sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"Falando ainda de paixões..."

Falando de paixões: aqui estão duas das mais precoces e arraigadas. O "Rex" foi onde eu vi aquele que ficaria, durante muito tempo, a ser o meu "filme de cabeceira": "M..." de Fritz Lang. Nunca esquecerei a emoção que senti quando o vi, pela primeira vez, numa daquelas emocionantes matinés roubadas à velha "Luís de Camões" do Lino Lopes, do Fernandes Costa (juntamente com a Yvette Centeno o melhor professor que tive, ao longo de toda a minha vida de estudante!) e/ou da D. Bertha Mendes.
O "Rex" era um "Lys dos pobres". Seu "irmão" na proximidade, ficava já para além dessa fronteira invisível que se situava grosso modo, no "meridiano" da pastelaria "Paris" (que era, por seu turno, devido à situação "geográfica", já perto da zona maldita do Intendente, uma espécie de "Delta dos pobres" onde as "Senhoras" não se aventuravam sem fortes razões para tanto...)
Bons tempos...
O "outro" é o "Piolho", o único, o autêntico. (Havia quem chamasse "piolho" ao "Olympia" e ao "Arco Íris", um descuido do Éden permitira que aquele "anão" se instalasse à sua prestigiosa sombra e aí se mantivesse durante anos até se tornar numa... loja de alcatifas e tapetes mas "piolho", "piolho" era o velho "Salão Lisboa").
Pessoalmente, eu não era exactamente um "devoto" dele. Porque dele se despendia invariavelmente um cheiro atroz a suor e porque os "lanterninhas", os "arrumadores", tinham o hábito terrível de perguntar logo à entrada aos miúdos: "Tens dinheiro?"
Se não tivessemos (o que acontecia para aí seis vezes em cada... cinco), apagavam imediatamente as lanternas e deixavam-nos "entregues às feras", procurar um lugar vago, entre empurrões e pragas de quantos tínhamos de pisar para lá chegar...
A imagem que ilustra este pequeno texto evocativo é óptima porque mostra ainda o arco que existia ao lado (por baixo do qual passavam os eléctricos) e a cabine telefónico, junto à qual se vendiam livros ("Condores", "Mundos de Aventuras" e por aí fora) nuns tabuleiros improvisados, muito primitivos, por onde eu adorava passar horas a fio, contemplando fascinado a mercadoria (para mim absolutamente hipnótica!) que exibiam.
Às vezes, conseguia reunir cinco escudos e, então, comprava bilhete para o (não se lhe posso, em bom rigor chamar assim mas enfim...) para o cinema e destinava os quinze tostões que sobravam para "livros"... ´
Era uma festa nas raríssimas vezes em que isso acontecia (como daquela em que o meu Tio Jack me deu... cinco libras que haviam de dar para uma quantidade incrível de filmes e ainda uma boa mão-cheia de livros pelo meio!...)
Para a esquerda, havia um acesso à capela da Saúde e à Mouraria.
E uma esquadra de polícia que me metia, devo confessar, um medo danado! Sonhava (ao mesmo tempo que t(r)emia...) conhecer o seu interior que me parecia dever ser um antro tenebroso, uma caverna ou uma gruta sinistramente insondável, negra e literalmente sem fundo.
Ah e havia, também, uma pequena papelaria onde andei meses a fio a admirar (sem dinheiro para adquiri-lo...) um livro do Peter Cheyney (de que hoje, para me vingar, tenho não um mas DOIS exemplares... )

1 comentário:

MCA disse...

Fiz uma pesquisa por "Lino Lopes" e "Luís de Camões" e encontrei o seu blogue!
Convido-o a visitar o meu blogue e a ler o post que escrevi sobre a professora Susana.
Também tenho um, em draft, sobre o Professor Lino Lopes, que publicarei em breve.