segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Uma dúvida..." ou "O País da Floribella"

A inenarrável "Floribella". Lembram-se?...


Eu (já várias vezes o revelei) leio o "Público". O que não faz de mim um 'leitor do "Público", note-se... Faz de mim tão somente isso mesmo 'alguém que lê o "Público", ponto final. Ao contrário do que contendia um humorista de génio que se ignorava (Marcello Caetano, de seu nome) a "paisagem mediática" em Portugal não possui qualquer versatilidade ou variedade e riqueza. Divide-se entre as publicações que são puros (ou im-puros...) ecos "do regime" como o sempre majestosamente subserviente "Diário de Notícias", os que são mais ou menos subtis "órgãos teóricos" do poder económico como o "Público", os que já o foram (como o "Expresso") ---e note-se que, até aqui, temos estado sempre a falar de uma imprensa, apesar de tudo, de elites ou para elites (ou seja: para aquilo que, em Portugal, em resultado de um esforço intelectivo colossal levado a cabo por uma minoria que sabe ler e quase aprendeu a escrever, o País conseguiu parir mais parecido com uma "elite"...).

Depois vem o "Povo" com as suas exigências "cultu(r)ais" caracteristicamente primárias e boçais.

Para ele, inventaram os merceeiros da "Cultura" que parecem ter tomado de vez o poder entre nós (e que agora, até fizeram refém da sua abjecta mediocridade uma "coisa intelectual e até biologicamente difícil de descrever chamada ministra"---da "Educação", leia-se) instrumentos de dominação moral e intelectual (como o "Correio da Manhã" ou essa coisa simplesmente inenarrável---e perigosamente tóxica---chamada "24 Horas") onde os imbecis e os analfabetos de carreira (que nós, decididamente, como... "cultura" e por uma questão de "Cultura", vemos como francamente preferíveis aos vulgares cidadãos) podem cevar à vontade a sua ânsia insaciável de mediocridade e alimentar "à pantagruel" uma viscosa e obstinada vulgaridade que eles tomam, aliás, sem regatear, por uma "vida "mental" (que não sabem, todavia, minimamente o que possa ser).

Por tudo isto, quem conseguiu resistir a ser condicionado para pôr uma bandeira nacional à janela e a confundir "telenovelas da TVI" com "entretenimento" e "inteligência" lê o que resta: o "Público".

No "Público" há coisas verdadeiramente misteriosas, porém. Há, por exemplo, uma senhora que escreve sobre Israel (eu devia dizer: que nos bombardeia sistematicamente, a partir da página estratégica onde invariavelmente se entrincheira para nos tentar teimosamente acertar com a sua visão de Israel---que é também, note-se, a visão que ela faz absoluta questão que tenhamos todos de Israel). Vem 2ª feira e a senhora em causa---zás! Faz pontaria à nossa inteligência com um artiguinho "de opinião" onde, já se sabe, os maus são sempre os outros (o Irão, o governo democraticamente eleito do Hamas e por aí fora) e Israel o "bom pai dos povos" que se esforça denodadamente por levar a Democracia e a Civilização (de que, como se depreende das palavras da senhora, só ele tem verdadeiramente o "segredo-e-a-chave") contra todas as incompreensões e obstáculos, ao seu "querido Médio Oriente".

Depois, descansa à 3ª mas, na 4ª, já lá está outra vez com o seu habitual estendal de "argumentos" e cintilantes "lucubrações".

À 5ª já ninguém tem dúvidas (ou terá já idealmente poucas) de que "tem de ser assim como ela diz" senão ela já se teria, sei lá, cansado, farto, de dizer sempre a mesma coisa e de tentar "par dessus le marché" arranjar novas formas instrumentais de fazê-lo e por aí fora.

Pois, como dizia, no dia 25 de Setembro, comprei o jornal e zás! Lá estava a senhora a perorar (adivinhem contra quem! Ora, não!) contra o Irão, pela chamada-e-escolhida bondade natural de Israel e por aí adiante sem esquercer, claro, a "inevitabilidade" mais ou menos "debruada a fatalidade" da guerra contra a fera xiita...

Do texto, intitulado "A apatia favorece a guerra" (mas esta gente só saberá falar de guerra, meu Deus??!!) extraio algumas "reflexões" potencialmente interessantes.

Por exemplo?
Por exemplo, logo essa mesma de que a "a apatia favorece a guerra".

A apatia: mas a apatia de quem?

De uma América do Norte que ela vê fugir-lhe "da mão" com o fim (providencial!) de um bushismo bronco e carn(ic)eiro que incendeou alegremente meio mundo nestes tempos mais recentes e o consequente provável advento de um "obamismo" no qual ela manifestamente prevê ir encontrar muito mais dificuldades no que respeita a achar um "amigo de ferro", com armas "para gastar", semelhante ao regime dos dificilmente imagináveis "imbecis armados" (o regime dos "ayatolahs W.A.S.P." que comandou a América nos últimos tempos?

Não aparecem já, mais ou menos regularmente, na imprensa artigos como o de Margarida Santos Lopes (inserto no "Público" de 23 de Setembro; título: "Como tornar o Irão num parceiro do Ocidente") ou o de Robert Skidelski ("Um Irão nuclear é um perigo para o mundo?", também do "Público", de um dia que, porém, o meu arquivo de recortes se esqueceu de registar...) onde a tal truculenta (e sangrenta!) "tese" da inevitabilidade da guerra contra o Irão é tudo menos a "ideal fatalidade" pretendida pelo regime israelita e pelos respectivos agentes e propagandistas no estrangeiro?...

E já nem falo nesses outros textos da imprensa (como o inserto na revista "Pública"11 de Maio de 2008 intitulado "Israel e os seus mitos 60 anos depois": autora Maria João Guimarães") que é um repositório de revelações sobre a "genuinidade" das intenções geopolíticas de Israel ou ainda um outro de Sónia Pereira de Figueiredo, inserto ("Surpriiiiise"!) no tal "Diário de Notícias" de que há pouco falava ("São judeus mas criticam Israel", "Diário de Notícias", 19.07.08) onde se aborda expressamente o tema da "nakba", termo significativamente traduzido, pelo próprio jornal, citando os cidadãos judeus Alan Stoleroff e Gilad Aztmon, por "catástrofe palestiniana"...

Não anda já tudo (tudo o que não é "política" oficial e "inteligência" de uma das nações mais belicosas e militaristas da terra: não é verdade, igualmente da imprensa, que ainda há bem pouco se recusava a participar num forum mundial para a erradicação das bombas de fragmentação que, aliás, alegremente fabrica e exporta?...); não anda, dizia, já tudo farto de ouvir clamar pela guerra em gritos... dela hipocritamente disfarçados das mais idóneas "constatações objectivas" da respectiva... inevitabilidade?

Fala a senhora em causa da tal "apatia" ser aquilo que favorece a guerra (que Israel, porém, deseja, fingindo publicamente ver-se obrigado a considerá-la uma fatalidade) de "um regime" [curiosamente, não está, neste caso, a falar do de Israel: refere-se, sim ao regime iraniano democraticamente eleito, aliás] que "arma treina e financia bandos de fanáticos destinados a gerar o caos na região", [e que] "mente sobre os fins do programa nuclear em curso no Irão" e mais bla-bla, bla-bla e bla-bla.

Lê-se e pasma-se! Mas não é Israel que continua (ainda segundo o "Público", desta vez o de 18 de Julho de 2008, cf. o artigo: "Samir Kuntar continua a ser "um alvo" para Israel": autora Francisca Gorjão Henriques) com a mais escandalosa das impudícias a afirmar que considera o tal Samir Kuntar do título da notícia (Samir Kuntar que ele, Israel, se viu há pouco forçado a libertar porque partiu os dentes perdendo surpreendentemente uma guerra recente contra um dos tais "bandos"...) "um alvo" (e cito), como se isto de matar, de aniquilar fisica e materialmente adversários não fosse, para qualquer pessoa (deixemo-nos, por uma vez, de rodeios!) para qualquer pessoa intelectualmente séria e moralmente bem formada um crime puro e simples escandalosamente admitido por um governo?...

Mais: por um governo que acaba de libertar um prisioneiro mas se prepara já para, desta vez, num acto de inqualificável barbárie (leia-se: na implícita admissão de que, para si, a selvajaria substitui, facilmente, em última instância, as formas civilizadas de lidar com a barbárie concorrente) em lugar da prisão, recorrer ao assassínio, puro e simples?

Como pode alguém para mais num jornal português, de um país ("malgré tout" ou talvez melhor: "malgré lui-même"...) europeu, (teoricamente, ao menos...) civilizado e (por agora, pelo menos...) em paz (militar: em matéria de paz social "são mais quinhentos" mas enfim!...), vir, praticamente "a cada dia que passa" (desculpem a expressão!) "chatear a gente" tentando "lavar o cérebro" ao pessoal e "meter os dedos pelos olhos" de pessoas (que lêem o "24 Horas" e a revista dominical do "Diário de Notícias", é verdade e vêem "A Outra" e acham a Luciana de Abreu e a Teresa Guilherme, sei lá, mais importantes para a Cultura portuguesa do que a Natália Correia e o Tony Carreira mais essencial para essa mesma "cultura" do que o Lobo Antunes, o Cardoso Pires e o Eduardo Lourenço todos juntos---o Eduardo QUEM?!...---também é verdade mas) que não serão, ainda assim, tolinhos e tolinhas a esse ponto?!...

É caso para dizer: por amor de Deus! Ou, como dizia "o outro": "Oh minha rica senhora! Experimente bater aí, na porta do lado! Eu não vi o acidente, já tenho enciclopédia, não quero ser sócio do Sporting e não preciso de mais nenhum seguro!..."

Livra!


"Eduardo Lourenço por Vasco" ou como ainda há quem, apesar de tudo, vá pensando, no "País da Floribella" e "da TVI"...

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