sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Morreu o Zé Torres"


Foi, desde o início, um mal-amado.

Sucessor do grande Zé Águas no eixo do ataque do Benfica, nada tinha a ver com a elegância rica em técnica do seu antecessor com o qual foi, porém, sempre exaustivamente comparado.

Em resultado da injustiça que é sempre comparar seres humanos, sejam eles futebolistas ou outra coisa qualquer, ao "bom gigante" couberam sempre apodos e alcunhas que visando apequená-lo acabaram por se inscrever no inconsciente colectivo do benfiquismo como outros tantos sinais de carinho, ternura e, "last but not least", mais do que merecido reconhecimento.

Por um desses apodos era conhecido lá em casa---onde toda a gente era---"como toda a gente", afinal...---'do Benfica'.

Era o "Canadá Dry", um refrigerante que, na altura, se distinguia dos restantes pelas garrafas altas e esguias com que se apresentava no mercado...

Se "não era o Águas" a jogar, nem por isso o Zé Torres foi o "tosco" que muita gente, iludida pelo seu estilo desengonçado, efectivamente pouco elegante, nada "canónico" e até um pouco trapalhão [o que estava, todavia, longe de significar «pouco eficaz»...] e pela sua altura, acreditou, sobretudo a princípio, que fosse.

Vi-o, por exemplo, jogar a defesa-central de recurso e, no "tempo do" Germano e da "defesa do Germano"... jogar bem.

Mas era, obviamente, como avançado-centro goleador, no eixo da "orquestra vermelha" onde brilhavam o Zé Augusto, o Eusébio, o Coluna e o Simões e que representou, do meu ponto de vista pessoal, o apogeu competitivo do Clube e até do futebol nacional, que o bom do Zé Torres ganhou o direito a figurar entre os "imortais" da "benfiquicidade"; foi, com efeito, aí, dizia, que o Torres se distinguiu---e de que maneira!---e acabaria por ganhar, no coração por razões óbvias, sobretudo dos benfiquistas o lugar de honra que ninguém ou coisa alguma lhe poderá, alguma vez, voltar a tirar.

Morreu ontem, com 71 anos, no término de uma longa doença que não soube fazer justiça à sua reputada jovialidade e, muito em particular, ao seu imenso coração.


É definitivamente um dos que nunca esquecerei!

4 comentários:

São disse...

Que repouse, finalmente, em paz!
Sou sportinguista, mas sempre respeitei Torres, principalmente pelo meritório terceiro lugar da Selecção.

Bom final de semana.

Carlos Machado Acabado disse...

Preencheu juntamente com homens como o Coluna, o Águas, o Zé Pereira, o Barrigana, o Ângelo, o Cavém, o Fernando e o José Caiado, o Hernâni, o Carlos Gomes e tantos outros, independentemente dos clubes que representaram, parte significativa do meu facilmente... 'inflamável', imaginário infantil.
Tem um lugar de honra numa saudosa [e desgraçadamente irrecuperável!] galeria de "heróis" constituída daquele modo apaixonado e 'total' que apenas as paixões infantis e adolescentes conseguem ter...
Com ele, morre [mais] uma parte significativa de uma idade da inocência pessoal, de resto, já em grande parte consumida ao longo da cada vez mais curto "caminho de Santiago" sem... Santiago algum que é, afinal, a vida!...
Um beijinho Amigo, também, São!

samuel disse...

Boa malha!
Volto sempre aos meus rebuçados de tostão com os bonecos da bola enrolados. Como eu gostava de ainda ter aquela caderneta!

Abraço.

Carlos Machado Acabado disse...

E, além de todas essas coisas que não se medem ao pataco, agora valia, se calhar, um dinheirão...
O que nestes "sucáticos" tempos de "patacocracia militante" é algo que tem sempre de ser considerado...
Um valente e cordialíssimo abraço também!