sábado, 18 de setembro de 2010

"Um País de Silvas..."


Com um aparato de página inteira, Mário Soares continua, no "bom e velho" "Diário de Notícias", a cobrar, junto do sistema económico-político [que, nessa centenária---e aparentemente fatal---instituição, ao longo dos tempos sempre prestável porta-voz de todos os poderes estabelecidos sejam eles quais forem, regularmente se faz ouvir]; com o aparato em causa, continua, pois, dizia, o antigo P.R. e ex-primeiro ministro de vários governos [se bem me lembro, todos incompletos] a cobrar a dívida que o sistema em causa, há muito, demonstravelmente contraíu para com o autor do "Portugal Amordaçado".

Prossegue, desse modo, a ficção de uma relevância e de uma existência [cada vez mais de uma mera sobrevivência!] pessoal e política que deixou há muito de ser, no mínimo, límpida e incontestável.

Sobre Soares e o pretenso estatuto "papal" e [mais grave ainda!] icónico relativamente a uma revolução, em larguíssima medida, gorada com a qual, porém, a figura em causa, em meu entender, muito pouco [ou nada!] teve a ver e para a qual, ainda menos, feitas as contas, contribuiu; sobre Soares e sobre o papel que alguns pretendem atribuir-lhe no contexto d0 25 de Abril, dizia, já falei, e ainda há bem pouco tempo, aqui neste mesmo "Quisto".

Não valerá, por isso, a pena voltar ao tema.

Quero, desta feita, apenas, deixar aqui, isso sim, ainda uma vez, registada a prodigiosa vulgaridade da abordagem do tema [num texto caracteristicamente baço, desengonçado e, sobretudo, por tudo isso, completamente inútil a que chamou---de forma despropositada e injusticissimamente sarcástica, aliás---"As catástrofes naturais", numa tentativa de "chegar" até àquele que é, esse sim, queiramo-lo ou não, um ícone do nosso tempo, Fidel Castro].

Destaca-se no texto, antes de mais, além do que, como veremos, só pode ser desatenção ou simples ignorância, a total ausência de um pensamento ou de uma perspectiva intelectual [e, ainda menos, teórica] própria---nesse que, vá-se já adiantando, será provavelmente o grande "segredo" daquilo que foi, a dado passo, a enorme [e fácil] popularidade [a condição pop...] de Soares.

Num país de "éfes" [Fátima, Futebol e Fado] que o é também de "ésses" [Salazar, Sócrates e o próprio Soares: um autêntico "país de Silvas", hoje-por-hoje, mais até do que "das Uvas"...] uma figura como Soares está, "por definição" condenada a tornar-se num verdadeiro emblema.

Nada nele, de facto, se parece com substância, com profundidade ou consistência---com essa suprema "chatice" tão visceralmente pouco 'meridional' que é pensar.

Ler, por exemplo, uns famosos "Escritos Políticos" de Soares consegue ser ainda mais enfadonho e soporífero do que ouvir uma prelecção de Carlos Queiroz à selecção para já não falar na experiência única de aborrecimento que deve ser ler uma 'biografia oficial e autorizada' do próprio Soares.

Com tanta gente possuindo uma noção precisa do que está a dizer e, por conseguinte, realmente competente para abordar temas e figuras de genuína relevância histórica e política como Fidel ou a Revolução cubana assim como para, por outro lado, falar de alterações climáticas e das trágicas consequências a todos os níveis para o curto prazo da nossa futuridade global comum não se percebe, de facto, por que exactos motivos e [falta de] razões, se lembrou o "D.N." de, de repente, ir buscar Soares à dourada reforma das várias coisas que não vale a pena referir aqui e que constituem o que chama a sua "carreira de estadista", para debitar meia dúzia de banalidades que estamos todos, aliás, fartos de ouvir, ditas, de resto, de um modo bem mais estimulante e, por isso, bem mais inspirador e mobilizador por quem sabe verdadeiramente aquilo de que está a falar e por que o faz.

Claro que cada um é obviamente livre de pegar em meia dúzia de lugares comuns, ideias e frases, colar tudo e pespegar tudo num jornal que se disponha a aceitar o resultado da "tarefa".

Alguém devia, porém, ter o cuidado e, sobretudo, o escrúpulo intelectual de relativizar complementarmente, em nome do rigor científico e da premente necessidade de esclarecimento das sociedades, designadamente da portuguesa relativamente ao tema ingente da ecologia, explicando-lhe que tremores de terra e marés negras não são, de modo algum, realidades da mesma natureza e envolvendo exactamente o mesmo tipo de responsabilidade ambiental e cívica o mesmo sucedendo, aliás, com a actividade vulcânica e os incêndios florestais, para dar apenas outro exemplo.

Ou seja, em síntese: cada um produz as "análises" que entender e, sobretudo, aquelas que estão ao alcance dos seus conhecimentos e da sua inteligência.

Cada jornal, cada classe política e até cada sociedade entroniza quem quer [e quem ela merece e a merece] e faz os ídolos que entender e que a dimensão da sua responsabilidade histórica e política justifica.

Mas, por amor de Deus, quando qualquer dessas entidades quiser "brincar às ideias" e "aos proselitismos" que vá fazê-lo para onde a sua falta de substância técnica e científica não lance a confusão, não aumente ainda mais os equívocos e não crie ainda mais ameaças ao já bem ameaçado futuro de todos nós!

Não havendo dimensão nem competência, que haja [ao menos algum!] pudor, não?!...


[Imagem "gentilmente cedida" por drzeus-dot-best-dot-vwh-dot-net]

2 comentários:

samuel disse...

Algum pudor?! Por parte de Soares?!
Seria uma grande ideia... mas mais vale esperar sentado. :-)

Abraço.

Carlos Machado Acabado disse...

Amigo Samuel!
Que bom vê-lo por cá!
Quanto "àquilo", Amigo, já se têm visto coisas piores, é verdade, mas realmente...
Eh!Eh!Eh!

Um abraço!
Volte sempre!