económico, as proezas e os sucessos os conseguimentos gestionários do F.C. Porto e até do Sporting por oposição aos insucessos e sucessivas "cabeçadas" do Benfica, nesse âmbito. Os do Sporting diziam, sobretudo, respeito ao "realismo" da sua política económica. O défice crónico com todas as suas implicaçõesobrigara (e continua, de resto, a obrigar) com efeito, o clube de Alvalade a um encurtamento drástico dos respectivos investimentos na equipa de futebol, i.e. naquela que pode (ou que poderia) trazer ao clube competitividade autêntica e sucesso internacional significativo.

Não traz! E não traz porque o Sporting tem o tal défice para (di) gerir e está, na prática, refém dele (e dos juros respectivos) mas não só: está, de igual modo, refém de uma dimensão, chamemos-lhe sociológica e cultu(r)al que pôde, com alguma facilidade, ser consistentemente sobredimensionada, devido à cumplicidade do poder político que ia suprindo a pressão de um mercado (aliás, na realidade, inexistente) com um apoio jurídico especial (a chamada lei da opção" que fazia dos praticantes literalmente propriedade dos clubes) mas, também , financeiro (com a desculpa de que os clubes substituiam o Estado no âmbito da educação física" genericamente entendida).

Este duplo respaldo permitiu aos grandes permanecerem grandes enquanto quiseram...

Com o 25 de Abril, as coisas alteraram-se drasticamente e os clubes tiveram , pela primeira vez, de confrontar-se com o mercado. O mercado que é o que dimensiona real e objectivamente os clubes.

Incapaz de dotar-se de uma base de apoio humana (de um mercado!) que lhe assegurasse o estatuto de segundo grande que sempre tivera, o Sporting nunca mais foi o mesmo---dos violinos à equipa da Taça das Taças.

Teve de "emagrecer" substantivamente em matéria de objectivos. E aí pode dizer-se que o seu grande trunfo acabou por ser, também, o seu mais determinante óbice: aceitou na prática "emagrecer" de objectivos mas (mais grave!) conformou-se implicitamente com isso. Fez da pobreza (relativa, claro) um trunfo ("Somos pobres mas, num certo sentido, ainda bem porque assim podemos demonstrar a genuinidade da nossa devoção ao clube") mas numa segunda fase um problema ("Para que é que a gente há-de criar muitos problemas se não gnha, quando o nosso projecto passa, sobretudo, por provar a nossa fidelidade, ganhemos ou não?...")

O F. C. Porto, por seu turno, congeminou uma estratégia de crescimento que passava (e passa, pelos vistos) por hostilizar tudo e todos, numa espécie de subtil reprodução do lema salazarista do "Orgulhosamente sós!"

Também no caso do F. C. Porto, o que é ponto forte se confunde singular (e inextricavelmente) com o que é equívoco e, sobretudo, fraqueza: aquele clube só pode crescer dentro do espaço que para si próprio escolheu.

Quem é que fora dele quer ser de um clube cuja massa associativa "só quer ver Lisboa a arder" ou se declara na "Mauritânia", logo que sai da sua cidade?...

Como limitou drasticamente a si próprio o seu espaço de crescimento, o Porto não consegue, também ele, constituir um verdadeiro mercado.

Vende mas como selecciona a "clientela" (ou aceita investir numa "selecão" há muito feita) as vendas têm de ser forçosamente limitadas.

E é isso que está na base do equívoco de que falava no início desta 'entrada': como é que de uma empesa que só consegue equilibrar as contas vendendo as máquinas, as carrinhas, as várias formas de matéria-prima com que trabalha se pode dizer que tem uma gestão exemplar e de "fazer inveja" à concorrência?

Tê-la-ia se, sendo em tese uma empresa produtora de espectáculos, lograsse manter as finanças equilibradas e saudáveis NESSE âmbito específico, sem ter de, copm recurso a uma legislação matreira e socialmente injusta (aquele "truque" de se ter de pagar a "formação" de um atleta é um embuste grosseiro, como tentarei demonstrar noutro ponto) destinado, como sucedia, aliás, com a extinta "lei da opção" a atenuar, astuciosa mas não legitimamnte, o impacto directo do mercado.

Na prática, a lei permite aos clubes cujo mercado não basta para (tentarem... lateralmente!) conservar um estatuto, no fundo fictício, exactamernte porque não realmente determinado de forma necessária e natural pelo mercado, tornarem-se secundária e, sobretudo, dissimuladamente, agentes de jogadores, actividade com a qual vão, aliás, obter supletivamene, com a cumplicidade do aparelho jurídico, as receitas extraordinárias que a sua actividade genuína, primária, legítima lhes não permite obter.

"To make a long story short": se isto é um exemplo de gestão vou-ali-e-já-venho, como costuma dizer-se...

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