quinta-feira, 30 de abril de 2009

"SÓ NOS FALTAVA MAIS ESTA!! NÃO A MAIS UMA SITUAÇÃO DE SUBMISSÃO DA NOSSA SAÚDE A INTERESSES COMERCIAIS!"


NÃO À "TECNOLOGIA POWERLINE"!!"

A QUEM LER ESTE BLOG:
RECUSEM A CHAMADA "TECNOLOGIA POWERLINE" PARA A RECEPÇÃO DE INTERNET!

TRATA-SE DE UMA TECNOLOGIA EM TESTE EM PORTUGAL QUE SE PRETENDE INTRODUZIR ENTRE NÓS POR RAZÕES DE MERO INTERESSE ECONÓMICO-FINANCEIRO E COMERCIAL, EXTREMAMENTE INEFICIENTE (MUITO MAIS DO QUE A A.D.S.L.), QUE INTERFERE COM OS DIVERSOS DISPOSITIVOS ELÉCTRICOS (TELEVISÕES, ELECTRO-DOMÉSTICOS EM GERAL, ETC.) E É POR ELES INTERFERIDA MAS, MAIS GRAVE AINDA, POTENCIALMENTE DANOSA PARA A SAÚDE PÚBLICA.

DEVIDO, COM EFEITO, À EMISSÃO CONTÍNUA DE RADIAÇÕES DE FREQUÊNCIA ELEVADÍSSIMA POR CABO NÃO-COAXIAL (ENTRE 8.000 e 30.000 KHz) (!!) POSSUI ACTIVIDADE POTENCIALMENTE CANCERÍGENA TENDO, POR ESSE MOTIVO, SIDO JÁ PROIBIDA EM PAÍSES COMO A ALEMANHA, A ITÁLIA E O JAPÃO!


É IMPORTANTE DIVULGAR O CONTÚDO DESTA MENSAGEM JUNTO DE AMIGOS, FAMILIARES, ALUNOS, COLEGAS DE TRABALHO, ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, GOVERNO, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, DECO, ETC. ETC.

COM A VIDA NÃO SE BRINCA!

NÃO ARRISQUE!

MOBILIZE-SE!

INFORME-SE!

INTERVENHA!

DEFENDA A SUA SAÚDE E A DOS SEUS!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Falemos de linguagem: funções, natureza, isso tudo!"

Falemos, pois, de linguagem...

[Aproveito para acrescentar um "palavrão":] falemos um pouco da linguagem como «funcionalidade biofilomórfica".

Comecemos por um texto do "Público": é um ponto de partida como qualquer outro.

O texto em causa refere-se à edição de 12.03.09, intitula-se "Jovem de 17 anos ataca liceu na Alemanha e mata 16 pessoas" e versa, como o próprio título indica, sobre um "mass killer" germânico que abateu 16 compatriotas seus num liceu próximo de Sttutgart, concretamente em Winnenden, uma localidade com 28 mil pessoas, segundo o "Público".

Esta questão das dimensões físicas e humanas do lugar não é, do nosso ponto de vista, despicienda.

Na verdade, é para aí, para essa realidade urbana e, em tese, também não secundariamente urbanística (embora sobre essa não possuamos elementos de qualquer tipo) que apontam as reflexões de um psicólogo (cito:) "especialista em delinquência juvenil e história social do crime", ouvido pelo jornal sobre os aspectos técnicos do caso.

Diz o jornal citando este (Dietrich Oberwittler, de seu nome): "Estudando este tipo de fenómenos tanto nos EUA com [sic] na Europa, sabe-se que "acontecem mais em localidades pequenas perto de grandes cidades, locais em que há menos criminalidade, em comunidades sem grandes problemas económicos ou sociais"".

Analisemos, um pouco, o contreúdo possível destas reflexões:

Primeiro aspecto: afigura-se-me, desde logo, razoavelmente equívoco, sob determinados aspectos, falar, sobretudo hoje, em "famílias ou comunidades sem grandes problemas económicos ou sociais".

Económicos porque, cada vez mais, uma coisa são as gerações mais velhas não terem esse tipo de problema (por possuirem empregos apesar de tudo ainda, sob muitos aspectos, comparativamente estáveis) e as mais novas não terem já começado a senti-los.

Ou seja: não será (não é!) efectivamente incomum que um médico, um advogado ou um arquitecto possuam um nível de vida não apenas razoável como cumulativamente estabilizado mas os respectivos filhos, mesmo que sejam, também eles, engenheiros, advogados ou até médicos se hajam já deparado com uma realidade profissional e especificamente laboral já em tudo substancial e mesmo substantivamente bem diferente dessa.

Dizer, portanto, "d' emblé" que determinados universos familiares não têm "grandes problemas económicos ou sociais" pode ser em larga medida ilusório e outro tanto se passa com as questões sociais e, concretamente psicosociais, que daí inevitavelmente derivam.

Parece até evidente que esta disparidade surgida no interior de famílias global ou exteriormente aflluentes, exactamente porque permitem fazer de perto comparações que é inevitável que resultem perigosas do ponto de vista da estabilidade existencial e especificamente do equilíbrio psíquico dos membros pertencentes às gerações mais jovens, constitui um factor potenciador daquele mesmo equilíbrio e daquela mesma estabilidade.

Este, sem dúvida, um aspecto a ter a meu ver muito seriamente em conta quando está em causa a tarefa crítica de tipificar económica e socialmente as famílias hoje em dia.

Segundo aspecto diz respeito ao modo como as gerações encaram questões como o viver numa cidade pequena ou, por outro lado, numa zona dessa "maior cidade do mundo" que é aquela a que eu pessoalmente chamo a "Subúrbia".

Não é impossível supor que haja, com efeito, uma diferença substancial nas visões em causa. Admito como possível que, para um indivíduo ou casal de meia-idade, por exemplo, viver na "Subúrbia" das vivendas e dos jardins (aquela realidade urbanas e urbanística que nos Estads Unidos ficou arquetipicamente conhecida como o mundo das "picket fences") não seja exactamente a mesma coisa em termos de apelo social e cultu(r)al como o (não!) é para um jovem que, da urbe exige outro tipo de estimulação e interese.

O que eu quero dizer com tudo isto que até aqui já disse é que, quando falamos em paradigmas globalmente satisfatórios de vivencialidade ou existencialidade ("fulfilment patterns") é preciso ter em conta matizes muito precisos dentro dessa (ou simplesmente dentro da) realidade, mesmo quando esta se nos afigura imediatamente idealmente desprovida desa natureza "granular" e desigual que é, a meu ver, necessário saber, em tese, considerar.

Até, porém, há uma coisa de que não falei ainda embora a tivesse 'anunciado' no título: da linguagem.

Esta surge quando comparamos a realidade relacional numa cidade como Berlim, Londres ou até Lisboa e muitos dos lugares a que poderíamos chamar 'tópicos' da "Subúrbia".

Por que faço esta afirmação?

Porque, se admitirmos que há, nas pessoas, em particular nos jovens, frustração, pelas razões que apontei ou por outras quaisquer, o modo como reportamos essa frustração ao meio ue nos rodeia apenas pode ser radicalmente diferente na grande cidade (onde o anonimato e a distância fazem com que as comparações a fazer entre padrões específicos e particulares de sucesso não possuam imediatamente um rosto) e nas "societações" fisicamente menores onde tais comparações são inevitavelmente transferidas enquanto "quadro causal" ou mesmo objectualmente "causalizado" para rostos e corpos muito concretos, materiais.

Se eu, com efeito, me encontrar desempregado numa grande cidade eu não possuo no imediato (não possuo naturalmente) referências imediatamente identitarizadas, digamos assim. Eu não sou "mais pobre do que o Dietmar e a Edna" ou "não perdi o emprego porque o Sr. Smith me despediu": eu "sou pobre" e/ou "fui despedido da fábrica ou do escritório".

Ou seja: a grande cidade é tendencialmente o reino da "passive voice" (*) o que do ponto de vista da mecânica das minhas formulações e representações subjeccionais/afeccionais da realidade faz com que a frustração gerada reporte/retorne tendencialmente sobre mim próprio (sob a forma de angústia 'pura', isto é, de angústia que fica tendencialmente bloqueada em mim, incapaz de achar vias simbolicamente satisfatórias para escapar-se para o exterior sob a forma de um «projecto subjeccional» qualquer de compensação também ela simbólica ou simbológica--simbológico-vivencial--qualquer).

É por isso que eu comecei estas notas falando de linguagem: a violência em circuito, de algum modo, fechado, ou seja, num circuito (e sublinho o termo "circuito") em que a frustração pode achar no imediato um rosto e uma identidade visualizáveis não é, na realidade, efectivamente, outra coisa senão uma linguagem e o quadro comunicacional um circuito linguístico concreto, específico.

Dele consta um projecto comunicacional preciso onde existem representações mentais arrancadas à realidade e conceptualizadas (imagens teóricas ou "teoretiformes" do real e vontade de estabelecer "teias reaccionais" específicas com o exterior, na forma de um discurso organizado que incorpora a violência é verdade mas de um modo que está, em tese, longe de ser gratuito ou, dito de outro modo, efectivamente "absurdo".

Isto sabendo (ou acreditando, pelo menos--ou supondo) nós que a "razão" humana mais não é do que a pura técnica da consciência, desprovida de verdadeira "moral" que nela vejo e que ela se limita a 'copiar' (diria eu) a própria configuração natural da realidade que é, na sua in/essência, mera sequencialidade ou pura sucessionalidade obtida a partir de um núcleo original (uma das "leis" que concebo mais estavelmente para a realidade é que "a realidade possui um centro: não apenas um início temporal mas um centro que condiciona a forma e, no limite tético, as próprias formas futuras dessa mesma realidade").

Na verdade, tal como a vejo ou suponho, o que faz a "razão" é sequenciar hipóteses de realidade tal como aquilo que a própria realidade faz se limita a ser sequenciar-se e ajustar-se à sequencialidade que está na origem (e que fundamenta: que fornece o único fundamento concebível) de si própria--sequencialiade essa que está, diria eu, material e objectiovamente obrigada a si própria em consequência do próprio modo como se originou e origina, em última mas real instância, a "realidade".

Nada mais do que isso, de facto.

É por isso que a violência nos parece tantas vezes gratuita, estando ela a agir segundo a única lógica que conhece e fazendo desta naturalmente um discurso--a tal linguagem de que começámos por falar.

Agredindo aqueles nos quais projectei a minha própria representação sequencializada da realidade eu estou, de facto, a falar com pessoas que vejo e toco e que estão, assim, suficientemente (denotativa e conotativamente) perto de mim para que eu possa, pois, com elas comunicar.

Na grande cidade, posso, claro, "falar", "clamando" num deserto onde não existem rostos onde possa causalizar (ou transformar em linguagem) a minha inquietação e a minha frustração--ou frustrações.

Posso, numa palavra, matar indiscriminadamente--e aí, em tese, o meu discurso tende a descentrar-se e a assumir a forma dupla ou secundariamente inquietante de um puro acto (de uma pura acticidade) integralmente gratuitos onde a linguagem usada é, de facto, um monólogo--ou onde a (no fundo: não) linguagem utilizada possui uma natureza potencial (ou mesmo realmente!) excrementícia no preciso sentido em que nõ desencadeia comunicacionalidade reconhecível antes a coclui ou encerra--como acontece, por exemplo (talvez máximo: literariamente máximo, sem dúvida!) em Beckett.

Então, a decorrência natural é que o discurso desejado retorne fatalmente sobre mim ficando, como atrás disse, completamente bloqueado, incapaz de exprimir-se num discurso virado ainda (deformada e disfuncionalmente embora) para o exterior.

Com um alvo ou interlocutor(es) identificável/eis/identificado(s).


..................................................................................


O segundo aspecto que aqui queria focar respeita a um outro texto envolvendo um 'caso' em tudo idêntico, referente a um outro assassino, Michael McLendon que matou 11 pessoas no Alabama, nos E.U.A.

Não vou aqui incidir nas minhas reflexões tanto ou realmente swobre o caso mas sobre o que julgo ser a tradução feita a partir do Inglês pelo jornalista (a mesma da reportagem sobre Tim Kretschmer, o matador de Winnenden, Maria João Gumarães?) quando este ou esta diz: "Ele [Michael McLendon] 'limpou' a família toda.

A mim, pessoalmente, este "limpou" usado pelo/a jornalista afigura-se-me ser a tradução (a meu ver, excessivamente mecânica, descuidada mesmo) do inglês "wiped out", "dizimou" a família toda.

E "dizimou" e não "limpou" como quer o/a jornalista porquê?

Porque "limpou" soa demasiado familiar e desrespeitoso em consequência da sua natureza excessivamente chula e desrespeitosa, insensível.

"Limpou", "limpou-os todos", "limpou-lhes o sebo": linguagem chã, plebeia transmitindo um registo de insensibilidade e indiferença perante o drama humano que lhe subjaz.

Claro que o jornalista (não tendo, como é óbvio, de tomar partido no discurso estritamente jornalístico e profissional que vai redigir, não teve, ainda assim--não é legítimo que duvidemos do facto!--a intenção de "se armar em duro", referindo-se ao assassínio de 11 pessoas como poderia fazê-lo um espectador muito jovem a quem a ideia da morte não permitisse ainda compreensivelmente uma visão ou uma impressão integral do trágico envolvido as quais seriam, como é evidente, perfeitamnte naturais num adulto educado para a solidariedade com a dor alheia, para a humanidade e o humanismo ou de um outro, jovem ou não, que quisesse, em qualquer caso, assumir a «pose», chamemos-lhe: tópica de um "duro".

A verdade, porém, é que é essa a impressão que resulta do modo como não soube reajustar o nível de língua da possível redacção original para o seu próprio idioma.

E isto, pelo seguinte: a linguagem humana (lá voltamos nós a ela!) faz-se, diria eu, de duas coisas. De muitas mas seguramente de duas: de uma espécie de fluxo sémico composto por um patrimónuio expressional neutro que (diria eu) "vai direito ao sentido" sem passagem pela (ou sem interferência da) criatividade individual dos falantes envolvidos.

Sem refractar, pois, em qualquer deles.

Neste património ou nível linguístico a ideia do falante é, diria eu, dissolver-se crítica ou criticionalmente na própria mensagem. Uma língua, uma idiomaticidade, alimenta-se, a meu ver, basica e essencialmente daquilo a que chamamos "lugares comuns", "platitudes".

Estas são, repito, o "alimento essencial" ou a "dieta natural", da linguagem--da idiomaticidade--humana.

É, de resto, porque assim é que é possível representar a criatividade no discurso: se toda a linguagem fose oroginal, ela estaria condenada a recomeçar a cada nova fala e não haveria originalidade na medida em que todo o discurso toda a discursividade, na realidade, o seria.

As platitudes", todavia, nem sempre o foram: muitas delas, a maioria esmagadora, são, em tese, anterores momentos criativos de algum falante que, durante um certo período de vigência "abriram" ou "desviaram" o fluxo sémico, fazendo incidir sobre ele uma espécie de "gravidade" ou "impulso gravitacional semiótico" que se vai, porém, progressivamente "achatando" até adquirir a "forma sémica" das restantes "platitudes" entre as quais se vai, por fim, naturalmente "encaixar", esgotado o sopro original... original.

A linguagem "move-se" ou "desloca-se" (eu costumo dizer: "volui") assim numa espécie de movimento ondulatório de integração, de metaforização/desmetaforização, de agitação/aquietação natural; de verticalização/horizontalização através de cujo "jogo" ou "dialéctica" se vai (re) construindo sucessivamente o "continuum sémico" de que as palavras são a expressão material, audível ou visível.

É este jogo e é esta dialéctica que fixam o nível ou níveis de língua, que estabelecem e tornam perceptível (representável) o "decoro expressional".

"Traduzir", por exemplo, o inglês "cop" como o francês "flic" por "chui" ou mais modernamente "bófia" pode estar certo ou completamente errado conforme os contextos.

Não é em qualquer caso, algo que se possa (como infelizmente se vê tantas vezes acontecer) algo que se deva fazer de forma acrítica e apenas mecânica.

Uma metáfora "entrada a destempo" no universo comunicacional (uma nota alta num discurso que está a ser normalmente baixo) pode disfuncionar, a nível subliminar, toda a mensagem, todo o discurso.

No caso vertente do homem que "limpou" a família inteira a imagem, o resíduo sémico, subliminar que fica é muito mais jocoso do que sério mbora mecanicamente possamos estar perante uma tradução (chamemos-lhe:) "mecanicamente exemplar".

Uma última reflexão: tal como eu a vejo (e já atrás sugeri isto mesmo) a realidade origina-se num ponto teórico de si e tem o seu fundamento na dissipação (ou, em termos mais abstractos e teóricos) na dissipacionalidade ou expansão do seu próprio conteúdo em matéria--ou (como lhe chamo eu que sou muito mais "filósofo" do que físico ou astrónomo) em "matericidade".

Tudo no que chamamos '(a) realidade' é, em tese, "mutação" e/ou concretação (anisotropia ou percepção secundária, consciencial e/ou para-consciencial) desse movimento fundamental ou essencial e, também, pois, essenciante.

A causalidade (aquilo que por tal termo vulgar ou "cientificamente" designamos) não passa, ela própria, a meu ver, na minha hipótese, não de uma verdadeira "lei" do real mas de uma entre tantas outras fenomenocidades ou anisotropias e/ou da respectiva percepção secundária ou, no caso dos seres humanos, consciencial.

Tudo, no real, se explica e fundamenta na expansão (que é também dissipação) do próprio "real".

Este tem enquanto entidade expansional ou desintegracional o futuro "na rectaguarda" do seu próprio passado--o qual se situa como não-entidade não atrás mas inexistentemente "à frente" desse futuro fundamentante e essenciante perdido algures "atrás" desse ponto tético onde a própria expansão teve o seu início.

A linguagem decalca, a meu ver, tão inevitável quanto naturalmente o movimento expansional e granular de toda a realidade: a dialéctica a que atrás faço referência ilustra-o e, em tese, permite mesmo demonstrá-lo teoricamente na perfeição.

Concluindo este conjunto de reflexões sobre a linguagem, e diria (e esse aspecto afigura-se-me perfeitamente reconhecível em ambos os casos que aqui trago) que ela é o ponto teórico para onde confluem o "universal" e o particular; onde se fabrica o "sentido" humano, esse "veneer" de significacionalidade com que "decoramos" todos e cada um dos objectos que nos rodeiam e que imaginamos serem parte de uma realidade que igualmente, sobreudo, supomos senão mesmo, num certo sentido criticional preciso, imaginamos.

Refiro-me ao modo como, esquecidos da natureza estrutural e realmente expansional/dissipacional da realidade, para ela procuramos toda a espécie de sentidos secundários, nela reintroduzidos "de trás para diante" como se, para voltar a utilizar aqui uma imagem a que recorri poucas linhas atrás, o futuro da realidade estivesse, na verdade, à frente, não naturalmente atrás, de toda ela...


NOTA


(*) Da "passive voice" inglesa a qual, como se sabe (como sabem os que adquiriram o conhecimento do idioma de Shakespeare de outra forma que não pela via simplesmente 'mecânica' ou "mecaniforme" do "functional") possui normas de uso que não ão, em caso algum, mecânicas e automáticas.

São, sim, o reino da accionalidade como tal, isto é, o domínio da impessoalidade accional em cujo contexto o que é relecvado são as coisas que acontecem, não o respectivo agente que ou é desconhecido ou, de mais de uma maneira, imaterial e irrelevante.

Se a esta impessoalicidade agregarmos a consideração das reacções afectivas ou afeccionais dos respectivos objectos, é fácil constar a potenciação da componente de angústia possivelmente aí acrescentada, exactamente porque se a uma pessoa que nos faz mal podemos rertaliar e encontar aí, nessa retaliação, elementos de compensação afecccional quando o agente é desconhecido ou demasiado lato, a reacção (e com ela a satisfação funcional imediata, ao menos por ela gerada) tornam-se impossíveis e o enquistamento tendencial da angústia, por sua vez, altamente provável senão mesmo, inevitável).


[Imagem extraída com a devida vénia de oi.uchicago.edu]

terça-feira, 28 de abril de 2009

As «Nostalgias Erradas de Miguel Gaspar» re/vistas à lupa aqui no «Quisto»"

O inevitável "Público" (desta feita, o de hoje, dia 28.04.09) insere um texto da autoria de Miguel Gaspar onde, entre outras coisas, se fala de partidos políticos.
De uma nossa suposta má relação (não sei se "natural") enquanto sociedade, com eles.

E escreve-se: [nessa conflituosa ou, pelo menos, difícil, atribulada, nossa relação colectiva com eles] sobrevive "[...] um desejo camuflado de voltar ao tempo dos ditadores, onde se pode gozar a pouco recomendável liberdade de entregar a nossa responsabilidade a outros".

Ora, nesta formulação aparentemente inatacável em si mesma, há, com todo o respeito, um, no fundo, evidente equívoco ou mesmo sofisma.

Na realidade, há muito que venho insistindo sobre o modo como, no actual sistema partidário português, supostamente democrático, já se verificou, na prática, uma espécie de "deslizamento" subtil interior de "terras políticas" que acabou por conduzir a uma deformação persistente na estrutura básica do mesmo, caracterizada esta pelo facto de aquilo que deveria estar na sua base, no seu núcleo, no seu código genético institucional e consistir na cedência instrumental do exercício funcional do poder ter dado já lugar a uma espécie de "fantasma meta-institucional" objectivo definido, por seu turno, pela circunstância de com o exercício do poder ser autoáticamente cedido o próprio poder como tal.

A este fenómeno de "deslizamento meta-institucional" verificado no interior, isto é, nas camadas menos imediatamente 'visíveis' (ou mesmo completamente invisíveis) do sistema chamei eu um "apodrecimento" (ou, no mínimo uma "mutação objectual") da Democracia em mera "demomorfia instrumental" de facto, caracterizável ou caracterizada, afinal, em última mas real instância, precisamente por aquilo que Miguel Gaspar descreve como a (para alguns prazeirosa) "liberdade de entregar a nossa responsabilidade a outros".

Entre ambos os "sistemas" (ou entre o sistema prpriamente dito e a sua "sombra" projectada na "parede política" em redor do mesmo); isto é: entre a Democracia e a "demomorfia" ou "deriva demomórfica", há, diria eu, uma fronteira natural: a existência ou não de uma opinião pública.

De uma (verdadeira) sociedade comummente dita 'civil'.

Não servil: civil, mesmo...

Ora, isso é coisa que, entee nós, não existe.

Por razões históricas concretas, Portugal que nunca conheceu exactamente um feudalismo genuíno; que conheceu, pelo contrário, como defende, por exemplo, Jaime Cortesão, uma base municipal potencialmente geradora de uma consciência (e de uma sub-consciência!) colectiva democrática estável a que poderia chamar-se, com alguma defensável propriedade, também 'natural'; Portugal que nunca incorporou verdadeiras regiões e nunca teve como Espanha ou França de lidar com o problema de integrá-las, com maior ou menor dificuldade, numa unidade orgânica, chamemos-lhe: secundária ou mesmo terciária; Portugal, dizia, foi sempre, todavia, de um modo ou de outro, uma comunidade nacional argumentavelmente, em mais de um sentido, inorgânica.

Nele, sempre faltou uma base material, objectiva, para a integridade.

Não lhe terão faltado projectos vagos, difusos--muitas vezes, (in) essencialmente poéticos.

Mas uma verdadeira base objectual, a meu ver e em tese, nunca existiu de forma estável e fundamentadora de uma verdadeira (sub) consciência nacional objectiva, efectiva e com acento no activa.

Dinâmica.

Dialéctica.

Aquilo a que chamo a "tanatopia nacional" ou o "pensar tanatópico electivo português" é perfeitamente emblemático desse fenómeno ou dessa fenomenologia envolvendo um conjunto de formas estáveis e distintivas de 'negociar' com a própria consciência (com a consciência e a subconsciência de si) o projecto nacional de renunciar a intervir individual mas, sobretudo, colectivamente sobre a História e sobre a realidade em geral.

A "tanatopia" passou a ser, assim, a um tempo e a prazo, causa e efeito da inexistência de um 'Portugal orgânico' nunca construído, como ideia consistente e sólida, sobre um conjunto de práticas envolvendo o desejo de organizar-se para intervir consistemente sobre a História.

A nostalgia da relevância geopolítica e geoeconómica rapidamente passada (mesmo aí, um fenómeno socialmente muito limitado e fortemente "significado" nesses mesmos termos sociais, como testemunha a obra de um Gil Vicente ou até de algum Camões, por exemplo); a Inquisição; a dependência de Castela; as invasões francesas; a guerra civil impediram que Portugal conhecesse, por exemplo, uma actividade produtiva, a dado passo industrial, que fosse capaz de ter gerado como sucedeu, entre outros países, em Inglaterra e França as tensões sociais [as lutas de classe(s)] que geram, por sua vez, no inconsciente colectivo a percepção mais ou menos estável, mais ou menos instintual de que a História e a realidade em geral são mutáveis e que existe, cumulativamente, objectivamente uma relação igualmente estável passível de ser percebida por aquela mesmo subconsciência colectiva entre as mudanças verificadas no tecido da realidade (a possibilidade objectiva de mudar ou "mutar" esta) e a acção humana, individual ou, volto a dizer, sublinhando: colectiva.

A cultura tanatópica que se foi estabelecendo entre nós representa, no fundo, o oposto mais ou menos exacto desta outra.

O desejo (ou o projecto?) mais ou menos prazeiroso e tranquilizador de entregar sempre "a responsabilidade a outros" de que fala Miguel Gaspar resulta daqui e entronca, pois, naturalmente aqui, onde a renúncia à acção reentrou secundária ou terciariamente na nossa História colectiva completamente redimida já na forma idealizada de "valor", num sentido quase para-diltheyiano, chamemos-lhe assim.

A tanatopia 'inspira-se' fortemente no próprio modo judaico-cristão tópico de aperceber e representar cultu(r)almente a realidade.

Ideias ou 'ideações' imediatamente referenciais como "carne" (fraca) e "espírito" (distinto da "carne", "prisioneiro" ou "refém" da condição material--a característica "esquizofrenia ôntica", diversamente representável e diversamente quantificável, digamos assim, mas sempre, em última instância, reconhecível do Judaísmo e do Cristianismo, chamemos-lhes: tópicos);"pecado" e "redenção";"vida material" (fugaz, breve e falível) e "Além" ("fora do Tempo" a "felicidade perfeita", a "beatitude na morte", no não-agir, no transmutar-se numa essência divinal ou para-divinal, "the way of all flesh", como titulava Butler); de "paraíso perdido"/"paraíso reencontrado"; de "morrer" e "ressuscitar" dando, no limite,"morrer para resssuscitar"; ideias ou 'ideações' deste tipo, dizia, acabaram inevitavelmente por... contaminar os próprios modos tópicos de (não) estar na História, de dela se evadir "gloriosamente", não como fuga mas, ao contrário, como destino natural que não se faz, não se constrói, não se fabrica mas se cumpre.

A Democracia, entre nós, vem quase invariavelmente (de forma paradoxal, num País que, como atrás vimos, até nem teve, nem conheceu, uma verdadeira feudalidade) "de fora": de França, com os ecos da Grande Revolução e a acção do Grande Exército; de Inglaterra, com os liberais.

Aquilo que a caracteriza é, diria eu, exactamente esse facto de ela operar sempre topicamente como um produto 'de importação'.

Entre nós, nunca existiu, com efeito, uma verdadeira indústria nacional do pensar democrático.

Isto é: a organização em moldes genuinamente democráticos (envolvendo um projecto teórico mas também indispensavelmente uma comunidade que o visse como um anseio genuino) nunca constituiu, por quanto vimos, uma forma natural de ocupar e, sobreudo, de protagonizar a História.

De facto, a democracia, as diversas formas possíveis de pensar democrático ou mesmo consistente e activamente democêntrico é/são algo que desce mais ou menos pontual, mais ou menos ciclicamente sobre a sociedade portuguesa, não algo que dela sobe ou se eleva, como acontece com a representação ou o paradigma teorétricos do que chamo o "Estado-consciência": o Estado como concretação de um conjunto organizado de anseios que não se desiste de ver objectuados num sistema operativo, por sua vez, capaz de reprojectá-los dialectica e efectivamente sobre quem os concebeu e desejou--e pretende ver eternizados num plano histórico, social e político orgânico concreto.

A partidofobia nacional está, pois, por tudo quanto disse a quilómetros de ser um fenómeno moderno.

O salazarismo nasce precisamente dela: da forma que ela assumiu após a implantação... "das repúblicas"--quero dizer: da República histórica, a das elites ideológicas e políticas e a outra, a popular que nunca foi verdadeiramente capaz de entender da anterioro seu conteúdo em possível democraticidade de modo a "protagonizá-la", a essa democraticidade, ao menos secundariamente.

Isto é: não tendo nascido como projecção directa e natural de qualquer pulsão minimamente consciente, generalizada e estável, das massas, a Democracia nem depois de implantada pela força pôde ser verdadeiramente reconhecida como concretação de um genuino projecto seu por essas mesmas massas.

Na verdade, o problema é esse mesmo--sempre foi esse mesmo.

Há quem lhe chame sebastianismo, há quem lhe chame inúmeras outras coisas, umas boas, outras más.

A verdade, todavia, é que nem a monarquia, nem sequer a República foram alguma vez capazes de criar esse cimento de cidadania (uma questão que, além de histórica é, também, especificamente económica) que é imprescindível que exista para que haja alicerces sólidos para recebeer uma verdadeira Democracia.

A Democracia não se decreta, de facto: quando ela resulta exclusivamente ou quase de "decretos", o resultado inevitável é a morfocracia, isto é, um sistema com os ógãos (alguns órgãos!) da Democracia mas sem o seu espírito ou a sua alma.

Basta olhar para o que se passa politicamente à nossa volta, hoje mesmo, para constatá-lo e percebê-lo com toda a clareza que é possível.


[Imagem de topo extraída com a devida vénia de portugalsecreto.no.sapo.pt]

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Oh sorte marrreca!... Não é que só me saem «duques»?!..."

Leio num artigo de Rui Moreira vindo a lume no "Público" do dia 27 de Abril um texto intitulado "Tudo bons rapazes..." onde o autor se atira (literalmente!) a alguns militares ditos "de Abril" como o hoje quase esquecido Rosa Coutinho ou Otelo Saraiva de Carvalho.
E começo por pôr, desde logo, uma questão: por que carga de água teremos nós de apanhar dia após dia com certos fulanos como este mesmo Rui Moreira (ou um tal Miguel Júdice, ou uma tal Helena Matos ou, ainda, uma tal Ester de último nome impronunciável) que, do Futebol à Economia à Ecologia e à própria Política nos massacram diariamente com as suas opiniões e, pior e mais grave (e mais... chato!) ainda, as suas pessoalíssimas «convicções»??!!

Porquê Marcelo Rebelo de Sousa (a coisa mais parecida com Daffy Duck depois do próprio Daffy) na televisão?

Porquê o indigerível Sousa Tavares na televisão e como se não bastasse também no "Expresso"??

Porquê o misantropo e neuropata Polido Valente (a quem um amigo meu, disléxico e duro de ouvido, chama com toda a naturalidade "Poluído da Mente"...) à semana no "Público"?

Que diabo!

Quando não é um é outro--que será que acredita estes fulanos todos (aos quais, de há um tempo para cá, se juntou ainda--como se em vez de "um mal nunca vem só" o dito popular fosse "dez ou quinze males nunca vêm sós!...--Vital Moreira) para que lhes seja generosamente fornecido com uma regularidade que incomoda e inferniza o «caixote-de-sabão impresso» de um jonal que até é globalmente interessante (e ainda mais o seria sem eles, aliás) e de cima do qual parecem ter-se conjurado todos para nos chatear e esticar até ao limite a paciência.

Que diabo! Há tantos escritores, pensadores, cientistas, etc. cujas opiniões e pontos de vista valem a brincar as lucubrações invariavelmente de um modo ou de outro interesseiras deste ramalhete de luminárias suburbanitas por que diabo haviam de ter escolhido logo estes??!!

Eles sabem de tudo, têm ideias e opiniões sobre tudo--do tabagismo à geopolítica, da culinária à economia mundial!

Agora, no caso pelo qual comecei esta 'entrada' são, como disse, alguns dos homns bons aos quais, com todas as suas fraquezas e erros devemos o estar aqui todos a falar.

Que o Rosa Coutinho não sei quê.

Que o Otelo não sei que mais.

E por aí fora.

É algo de verdadeiramente estarrecedor e mesmo inquietante o escandaloso reescrever da História (o indecoroso branqueamento da realidade factual objectiva!) que subjaz ao discurso em questão, o qual concentra um mal (que, por sua vez, recusa aos bombistas e sediciosos de '75, aos "éme-dê-éle-pês", aos "elpes", às "flas", às "flamas" e quejandos e mais às respectivas "embaixadas" ou "testas de ferro" legais, "legítimos") em meia dúzia de figuras que, por terem tido a generosidade (ou a ingenuidade?) de pensar que "estava ali uma revolução a sério" e que a História ia finalmente "poder pender de vez para o lado dos mais fracos" se deixaram apanhar nas malhas de equívocos ou mesmo abertamente de erros de que os "outros", todavia, cometendo erros iguais (e alguns até bem piores e bem mais graves!) na sua qualidade de vencedores de uma História oportunista e perversamente injusta, se safaram, afinal, em última instância, imaculados como Nossa Senhora e os próprios anjos...

[Imagem extraída com a vénia da praxe de tamaraj19.blogspot.com]

"Eu nunca fui propriamente...«obamista» até porque..."

...até porque sou português e, sinceramente (aqui entre nós que ninguém nos ouve...) a minha empatia com os E.U.A. e aquilo que eu acredito que eles representam (aquilo que para mim representam, pelo menos...) é ("to say the least"...) mínima.

Por todo um vasto conjunto de razões que não vêm, todavia, neste momento, em pormenor, ao caso.

Respeito-os genericamente, claro, mas daí até me identificar mesmo apenas minimamente, volto a dizer, com uma certa... "americanicidade" genérica e consistente feita de pragmatismos vários e de todo um conjunto de valores estr(e)itamente materiais vai, de facto, uma distância considerável.

Sou demasiado europeu, acho eu, para poder identificar-me com o famigerado "American way", nas suas múltiplas (e possíveis, insisto) formas.

Gosto de "um certo Sandburg" (que conseguiu transformar a irremediável vulgaridade que permite credivelmente identificar a "Americana" num discurso de, por vezes, genuina genialidade) e de "um certo Papa Hemingway" ou de uma certa memória adolescente que dele gurado quando descobri que escrever não era só aquilo que a pena pesada e dura, hirta, de Herculano (que conhecia d' "A Abóbada" e do "Eurico") fazia.

Gosto do Fitzgerald (mas, muito em particular, por causa daquela edição dele que perdi numa mudança de casa qualquer, com prefácio do Miguéis, que reencontrei recentemente em Évora e que tentei, sem sucesso, comprar...) e gosto do Langston Hughes que tinha uma concepção jazzística fabulosa (porque natural e, sobretudo, selvagem) da poesia.

Abomino Thoreau e Emerson exactamente porque (lá está!) são demasiado simplórios e americanamente retóricos para o meu gosto europeu (há toda uma retórica da falsa simplicidade, como uma leitura atenta, mesmo breve, de ambos permite demonstrar à saciedade).

Bom mas a ideia aqui nem era falar propriamente deste aspecto mais literário ou mais artístico da "Americana") mas, de um modo específico, de Obama como parte do que para muitos será um projecto global de recuperação ou resgate (de redenção) de uma "América levada às últimas--mas também naturais...--consequências" com Bush e os "bushmen".

A propósito de Obama acreditam muitos que a América se está a lavar com água limpa da sujidade acumulada com anos de tenebroso "bushismo".

Seria (será!) seguramente interessante conhecer o que acreditam os que assim pensam da notícia recente (cf. jornal "Público" de 26.04.09, artigo "Agência militar norte-americana alertou contra o uso de tortura nos interrogatórios") de que Obama não vai responsabilizar os agentes da C.I.A. que "interrogaram" os presos acusados de pertencerem à Al Qaeda.

A ideia parece ser a de que responsáveis, para Obama e a "nova América" são, sim, os que deram as ordens para que as vítimas do "bushismo" fossem interrogadas "enérgica" ou "duramente".

Cá para mim, isto é apenas a América ou a americanicidade no seu pior.

Por um lado, glorifica, diz ela--pretende ela que nós acreditemos que glorifica--o individualismo e mesmo, com alghuma prudência e alguma reserva, a iniciativa autónoma dos indivíduos como tal: o "cowboy" solitário, o herói drifter e esse folclore todo de que John Wayne deu um rosto que chegou a parecer possível de ser acreditado.

Fizeram-se filmes verdadeiramente espantosos em torno desse mito que (em meu entender, pelo menos) está, aliás, para a "americanicidade" tópica como o "pensar tanatópico" está para a uma certa "portugalidade" ou uma certa "lusitanidade adquirida" (histórica e politicamente educada" de que falo, com algum maior detalhe, noutro ponto deste "Diário".

Foi, no fundo, uma espécie de "avesso redentor" (ou "redencional") do feroz materialismo típico da "Americana", a representação horizontal de uma "eto-topia" e/ou de uma "cosmotopia" puramente ideais que, no fundo, ninguém, na América, todavia, deseja para si embora adorasse, claro, ver nos outros, praticada por outros.

Isto, por um lado, como disse.

Porque a verdade é que, por outro, se contenta (ela e a Dra. Teresa de Sousa...) com este tipo de gestos vãmente simbólicos e farisaicos onde se podem ouvir (quem souber fazê-lo) ecos de uma coisa terrível que aconteceu há alguns anos à História e que se expressou topicamente pela arrepiantemente desresponsabilizadora máxima que dizia "Befehl ist Befehl".

Para quem era suposto "remir" décadas de abjecção, física e moral, é, temos de convir, francamente curto...

[Imagem extraída com vénia de bksschoolhouse.com]

"Sociedade do conhecimento sem... conhecimento da sociedade"

Um dos mitos (para não lhe chamar abertamente embustes!...) protagonizados (na realidade, liderados!) pelo actual poder político em Portugal é aquele que assenta na falsíssima ideia de que se viveria, hoje-por-hoje, entre nós, numa genuina sociedade "do conhecimento", mais ou menos caracterizada por se centrar exactamente no uso regular e, sobretudo, consistente da tecnologia que a 'modernidade' põe à disposição (à disposição potencial, à disposição muito genérica é preciso acrescentar desde já...) das sociedades contemporâneas, em particular das que se situam no chamado "Ocidente".

Numa gnoseotopia ou civilização demonstravelmente gnoseotópica, por conseguinte.

Trata-se, como digo, de um mito.

Desde logo, porque, como há muito venho repetindo, essas mesmas sociedades "ocidentais" aquilo que efectivamente fazem (e nem sequer é apenas sistemática: é sistemicamente!) ao saber nas suas múltiplas formas de que a tecnologia é, na realidade, apenas uma é integrá-lo efectivamente em si mas na condição (r) estrita e (im) puramente instrumental de 'mercadoria' e/ou de 'propriedade' utilizadas, uma e outra, no "fabrico" ou na "produção" privada de capital o que significa, desde o início, uma utilização altamente "significada", isto é, substantivamente selectiva, reservada, do próprio saber o qual, como também não me canso de repetir, apenas fica social, política e até juridicamente acessível ao conjunto da sociedade na forma geneticamente inerte de "produtos" avulsos ou (em mais de um sentido...) não-orgânicos ou mesmo abertamente inorgânicos de si.

Ou seja (parafraseando o conhecido "mot d' esprit" de Bernard Shaw sobre os Estados Unidos e a Inglaterra--cito de cor: "dois países sob muitos aspectos semelhantes separados por um idioma comum", diz deles o autor de "Pigmalion"--poderíamos mutatis mutandis dizer que, de uma maneira geral, a sociedade, as sociedades modernas e o conhecimento são duas entidades temporalmente coincidentes mas separadas entre si pelos produtos obtidos a partir da "transformação industrial", potencialmente socializável (ou mesmo: idealmente democratizável) deste último nesses mesmos produtos.

O que na realidade se pode afirmar das 'nossas' sociedades ditas "ocidentais" contemporâneas relativamente ao saber (aos usos distintivos e cultu(r)ais mas, de igual modo, políticos do saber) é, diria eu, que é próprio delas "enclose" (como na primeira revolução industrial foi feito à propriedade física das terras) desta feita, o próprio conhecimento como tal que opera, assim, de facto não como um elo de ligação entre as sociedades e a possibilidade de cada um agir directa e autonomamente sobre a realidade mas, exactamente ao contrário, com os produtos do conhecimento usados como um "biombo", um "screen" entre as sociedades e essa possibilidade democraticamente ideal de acção autónoma sobre o real, transformando-o onde e como fosse entendido que ele deveria sê-lo.

Como tenho também amplamente insistido, a uma primeira burguesia histórica que introduziu, como se sabe, na civilização em geral o princípio realmente revolucionário de que a propriedade para poder ser legitimamente fruída tem de ser previamente legitimada, isto é, tem de ser objecto de uma prévia legitimação ou justificação, objectivamente demonstrável, de si; a essa primeira burguesia (a cuja vigência histórica e política correspondeu um paradigma de escola teorica e, sob muitos aspectos, prática ou seja: realmente democrático) sucedeu, uma vez preenchida a propriedade deixada "vaga" pela aristocracia 'deposta' em 89 uma segunda (e, depois, uma terceira e assim por diante) burguesias "de contenção" porque o que passou, nesse caso, a estar em causa já não era a aquisição da propriedade (sectores liderantes dentro da burguesia haviam-na já, no essencial, ocupado e concentrado) mas a sua conservação nas mãos dos que, a seguir à Revolução, nos anos, nas décadas, que se lhe seguiram, a ocuparam, usando a técnica e a tecnologia como moeda de troca ou melhor: como argumento social e politicamente legitimador.

A chave do processo de ocupação da propriedade foi exactamente o saber, o conhecimento que a burguesia transformou, a breve trecho, naquilo que em breve passaria nuclearmente a ser: a própria matéria-prima básica no processo social e histórico (até mesmo civilizacional) de re/produção contínua de capital, como comecei por recordar.

Falando especificamente em termos de Escola ou de escolicidade da "nova" burguesia, o que há a dizer e a concluir é que ela passou naturalmente a reflectir enquanto «objecto institucional e cultu(r)al» a nova realidade deixando, ao contrário do que acontecera com a Escola da primeira burguesia e até do primeiro proletariado saídos como paradigma da Revolução Francesa, de ser a placa giratória da aquisição de saber (de obtenção, na forma de um "direito" dos meios de transformação objectiva da realidade) para passar a ver serem em si depostos, exactamente como acontece hoje ainda, um conjunto de saberes sucessivamento desactivdos da re/produção privada de capital.

A consequência disto é que, a dado passo, viria a nascer, ocupando o espaço deixado vago pelo saber ao ser todo ele transferido para a propriedade dos re/produtores privados de capital, uma espécie de vaga e indefinida ciencialidade constituída, meio pelos saberes desactivados pela produção de capital, meio por formulações vagamente políticas consistentemente confundidas amiúde com o conhecimento autêntico e é essa ciencialidade indefinida e, no fundo, também inorgânica que preenche hoje-por-hoje os curricula escolares, sobretudo nos estádios intermédios dos sistemas educativos.

Ou seja, longe de se "cientizarem", as sociedades modernas do "Ocidente", aquilo que fazem nas respectivas Escolas ou «escolicidades» em geral é gerir política e até, sob muitos aspectos, tecnicamente o vazio cognicional efectivo criado também politicamente pela transferência consistente do conhecimento da própria sociedade como tal para a produção.

É isso que explica, em termos (diria eu :) "macropedagógicos" e/ou especificadamente "macrodidácticos" o modo como as formulações da própria necessidade (aquelas a que chamo "epistemologicamente necessitárias") dão regularmente lugar, nas agora (quase?) completamente inorgânicas (nas sistemicamente in-orgânicas) escolicidades neo-burguesas contemporâneas, a reformulações elas mesmas im/puramente in-orgânicas e instrumentais de si de que, não hesito em afirmá-lo, a questão muito recente do chamado Acordo Ortográgico são um esclarecedor exemplo.

O "Acordo" em causa, com efeito, representa para quem tem um mínimo de conhecimento da idiomaticidade específica da língua portuguesa o próprio oposto da necessidade "de episteme", digamos assim.

É um mero instrumento de "política" comercial que retornou sobre um domínio epistemológico concreto (o do idioma), retroagindo exogenamente sobre ele e concretamente sobre as leis específicas que o regem enquanto universo universo epistemológico particular, deformando-o e deformando-as, às «leis» em causa a fim de servir objectivos que nada têm, em última instância a ver, com a "saúde epistemológica" do referido 'universo'.

O "Acordo" em causa constitui, de facto, a meu ver, um bom/péssimo "exemplo" do modo como a Epistemologia serve (numa sociedade que, aos repelões se reivindica da tecnologia e, de um modo mais geral, do saber, do conhhecimento) a política--do modo como ela está ao serviço de um conjunto de usos metagnoseológicos, não-democráticos e im/puramente instrumentais de si que a desautorizam e, pior ainda, a desfiguram, no limite, por completo.

Para que não seja acusado de falar sem provar dou um exemplo desta deformação da Epistemologia pela política (com minúscula...) (*)

Segundo alguns linguistas (e pretensos linguistas também: sobretudo estes) o que a reforma veio fazer foi unificar alguns aspectos não-necessariamente nucleares do português tal como é falado nos vários pontos do globo onde é idioma oficial.

Desde logo, é evidente (parece-o, em todo o caso...) que qualquer projecto demasiado unificador de um idioma de uma perspectiva inter-nacional e, especificamente,trans-continental tem necessariamente de conter em si uma componente essencial de prudência e respeito por aquilo que é a respiração natural das línguas.

Enuncio aqui um princípio geral, é certo, mas a verdade é que não pode ser esquecido que o português falado em Portugal, no contexto de uma europeicidade precisa e muito concreta, na vizinhança física do castelhano espanhol e na vizinhança cultu(r)al do Francês-de-França, do Inglês-de-Inglaterra, do Italiano-de-Itália ou até mesmo do Alemão-da-Alemanha, tem necessariamente de evoluir segundo padrões específicos de influencialidade e mutabilidade que são, por definição, substantivamente distintos dos que vigoram no Brasil ou em África.

Nas diversas "Áfricas" possíveis) e isto para não falar já do Português falado, por (outro) exemplo, em Timor).

Nivelar pode, em inúmeros aspectos, equivaler a mutilar arbitrária e até violenta, agressivamente, o próprio crescimento natural das línguas na sua interacção natural com o meio. Este é, em meu entender, um princípio teórico informante essencial, de ecologia linguística e até conceptiva, que deve mesmo idealmnte, sem dúvida, sobrepor-se a uma visão excessivamente unificadora e, pior ainda, compressora dos idiomas e, sobretudo, dos pensamentos que devem necessariamente ser vistos como subjazendo à produção natural e saudável desses mesmos idiomas.

E é precisamente porque estes evoluem (ou, como prefiro dizer: "voluem") autónoma mas não, em última (mas real!) instância, arbitrariamente que se chegou a um ponto em que unificar pode representar disciplinar, com indesejável e gratuita violência, uma evolução (ou uma "volução") que assim deixa de ser exigida pela própria ecologia da idiomaticidade específica em causa.

Na verdade, todos sabemos hoje como, em termos de tradição ou mesmo cultura articulatória consolidada, o Português do Brasil abre instintiva ou "instintualmente", hoje-por-hoje as suas vogais "a", "e" e "o" sem para tanto necessitar de pontuá-las especificamente com qualquer acentuação particular.

Ora, no Português de Portugal, tal tradição ou cultura fónica pura e simplesmente como é sabido não se verifica.

Quando "é preciso" abrir as vogais em causa, o Português de Portugal recorre à acentuação mas, também (facto completamente ignorado ou incompreendido pelo "reformador" mais recente) ao uso de consoantes como o "p" ou o "t".

Se eu que escrevia "recepção" passar a escrever "receção" para... unificar formalmente grafias, o que acontece é que o "e" da palavra fecha imediatamente, não se distinguindo daí em diante sem a escrita os termos (e as ideias contidas em) "recepção" e "recessão"...

Ou seja: em "acto", por exemplo, o "c" não está 'lá' por acaso, isto é, não é inútil.

Na realidade, ele desempenha uma função específica na palavra: aclarar ou abrir o "a" que o antecede.

Tal como o "p" faz no citado "recepção".

Não se percebe como linguístas reputados podem afirmar que, num caso e noutro, as consoantes "c" e "p" são... inúteis.

Como vimos, não são: desempenham uma função desatonizante específica, inútil, isso sim, no Brasil, por exemplo.

Como não foi a Epistemologia ou a Ecologia do Português quem pediu a alteração agora proposta mas um projecto estr(e)itamente "político" ou "politiforme" exterior (e estranho!) à Epistemologia (e esta pela mão de alguns linguistas mais dóceis) aceitou conformar-se com esse pedido ou essa exigência da política, o resultado foi uma deformação inútil e perturbadora da Ecologia, neste caso, da idiomaticidade do Português falado em Portugal.

É, diria eu, um (como disse:) bom/mau "exemplo" de intrusividade da política como neo-ciencialidade espúria e instrumental(izadora) no âmbito autónomo da Epistemologia.

Não será a mais grave nem talvez a mais notória.

Mas é, sem dúvida, um (não me canso de dizer: bom/péssimo) exemplo do modo como, numa sociedade dita com alguma (infundada, embora, como tentei sumariamente demonstrar) frequência "do conhecimento", famosa pelas suas estridentes e triunfais reivindicações em matéria de "choques" (eu diria mesmo... "electro-choques") tecnológicos e afins, a ciência, naquilo que ela tem de mais próprio, específico e necessitário é, afinal "livremente" usada para cumprir objectivos que consigo muito pouco ou nada têm que ver...

NOTA

(*) A questão das relações da Epistemologia com a Política (com maiúscula) constitui uma questão-chave do nosso tempo.

De facto, a Política e a Epistemologia não podem, em caso algum, ser vistas como adversárias. Toda a teoria do "contrato civilizacional" (que expendo--e defendo!--noutro ponto deste "Diário") assenta precisamente no projecto de harmonizar sistemicamente uma e outra áreas-chave do Humano e especificamente do Social.

Quero, todavia, deixar aqui concretamente dito que, do meu ponto de vista pessoal o problema não está, de modo algum, na Política: o problema está, sim, todo ele na política que representa neste contexto o esvaziamento tecniforme das sociedades supostamente "do conhecimento" que, na realidade, nada mais são do que «paradigmas de societação» onde esse mesmo conhecimento opera, de facto (e até, sob muitos aspectos, de direito!) naquela condição im/puramente ancilar e estr(e)itamente instrumental que começámos por notar, ou seja, na de mera matéria-prima de re/produção de capital ou mesmo e até mais precisamente, como um primeiro capital que se reinveste continuamente em si mesmo a fim de permitir a continuidade da produção regular de capital.
[Imagem extraída, com a devida vénia de pensarbasto.blogspot.com]

domingo, 26 de abril de 2009

"No Man Is An Island"

Dedicado à fabulosa "valediction" de Donne e ao notável tratamento que Papa Hemingway deu ao tema, um "collage" especialmente concebido pelo titular do blog para celebrar esses dois dos seus fascínios intelectuais e estéticos 'de cabeceira'...

"O Pacheco, eu conheci-o..."

Isto hoje está muito... Luiz Pacheco (com uns fuminhos--Deus me perdoe!--de "Hara-Kiri" "anarco" gaulês).
Ora, leiam o que se segue, se não se importam...

[Imagem extraída com a devida--e comovida...--vénia de anauel.blogspot.com]

"Uma sugestão desinteressada..."

Aos meus caríssimos compatriotas que tiveram a brilhante ideia de comemorar o 25 de Abril homenageando um conhecido ditador em boa hora devolvido ao convívio (para ele, certamente emocionante!) dos vermes--que foram, de resto, a sua companhia de eleição ao longo de sete ou oito décadas (ele que detestava eleições assim como, de resto, tudo o que lhe fizesse lembrar inteligência e liberdade) e que, ao que julgo saber, sonham dedicar-lhe, ainda, um museu, ofereço, de forma completamente grátis e desinteressada, a seguinte sugestão: por que não criarem (à semelhança, por exemplo, dos outrora famosos "barretes" de Salvaterra de Magos) um doce regional próprio, capaz de cativar ainda mais os seguramente muitos visitantes que se adivinha vão passar a desfilar por esse belo cantinho das Beiras que é a generosa terra que o viu nascer?
Por que não, com efeito, valorizar ainda mais as proveitosas visitas de estudo e reflexão que se adivinham adicionalmente com um acepipe que torne ainda mais sugestiva e emocionante, ainda mais inesquecível, a prazeirosa deslocação ao úbere e pacífico, benevolente, 'coração da serra'?

Ora, como "barretes" já não pode (sem indesejável plágio) ser, sugiro os «puns», as «bostelas», os «calos» ou as "«sostras» de Santa Combinha", vendidas em pacotinhos de 250 g., festivamente coloridos de modo a atrairem o educadíssimo olhar estético (e a excitar de forma dificilmente resistível o requintado paladar) da excelsa companhia que se adivinha.
Perante a visão deste belíssimo pacote cheio de aromas e sabor, quem vai ser capaz de resistir?

Como costumava dizer o inesquecível Professor Choron, no saudoso "Hara-Kiri" dos meus relinchões anos '70 franceses ("le journal bête et méchant"...): quem é amigo, quem é?...

[Imagem extraída com vénia de poesiadewc.blogspot.com]

"O Sonho"


O meu, neste preciso instante, é...

Não posso dizer: ia logo preso...

...Político...


[Na imagem: "O Sonho", "collage" original do titular do blog]

"Abu-Ghraib Is A Place On Earth..."


Ainda a propósito daquilo da Sra. D. "Escandaliza Vai-se" (e, graças a Deus, foi-se!...), das torturas e dos interrogatórios mais... "enérgicos" trazidos de novo "triunfalmente" para a História pelos "bushmen" de vários países, permito-me, hoje, voltar a trazer aqui a minha modestíssima contribuição para a respectiva (veemente!) denúncia:

Auschwitzs, Treblinkas, Belzecs, Sobibors, Tarrafais, Abu-Ghraibs e Guantánamos, nunca mais!

NUNCA MAIS, ouviram?!

[E tu? Ouviste, oh, Barroso?]


[Na imagem: "collage" original do titular do blog, publicada originalmente em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com]

"Em Alturas Como Estas, Eu Recordo-me..."

Em alturas como esta, quer dizer: no 25 de Abril, por exemplo.
O 25 de Abril é uma altura dessas...

...Dessas em que [depois do 'mau passo' cavaquista da década de '80 e do presente 'péssimo passo' "sucático" com que decidimos, como país, abrir este início de milénio (duas funestas maiorias "absolutas" que nos fazem irresistivelmente recordar outros--e não menos tenebrosos...--tempos...)] somos irresistivelmente transportados de volta para um passado de parda abjecção e do mais conformado miserabilismo (um passado de... "orgulhosa solidão" onde toda a dignidade e toda a inteligência estavam fatalmente condenadas a diluir-se debaixo de vagas de saloio contentismo por debaixo do qual assomavam, por sua vez, impúdicas e indecorosas, a ganância mais vil e a corrupção mais descarada); em alturas como estas, dizia, a necessidade premente de respirar e de estar, nem que seja só por alguns momentos, perto de (verdadeiras!) Pessoas faz-nos irresistivelmente pensar nesses anos '60 e '70 em que, um dia, fartos de conviver dia após dia com a desgraça e a fatalidade, "fizemos a trouxa e zarpámos", como dizia o Zeca, rumo ao século XX que, como sabíamos, vivia "lá fora", longe da "maldição fatal do S" (Sidónio e Salazar, primeiro; Silva e Sócrates, depois) que muito cedo na suposta "modernidade" interna, fez a sua entrada tristemente triunfal na História e que parece, aliás, encarniçar-se ferozmente sobre nós como uma doença ou um castigo sabe-se lá de que nefando pecado, individual ou colectivo, nacional...

Em memória desse tempo (cujas metástases vemos, aliás, "re/florirem" hoje impunemente em todo o seu putrescente, fétido "esplendor") e da triunfal (raivosa!) alegria com que virámos, um dia, finalmente as costas ao fundo do "poço ibérico", trago, hoje, aqui, ainda uma vez, um imagem de Port Bou--essa longínqua e decisiva Port Bou que nos separava, como um "brevíssimo instante de céu", da Luz e do próprio Sol...

Fugir outra vez--de vez?...

Isto é como dizia o «outro»: "prática, pelo menos, já a gente temos": quanto à efectiva necessidade não há-de tardar muito...


[Na imagem: a estação dos combóios de Port Bou, na Catalunha espanhola, na fronteira com a França]

"Pois... Lá quanto a isso, não te tens por que te preocupar, amigo!..."

O mais recente 'português oficial', o futebolista vulgarmente conhecido por Pepe resolveu fazer 'das suas', num jogo recente do clube onde joga, o Real Madrid.

Atrapalhou-se, fez 'penalty' sobre um adversário e, pelos vistos, não lho 'perdoou': foi-se a ele e ferrou-lhe duas valentíssimas "bordoadas" com o pé nas costas quando ele se encontrava caído no solo além do que, não satisfeito, ainda acrescentou, para 'tempero', uma "pera" daquelas bem suculentas e madurinhas na cara de outro que ia a passar.

Como diria um famigerado cirurgião televisivo "doublé" de "hincha" de um 'conhecido Sporting' nacional: "É futebol--e as patadas e as "peras" generosamente distribuídas, para aí... "futebolês gestual" ou coisa que o valha..."

Como eu costumo dizer: "Pois..."

Já o jogador esse o que diz é: "Caramba! Também não exageremos: bem vistas as coisas não cometi nenhum crime! Ferrei-lhe um valente chuto nos rins, está bem mas que é que isso tem, afinal?!"
Poderia até ter acrescentado como o 'outro': o futebol não é para donzelas!...

É preciso dizer que a parte da frase que diz: "não cometi nenhum crime" é (segundo o "Público" de 23 de Abril, pelo menos) textual: vem na legenda da fotografia onde se vê o Pepe a rematar em jeito a... cabeça do oponente caído.

A conclusão que eu tiro disto tudo (agora falando bem mais a sério) é que o Pepe além de (desculpem-me a expressão mas tenho de usá-la: vejam bem as imagens, pela V. rica saúde e, depois, digam-me lá, metendo bem a mão na conscienciazinha, se não se sentem incomodados--"to say the least"...--por se verem representados, numa instituição--chamemos-lhe...--"desportiva" como a selecção por um fulano que é capaz de ter um comportamento daqueles e, ainda por cima, não perceber sequer aquilo que fez); mas a conclusão que eu tiro, dizia, é que o Pepe além de se revelar uma bela bestinha ainda por cima não é manifestamente lá muito esperto: que diabo pensará ele, com efeito, que é um crime?!...

Bom mas para dizer a verdade há uma desculpa para isso: a dado passo da "defesa" pública que fez na sequência do... "incidente", diz o jogador (sempre segundo o "Público"): "Devia ter pensado mais na minha atitude mas [e relevo a extraordinária "qualidade argumentativa e confessional" do que se segue...] infelizmente sou um ser humano e agi de cabeça quente".

A gente lê e fica (absolutamente!) incrédula: "Infelizmente, é um ser humano??!!"

Oh, Pepe, quanto a isso, não tenha problemas, compatriota amigo! Já foi mais, com certeza!...

Humano? Não se preocupe que isso passa!...

A julgar por aquilo que se vê (até na imagem fixa do jornal) o processo está, aliás, lindamente encaminhado...

[E já agora, para terminar, uma outra citação que vale a pena fazer--e cada um que tire as conclusões que achar convenientes.

A citação em causa é: "A nível de selecção, Pepe não deverá ter qualquer problema" (!!).

Ele, não--agora nós, se ainda nos restar um pingo de vergonha, que é como quem diz: se ainda não estivermos completamente perdidos para a dignidade e para o civismo, nós, sim, com toda a certeza!...]


[Imagens extraídas com vénia, respectivamente, de zedomax.com e emdiacomacidadania.com.br.]

sábado, 25 de abril de 2009

"Instantâneos de um Portugal Livre muuuuito... Sucático"

Do I have to comment?...

[Na imagem: colagem original do titular do blog, originalmente publicada em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com]

"Tristezas não pagam dívidas mas mesmo assim..."


Continua por informar (dantes era o "Avante", agora juntou-se-lhe a RDP...) onde foi "desencantada" a expressão "IDADE MÍDIA" que, como referi, primeiro o "Avante" e, em seguida, a RDP "nacionalizaram", numa série de artigos (na versão radiofónica: de "crónicas") intitulada "Crónicas da Idade Mídia".

Ora, sucede que o criador da expressão "Idade Mídia" (indignado com a 'coincidência' que tentou, sem êxito, esclarecer, primeiro do que tudo, junto do jornalista Ruben de Carvalho--o autor das referidas crónicas, publicadas no "Avante"--e, não tendo obtido resposta, também junto do Provedor dos Ouvintes e do Director de Programas da RDP...); o criador original da expressão, dizia, é este V. criado que sarcasticamente a cunhou para uma série, sim, mas de colagens, série essa intitulada precisamente "Idade Mídia" e composta por várias peças designadas por Idade Mídia A, B, C e por aí adiante, a primeira das quais exibida na X Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante, levada a cabo sob a égide de... Ruben de Carvalho (Cf. Catálogo respectivo, na página 23, 2ª imagem).

Quer dizer, resumindo: Amigos, um homem não é de pau! Eu gosto de--Gosto, não! Eu adoro!--receber homenagens, admito, mas também admito que gosto mais (muuuito mais!) quando aqueles que têm a generosidade de homenagear-me NÃO omitem o nome do... "homenageado" da própria "homenagem"...

Pois mas isso é que, se calhar...


[Na imagem: colagem original minha intitulada "Id-AD-e Mídia", efectuada sobre um anúncio de telemóveis e originalmente publicada no meu outro blog http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com.
Sobre ela, estou à vontade, seguro de ninguém virá aqui reclamar-me "direitos" (pelo menos, direitos... morais!) pelo título...]

"Dislexias..."

Confesso que me deliciou o ar malicioso com que o 'Zé' Mário Branco anunciou ontem o seu (e do Sérgio Godinho) inesquecível "Charlatão".
"Sempre actual", acho que foi o que ele disse...

Pois...

Se calhar, tem razão.

[E não digo mais nada que isto a Justiça, em Portugal, está pela hora da morte...]

Mas a verdade é que ainda não se pode ir a tribunal por aquilo que se pensa (por enquanto, só se vai, de facto, pelo que se diz mas, como todos sabemos, só vamos se formos pobres, estupidamente crédulos e a nossa família tiver morrido toda num acidente qualquer motivado pela incúria e incompetência do Estado ou coisa assim...)

Pois...

...Pois mas isto para dizer que quem tinha, afinal, razão era o Carlos de Oliveira autor do poema onde se diz que "não há machado que corte a raiz ao pensamento"...

Belo verso esse que um amigo meu, disléxico, "traduz" com a maior das canduras deste mundo por "Não há RACHADO que corte a raiz ao pensamento"...

...Pois mas o pior é que há: há uns ("rachados") que bem tentam cortá-la e que, aliás, ainda acabam por conseguir se a gente não se põe vigilante, se a gente não se põe... "a pau"...

E não é de Cabinda, ham?...

[Imagem extraída com a devida vénia de adoholic.com]

sexta-feira, 24 de abril de 2009

"É tristemente irónico..."

... que nas vésperas do 25 de Abril de 2009 ainda possam vir a público notícias como aquela que diz que alguém, num país dito democrático (uma negra, membro de uma minoria geralmente sacrificada, marginalizada--organizadamente «humilhada e ofendida»--e ainda não há muito tempo também secretária de Estado!) deu o seu aval a formas hoje-por-hoje dificilmente imagináveis de tortura que, aliás, nos habituámos a relacionar apenas com PIDES, Gestapos, Ovras e lixo histórico e político de semelhante jaez.
...ou, ainda, mais próximo agora no espaço, de nós que alguns polícias tenham ido a tribunal acusados também eles, segundo os jornais, de tentarem extrair confissões de uma mulher sob torturas (pancadaria, colocação da vítima com os joelhos nus sobre cinzeiros, etc.), como se não tivessem passado três décadas e meia sobre a estrondosa queda da repugnante ditadura de Salazar...

Não sei, francamente, se no caso português, as acusações são verdadeiras e se se provam em tribunal.

Custa-me a acreditar que alguém--os polícias acusados ou a acusação--possam ter inventado "coisas" como "aquela" dos cinzeiros...

Só a ideia em si já é aterradora: se, ainda por cima, se provar que corresponde à realidade, é caso para dizer:

Eh! Pessoal! Toca a sair dos quartéis que parece que "eles" já cá estão outra vez...

Ah! E não se esqueçam de trazer as Chaimites e as G-3 que, desta vez, tem de ser mesmo a sério, ham?!...

"E 25 de Abril, sempre, estão a ouvir, pá?!..."


Mas mesmo SEMPRE, ham?...


[Imagem extraída com a devida--e neste caso, especialmente emocionada vénia--de ambientalistas.blogspot.com ]

"O «Zé» Mário"

Se o Dr. José Afonso ganhou pela sua coragem (e pelo seu intenso brilho artístico, musical e poético! O "Zeca" era um poeta notável, ham? Leiam-lhe também, a Poesia, a Poesia... Poesia: vale a pena, ham? É mesmo Poesia!); mas se o Zeca, ia dizendo, ganhou por todas essas qualidades humanas e artísticas o direito legítimo ao cognome (a esse cognome familiar e íntimo--emocionado) de "Zeca", o Sr., o cidadão, José Mário Branco, por sua vez e por atributos em tudo idênticos mas também pela dimensão cívica e pela extraordinária coerência que continua incansavelmente a defini-lo ganhou, por sua vez, o direito a ser chamado apenas, no 'círculo aberto' (como dizia o Ramos Rosa) de "Amigos" fiéis entre os quais o signatário faz absoluta questão de se incluir, de "Zé" Mário.

Uma saudação muito especial, pois, também para o "Zé" Mário, continuador electivo do Zeca, obstinado representante vivo do espírito generosamente utópico e solidariamente excessivo de Abril, neste 35º aniversário da Revolução da qual é, por direito próprio, um dos rostos legitimamente emblemáticos e muito justamente definitivos.


[Imagem, desenho de Fernão Campos, extraída com a--devidíssima!...--vénia de osítiodosdesenhos.blogspot.com]