terça-feira, 21 de setembro de 2010

"Como 'Pensa' a Desumanidade e 'Argumenta' a Injustiça' [Por rever]


Por uma razão qualquer que se prenderá, talvez [na melhor das hipóteses... ] com imperativos de um súbito... "pudor humanitário e civilizacional" temos sido ultimamente poupados às "explicações e reflexões" pró-israelitas de Ester Mucznik no "Público" onde houve um tempo em que eram, como se saberá, mais comuns que as batatas fritas com o bife ou e mais assíduas do que as sua 'irmãs' cozidas com o bacalhau...

De uma hipotética "fase" intermédia, retenho aqui um texto intitulado "Árabes israelitas, uma ponte para a paz?" dado à estampa a 23.10.08 onde, de acordo com o título pomposo, se aborda a questão da minoria árabe "integrada", no Estado de Israel.

Começando por traçar um quadro aparentemente risonho da condição em esta vive [há "já" "diplomatas", "embaixadores" e até juízes árabes em Isreal---há, na realidade, um, diz esta "regular frequentadora" do país...] meia dúzia de linhas mais adiante a já, porém, a reconhecer que, sob esta [e cito] "autêntica revolução" operada no Estado de Israel desde "os anos sessenta" [lenta revolução esta, sem dúvida!] subsiste---acaba a autora por reconhecer---uma situação em que "existem muitas desigualdades que alimentam o descontentamento e o sentimento de exclusão".

Ora, perante isto, diria eu que, com sorte e se a... "revolução" for capaz de superar o "descontentamento" e de se impor às dinâmicas profundamente disfuncionais e disfuncionantes que resultam da contínua pressão desintegradora das "desigualdades" [até uma acérrima advogada das posições oficiais do colonolianismo israelita tem de reconhecer a existência de situação de exclusão e de "graves incidentes" envolvendo a "condição árabe" dos "integrados" em Israel...]; com sorte, dizia [e a não haver qualquer "azar" daqueles que referi pelo meio...] daqui a, por este andar... meio século teremos, "idealmente" novo passo em frente na luta pelos direitos humanos e pela dignidade dos árabes "integrados" em Israel...

Se não formos muito exigentes [como a autora, desde logo, manifestamente não é] poderemos até concluir dizendo: nada mau, ham?...

Bom mas o que é engraçado [e justifica o títrulo que decidi dar a esta "entrada"] é a constatação que aquela, a autora, faz de que apesar da "revolução" [pontuada embora pelos tais "graves incidentes"] [e volto a citar] "nenhum árabe quer abdicar da sua cidadania israelita em troca de uma eventual cidadania palestiniana".

Ora, este é sem dúvida um caso de "manta curta" muito característico, aliás, do argumentário típico das opressões onde quer que elas surjam mais ou menos astuciosamente disfarçadas de "liberdade" e de "democracia"---uma "manta curta" que, puxada, quando dá jeito, de um lado, destapa inevitavelmente o lado oposto, deixando fatalmente o desajeitado "puxador" "argumentativamente ao frio"...

Primeiro, porque com passagens como aquela em que se 'descai', admitindo, de forma expressa, por exemplo, que "nos anos sessenta poucos árabes circulavam nas ruas, a não ser nas aldeias onde se concentravam"] diz seguramente quase tudo sobre o Israel brutal, supremacista, desordeiro e mesmo abertamente terrorista das origens do qual se chegou, como se sabe[andando em muitos domínios, na realidade, muito pouco...] ao Israel "educadamente para-genocida" dos nossos [mal-disfarçadamente concentracionários] dias de "apartheid" anti-árabe de facto e, sob diversos aspectos, de jure também.

Eu diria mesmo [não sejamos nós, aqui, ingénuos a ponto de deixar-nos "enrolar" pela propaganda oficial do colonialismo israelita!] que que aquilo subjaz, nas próprias palavras da autora, em termos de imagética [in-, des-] cultural [mesmo habilmente "dourada" com a alusão directa à "revolução"] ao seu argumentário é um tipo de eco ou de réplica persistente e muito nítida do quadro mental e social de "um certo sul" "hillbilly" e "redneck" dos Estados Unidos segregacionistas e "ku-klux-klanianos" ou sul-africano seu contemporâneo e [por que não ter a coragem de rechecê-lo?] não completamente erradicado, num caso e noutro, ainda hoje.

Falo obviamente do Sul de Rosa Parks e de Luther King, o Sul e dos linchamentos regulares de negros [nunca levados a cabo, porém---há que, apesar de tudo, reconhecer em seu abono---pelo exército norte-americano, sob a forma de uma prática tópica generalizada e organizada, agressora e invasora, como acontece com Israel relativamente à faixa de Gaza e até com o Líbano onde, todavia "as coisas fiaram bem mais fino" e o invasor viu atónito as sua brutais políticass de "guerra total" terem uma réplica que lhe terá seguramente ensinado qualquer coisa...] ou a África do Sul das "townships" e dos Terres Blanches de tenebrosa memória.

Segundo, porque tudo o que a autora tem para substanciar a ideia de "revolução" deste status quo social, civilizacional e humanitariamente inquietante que é a vida das populações palestinianas em geral, é a tal estatística de um "token judge", um "token candidate" às eleições, "muitas desigualdades" "exclusão" e, "comme par hasard", de vez em quando uns... "graves incidentes"... "para aquecer" ou para "decorar" a situação---e nada mais, na verdade do que isto...

Ora, isto é "pâuco", como diria uma conhecida locutora nortenha de rádio, transvestida de apresentadora de um [aliás, inenarrável] "concurso" televisivo, ainda não há muitos anos, entre nós...

Mas o que há de verdadeiramente interessante na tal "tese" da "revolução" é mesmo a afirmação de que "árabe" algum deseja perder o referencial de prosperidade que é o Estado de Israel para os judeus.

O que está pressuposto nisto é evidente por baixo da "leitura significada" feita pela propaganda oficial, pelo marketing do opressor.

Desde logo, que o fosso entre israelitas e árabes é imenso.

A autora do artigo reconhece-o, aliás, com todas as letras.

Não vale a pena voltar a citar do texto para atestá-lo.

Depois, que, se assim é para os "token arabs", o que será e como será para "os outros", para os que estão, em geral, fora e longe dos focos da sempre útil e decorativa "token-hood", diga esta respeito aos árabes, às mulheres ou às minorias de qualquer índole e natureza, conforme... a "hora e o local em que nos estejam a escutar"...

... por exemplo aqueles que em S. João de Acre protagonizaram os "graves incidentes" a que se refere a autora e que, recordo, envolveram "milícias populares", "vigilantismo" civil e "caça ao árabe" durante vários dias, tudo isso organizado pela maioria judaica naquela cidade portuária do Norte de Israel...

Mas, na realidade---e esta é que é a questão de fundo que a propaganda oficial sionista tenta desajeitadamente apresentar completamente... "às avessas"; na realidade, dizia, quem é que, em seu juízo perfeito, perante o quadro aterrador das "muitas desigualdades", da "exclusão" e da ameaça constante de "graves incidentes", opta conscientemente por eleger "o lado errado" da iniquidade e da opressão, representado pela duríssima realidade da situação [ou da... condição racial e social?] da comunidade palestiniana, atentatória dos mais elementares direitos humanos, escolhendo-a como referencial cívico, social e político senão mesmo civiliacional??!!!

Qualquer indivíduo normal que, perante as indignidades, as abjecções, as violências, as exacções, as brutalidades de todo o tipo; numa palavra: perante a tragédia humanitária, o para-genócio social e até físico do seu próprio povo às mãos de outro; qualquer indivíduo que, colocado perante essa realidade, optasse conscientemente por lutar para manter tudo isso exactamente como está ou para que tudo o que, mau grado os obstáculos, se logrou melhorar regressasse à abjecção original, só poderia ser considerado ou louco furioso ou, pura e simplesmente, traidor.

E isto exactamente porque ninguém, a começar pela autora do artigo do "Público", é suficientemente desonesto em termos intelectuais para ser capaz de negar que a situação económica, social, política etc. da maioria israelita é incomensuravelmente superior, a todos os níveis, à dos árabes tal como ninguém nega que o que está certo---ética e civilizacionalmente certo---é precisamente que o estatuto económico, social e político dos israelitas se alargue a toda a população e não obviamente que os pouquíssimos árabes que conseguiram vencer a barreira da segregação e da exclusão regressem para estas!!!

Isso não cabe na cabeça de ninguém---com, pelos vistos, a única excepção da propaganda oficial ou oficiosa do sionismo...


Para mais quando é o próprio opressor e os seus porta-vozes internos e externos quem reconhece, ponto por ponto, aliás, a situação que as vítimas e todos quantos não aceitam trocar a moral e a defesa dos direitos humanos mais básicos e fundamentais por... petróleo ou lítio ou outra matéria-prima ou mercadoria qualquer vêm, de resto, há muito denunciando...



[Imagem ilustrativa representando um soldado do exército israelita envergando uma T-shirt com uma mulher árabe grávida e a legenda "com um tiro, duas mortes" extraída com a devida vénia de hollow-hill-dot-com]

2 comentários:

São disse...

Ester é uma sionista ...que se poderá esparar , então de uma criatura desse tipo?
Só justificções para os assinatos e atrocidades do Estado judaico, nada mais!!

Uma boa semana.

Carlos Machado Acabado disse...

Tem toda a razão, Amiga São!
E qualquer contributo que possa ser dado por cada um de nós no que estiver ao seu alcance a fim de denunciar o sistemático [e escandaloso] projecto de branqueamento de um crime horrível que é diariamente praticado sob os olhos indiferentes do mundo... 'civilizado' e "defensor dos direitos humanos" contra um povo inteiro além de só dignificar intelectual e moralmente quem o faz tem o inestimável mérito de ajudar a abreviar o que será o inevitável fim do terrorismo institucional do Estado de Israel, como outrora o foi do segregacionismo [sobretudo mas não só!] nos estados do Sul dos E.U.A. ou nesse abominável gigantesco campo de concentração que foi a África do Sul do apartheid, para apenas citar estes dois "casos".

Um grande beijinho para si e volte sempre com o inestimável contributo da sua generosidade e das suas ideias!