sábado, 27 de setembro de 2008

"Ficção... científica"

"Spider" de David Cronenberg


Muita gente, ainda hoje (muitos leitores, seguramente alguns críticos) persiste teimosamente em relativizar, quanto mais não seja inconscientemente, a importância cultural e crítica da chamada "ficção científica".

Trata-se, indiscutivelmente, do meu ponto de vista pessoal, de um erro grosseiro de perspectiva crítica ou criticional, isto é, de uma deformação grave da visão analítica da nossa época, desde logo (é sempre, de um modo ou de outro, disso que, no limite, se trata) mas, também, no caso particular dos últimos, dos críticos, da sua própria identidade epistemológica e profissional, digamos assim.

De facto, que é, enquanto "temema cognicional" básico, elemental, puro, a ficção científica senão uma irmã gémea da própria Filosofia cujo objectivo real foi sempre, desde o início, antecipar e prever a própria realidade, exactamente como faz, sobretudo hoje, com os grandes autores, a dita ficção?

"Solaris" de Andrei Tarkovski

Com toda a franqueza e convicção sugiro que cada um pense seriamente neste facto sempre que se trate de menosprezar autores como Brian Aldiss ou Doris Lessing ou cineastas como Andrei Tarkovski ("Solaris") ou David Cronenberg ("ExistenZ" ma sobretudo "Spider" que é inquietantemente beckettiano e, como filme, simplesmente genial).

"ExistenZ" de David Cronenberg

São, todos eles (em especial "Spider", insisto) objectos narrativos espantosos que um bom professor de Filosofia não hesitaria em seleccionar como utensílio electivo de introdução às ontologias ditas "da existência", de Kirkegaard a Sartre.

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