Vão-me desculpar mas hoje não me apetece [de todo!] ser "política nem argumentativamente correcto"!
O Benfica voltou a perder, as sondagens dão o indescritível Passos Coelho como "a coisa mais parecida com um político" que Portugal foi capaz de arranjar nestes últimos tempos [após um longo período de gestação em que o País ---nessa como noutras matérias, aliás---foi rigorosamente igual a si mesmo na falta de imaginação assim como na de vontade de finalmente começar a regenerar-se]; na televisão a Joana Amaral Dias não há meio de se calar [além de, ao não fazê-lo, continuar a dizer "coalho" e "tambáim" de uma forma inimaginavelmente irritante]; Luís Amado [o 'Kenny Rogers da Reboleira'...] não faz a barba ou [melhor ainda] não o faz a barba a ele e nos livra, de vez, da sua pedanteria tão indigesta quanto petulante e provinciana; enfim, o mundo [e Portugal, de modo particular] parecem uma imensa câmara de torturas em que já nem o clima [cada vez mais insuportável e improvavelmente magrebino...] se aproveita.
Vou, por isso, pegar no tema do momento, ou melhor, num ângulo envolvendo o tema do momento: o não-sei-quantos aniversário do chamado "11 de Setembro" [para "expiar" o qual, como é sabido, uma verdadeira quadrilha internacional de terroristas com um tal Bush à cabeça (?) "inventou" pelo menos duas guerras onde o lítio afegão e o petróleo iraquiano passaram---sem grande oposição dos mídia, aliás---pela "justiça" que, diziam todos à vez [com, na versão local, o papagaio Luís à frente] iria definitivamente ser reposta com o denodado esforço "civilizacional" dos paladinos em questão: Bush e a sua matilha de "bushmen" amestrados [Barrosos, Aznars, Bleaghhs e por fora].
O ângulo a que me refiro diz respeito às famigeradas "caricaturas de Maomé" [Maomé com um turbante-bomba na cabeça olhando alucinado o vazio à sua frente] saído da pena de um tal Kurt Westergaard que---por cem euros, diz ele---se lembrou, há tempos, num tal "Jyllands-Posten", de vir a público implicar com "uma certa ideia de islamismo" muito parecida, aliás, com aquela que o 'marketing de guerra' ocidental---o oficial das agências de "inteligência" e o oficioso dos jornais e das televisões, das "tê-vê-is" globais, sempre disponíveis para a dança nupcial com a estupidez e para os toscos rituais de acasalamento com a intolerância mais ou menos habilmente disfarçada de "liberdade" que faze o seu género e deixam em "êxtase crítico" as "plateias circenses" virtuais típicas Idade Mídia pós-moderna---andou estratégica [ou apenas irresponsavelmente?...] a disseminar por esse mundo ocidental fora.
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Quer tudo quanto já escrevi dizer, numa palavra, que eu sou contra a "liberdade de imprensa"?Longe disso!O contrário disso, na realidade, aliás!Quer isto dizer, exactamente ao invés, repito, que sou definitivamente, em nome, precisamente da liberdade responsável de opinião e de pensamento que sou contra a irresponsabilidade crónica [a obscena "neutralidade e amoralidade críticas" tão características do "comércio de notícias", dessa indecorosa "indústria global da manipulação" que passa hoje-por-hoje no "Ocidente" facilmente por "imprensa" ou, de um modo mais lato, por "comunicação"] substituindo a lucidez, o esclarecimento e a perspectiva verdadeira e responsavelmente humanista pelo escandaloso "comércio de cheap tricks", a "pornografia da opinião", onde meia dúzia de 'traficantes de convicções' e, muitas vezes, de "interesses"---vulgo: "comentaristas"---se encarregam de espalhar a confusão, excitando reflexos, espicaçando tropismos, manipulando fantasmas, mexendo, em suma, ininterruptamente no "caldeirão dos instintos" de uma sociedade pseudo-moderna, desoladoramente preconceituosa, tanto quanto mal-disfarçadamente intolerante, civilizada à pressa e mal e que adora que lhe coçem a "barriga das ideias feitas" e dos pré-juizos profundamente entranhados, numa indecorosa demonstração de «primarismo organizado» pelo qual, todavia, ninguém é responsável e pelo qual ninguém assume minimamente responsabilidades---um conjunto tópico de disfunções críticas e de perigosas alarvidades que com o tempo se converteu numa autêntica "cultura" em si mesma.
Westergaard decidiu desenhar uma autêntica simplificação cultu[r]al e um pré-juízo infelizmente muito comum, inescondivelmente etnocêntrico e cultu[r]almente "compressor" [se não quisermos dizer abertamente repressor e opressor...] convertendo todo um 'universo conceptual', cultu[r]al e especificamente religioso', num único cliché--- atirando, assim, a este universo, uma pedra com a mão que, imediatamente a seguir, escondeu atrás do biombo conveniente da "liberdade de expressão de pensamento" e/ou de "opinião".
Eu até admito que a visão que Westergaard tem do Islão [ao qual, como bom ateu-graças-a-Deus que sou, nada, nenhum laço ou vínculo particular me liga, aliás, devo dizer]; eu até admito, pois, que a visão e o des/entendimento que Westergaard tem do "Islão" sejam aqueles---que curiosamente são também as do "meu vizinho do lado", daquele "Zé Toda-a-Gente" para quem "os árabes são «assim mesmo», todos terroristas e assassinos e deviam era ser corridos de vez da Europa e mandados todos de volta «para lá», para a Arábia ou «lá de onde eles vieram», eles e os ciganos e os pretos e os chineses «que são outros que tais»---e mais não sei quê...
Eu até admito, dizia, que o bom defensor da "liberdade" que é seguramente o cidadão Kurt Westergaard seja... desses e que, num "mundo de liberdades" como 'o nosso', possa dispor do privilégio de assumi-lo abertamente e de dizê-lo [ou de desenhá-lo!] em público.Agora, tem é de se responsabilizar pelos seus actos e de assumir, tão natural e tão abertamente como à própria visão em si, as implicações que dessa mesma visão inevitavelmente decorrerão que o mesmo é dizer: do exercício da referida 'liberdade'.
Mas não se trata aqui ~[entendamo-nos!] de tomar o partido da violência reactiva: trata-se, sim, de perceber que vivemos num mundo em que ela, violência, é, por diversas razões de organização social, económica, política, etc. uma realidade, um "facto da vida", que não se combate nem se contribui para extirpar, como seguramente muitos de nós desejaríamos, alimentando-a ulteriormente com actos provocatórios, agressoramente gratuitos e irresponsavelmente incendiários.
Há dias foi um "pastor" qualquer de Deepshitville, Backanowhere, U.S. of A. que, em crise de associados para a respectiva charafarica [eram menos de cinquenta, diz a imprensa, os que papavam regularmente as prédicas---seguramente iluminadas---desse "ministro dos Simpson" até aqui completamente anónimo e muito justificada---e muito saudavelmente!---ignorado] e em 'panne' de modos minimamente inteligentes e civilizados de dar-se a conhecer resolveu queimar o Corão para "protestar" contra a construção de uma mesquita num local onde parece, aliás, que já havia uma.
Não tinha "o direito" de fazê-lo?
Se o tinha ou não, não sei: sei, porém, que o indivíduo em causa não percebeu de todo que esse "direito", a existir [e não vou, neste momento, repito, posicionar-me ulteriormente em relação a ele] é, em qualquer caso, indissociável do dever de arcar com as respectivas consequências, para si e para toda a gente directa ou indirectamente envolvida no exercício "livre" do "direito" em causa.Há, hoje, por outro lado, uma imensa polémica em França envolvendo a expulsão organizada de ciganos romenos por parte de um [chamemos-lhe: peculiaríssimo] governo Sarkosi.
É verdade que grassa uma enorme demagogia em torno da 'resistência' ao projecto da mal-disfarçada "limpeza étnica" sarkosiciana: ninguém ignora que o "problema cigano" por toda a parte, inclusive em países da Europa Central como a Roménia e a Hungria de onde irradiam os ciganos para os restantes países da chamada "União Europeia", incluindo Portugal, é um problema da ausência gritante de políticas de integração que não existem e que, de resto, está mais que provado, ninguém pensa honestamente em criar.Dito de outro modo: que a alternativa às expulsões [ou "deportações consentidas, compradas"] não é a permanência em "ghettos de banliena" que são, em França como em Portugal ou na... Cochinchina, outros tantos barris de pólvora social prontos a explodir.
O "problema cigano" ["la quéstion tzigane", como lhe chamariam, por analogia com uma certa "question juive" de outros tempos e com outras ressonâncias, possivelmente um Sartre, um Paul Nizan ou uma Simone de Beauvoir] passa por políticas económicas e sociais organizadas e consistentes, levadas a cabo com a definição de metas e objectivos definidos na forma como no conteúdo---sem esquecer no tempo...---e o mesmo é rigorosamente válido para as comunidades muçulmanas e/ou islâmicas.
De facto, para qualquer extracto ou camada social, étnica, etc. existente dentro do modelo teórico de "sociedade orgânica" que devia vigorar---que devia prevalecer e constituir mesmo paradigma referencial---numa Europa efectivamente moderna, realmente civilizada e genuinamente social.
É essa uma tarefa política mas também---e, num certo sentido, sobretudo---civilizacional.Uma tarefa que não se constrói, todavia, com actos de opressão [como a célebre "questão dos lenços" ou essa outra "dos minaretes suiços"] ou mesmo de aberto terrorismo cultu[r]al como o do pastor Não-sei-quantos de Pissacrap, Voidville, U.S.A. nem tão-pouco, com os bonecos deste, apesar de tudo, bem mais talentoso Westergaard dos desenhos de Maomé.
É uma questão de responsabilidade intelectual, cultu[r]al e civilizacional, individual e colectiva, que apenas os «mistificadores de carreira» "at high" [alguns"not-so-high" como tudo isso mas enfim...] "places" gostam de [e se obstinam em] confundir com o valor abstracto e disfuncionalmente a-histórico "Liberdade"...
Mas esses---esses sabem bem o que estão a fazer---e exactamente por que o fazem, olha então quem!...
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